Criança com deficiência no museu | #ArtesDeMariana

Você já encontrou alguma criança com deficiência em museus?

Infelizmente ainda não é frequente observarmos a presença delas nesses locais, mesmo que sejam uma opção de passeio para todas as idades. E, além disso, é comum que sejam ambientes com alguma acessibilidade.

No mês das crianças, o Cadeira Voadora traz dicas de viagem e lazer para elas, finalmente suprindo essa lacuna do blog.

Para o post de hoje, em que o assunto são os museus, contei com a colaboração da Denise Martins Ferreira, que vai nos falar sobre o amor de sua filha Mariana por estes locais com tanta história pra contar!

 

Criança com deficiência no museu: na foto, Mariana atrás de um monumento com a frase "Eu amo museu"

Mariana está feliz em mais um passeio pelo museu! [Todas as fotos pertencem ao acervo de Denise Martins]

#ArtesDeMariana

 

Primeiramente, para você conhecer bem a Mariana, preciso te contar que ela é super espontânea e desinibida. Está sempre dizendo coisas que fazem a gente pensar, ou rir, ou tudo ao mesmo tempo! Enquanto isso, acaba cativando as pessoas.

Mariana tem deficiência intelectual e mental, é estudante, tem muitos talentos e aprecia como ninguém as manifestações artísticas. 

Ela acaba de completar 37 anos, mas a idade cronológica não reflete a idade com a qual se sente. Isso às vezes causa problemas, já que algumas atividades de lazer têm restrição de idade. Por isso, Denise vive precisando negociar a participação da filha.

Porém, esse desafio não está presente nas visitas aos museus, que, aliás, são muito queridos de Mariana. Ah, então você pode imaginar como ela reagiu quando ficou sabendo que eles estavam reabrindo… Após a longa temporada em quarentena, eis que Mariana ouve na TV esta feliz notícia.

É Denise quem conta! A partir deste ponto, ela fica com vocês!

 

Mariana sente falta dos museus

 

Por Denise Martins Ferreira*

 

A televisão ligada, ouvimos: “Os museus e  galerias de arte abrem neste sábado!”

Aqui em casa, Mariana, ao ouvir, grita: “Mãe, abriu! Vamos amanhã?”

“Não, Mariana, outro dia.”

“Domingo?”

Expliquei que havia a necessidade de agendar e fazer a reserva.

Retomou:

“Domingo?”

“OK.”

 

Colagem de fotos de Mariana no museu

Colagem de fotos mostrando Mariana no museu

 

Atenção a cada obra

 

Mariana e eu conhecemos a maioria dos museus em Belo Horizonte, provavelmente todos. E, com certeza, fui movida por ela, que acompanha as trocas de exposições e programa todas as visitas.

Como tem um gosto imenso pelas mais diversas manifestações artísticas, adora parar em frente a cada obra, observar, interagir, se assim for possível, questionar e comentar.

Enfim, vibra com cada possibilidade de visita a um museu.

 

Um dia ficou marcado…

 

Aconteceu uma exposição na Casa Fiat de Cultura, em que havia a possibilidade de pessoas com deficiência visual tocarem as esculturas expostas.

Os monitores recebiam as pessoas e, com luvas, as levavam até cada obra. Os visitantes, então, podiam tocá-las e ler as notas em Braille. Enfim: acessibilidade!

Mariana ficou atenta, encantada com a possibilidade de tocar a obra. Em seguida, me perguntou por que o rapaz podia tocar a escultura. Expliquei, e assim ela manifestou ter entendido e aprendido. Às vezes, lembra-se da cena e a refaz.

Infelizmente, foi uma cena rara. Nunca mais vimos essa interação por aqui, em que o visitante com deficiência visual pudesse tocar a obra. Já vimos com maquetes, mas tocar na obra, não.

 

Mariana sempre bem recebida

 

Ao fazer o relato sobre a notícia da reabertura dos museus, que, para Mariana, foi manchete jornalística, acabei me remetendo a pelo menos duas acessibilidades: a atitudinal e a comunicacional.

Certamente, as duas são fundamentais em um equipamento cultural como um museu.

Mariana sempre foi muito bem recebida nos museus que frequenta. Aliás, é figura conhecida, que marca presença.

Cumprimenta cada um dos funcionários pelo nome, após ler o crachá. Se este não existe, ela pergunta o nome, e então se apresenta e me apresenta. Caso já conheça a pessoa, manifesta alegria pelo reencontro e diz: “Está sumida!”.

É fundamental que todas as pessoas com deficiência tenham acesso pleno aos museus. Infelizmente, porém, não os vejo com frequência em um espaço como este, que nos traz tantas vivências agradáveis, descobertas e estímulos os mais diversos.

 

Clique para acompanhar Mariana em uma exposição interativa!

 

Conclusão

*Denise Martins Ferreira é psicóloga e ativista em defesa de direitos da pessoa com deficiência, doenças raras e epilepsia.

Considero admirável que ela providencie para estar com Mariana nas atividades artísticas e de lazer de interesse da filha. Como resultado, Mariana, é claro, tem cada vez mais sensibilidade para as artes, que, sem nenhuma dúvida, colaboram para seu desenvolvimento.

Fico torcendo para que adultos e crianças com deficiência possam estar mais presentes nas atividades culturais da cidade, especialmente em museus.

Em primeiro lugar, porque, como destacou Denise, esta é uma oportunidade de ter experiências agradáveis, descobertas e estímulos. Nada melhor que uma atividade assim para uma criança com deficiência, concorda?

Em segundo lugar, porque cada pessoa com deficiência que ganha as ruas torna mais visível a urgência de que a acessibilidade seja, de fato, uma realidade. Para ontem!

Grata, Denise, por participar!

 

Para saber mais

Que tal ler o primeiro post da série #MêsDaCriança, com lazer para crianças com deficiência? Nele, eu falo sobre brinquedos inclusivos, mais precisamente sobre balanço e skate!

Em Belo Horizonte, há muitos museus que trazem “interessâncias” para os pequenos. Alguns deles são:

Museu das Minas e do Metal

Centro Cultural Banco do Brasil

Memorial Minas Gerais Vale

Espaço do Conhecimento UFMG

Inhotim [fica em Brumadinho, distante cerca de 60km de Belo Horizonte]

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

2 Comments

  1. Gostei muito desta matéria e da Mariana também.

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