Pousada acessível em Tiradentes, MG

Uma das maiores dificuldades na organização da nossa viagem para Tiradentes foi encontrar pousada acessível. Para ser honesta, quase desistimos por causa disso, afinal as realmente acessíveis tinham as tarifas muito altas. Aqui, te conto como “resolvemos” a situação! Se prepare, este post registra uma verdadeira saga! rs

Obs.: As fotos pertencem ao meu acervo e só podem ser utilizadas com autorização.

 

Laura usa sua cadeira de rodas, mas, na frente, acoplou um roda extra, que se chama Freewheel. Ela eleva as rodas dianteiras da cadeira, fazendo com que a circulação em pisos difíceis seja facilitada

No Largo das Forras, com minha linda capa de chuva [foto: Marta Alencar]

Encontrando pousada acessível

 

Era minha segunda ida a Tiradentes, onde havia estado há mais de duas décadas, quando ainda usava muletas e órtese. Na época, conseguimos nos virar melhor para conseguir hospedagem, por causa do meio de locomoção. Por outro lado, a dificuldade para circular pela cidade não foi menor que agora, ou, talvez, tenha sido até pior.

Retornei agora, em setembro de 2019, acompanhada da amiga Marta Alencar, com a finalidade de investigar até onde a acessibilidade havia avançado nessa cidade histórica.

Se ainda não leu o outro post a respeito, basta clicar aqui.

Neste, o assunto é hospedagem! Vem comigo!

[Post atualizado em 19/9/2020]

 

Trabalho para Sherlock Holmes?

 

Por pouco não desistimos da viagem, porque a data possível para nós estava se aproximando, e nada de encontrar uma hospedagem que tivesse, ao mesmo tempo, acessibilidade arquitetônica e custo médio.

Nos hotéis mais caros, tudo indicava que havia instalações adequadas, mas os valores estavam acima das possibilidades do momento.

 

Pra você ter uma ideia, já fiquei em hotel maravilhoso fora do país por um valor similar ao de uma pousada nas cidades históricas mineiras. Qual é a lógica disso, pessoal? Alguém me conte!

 

Procurei em inúmeros sites e blogs de cadeirantes, entretanto não encontrei nenhuma informação sobre acessibilidade em Tiradentes, o que, vamos combinar, não era um bom sinal.

 

Sites de busca de hotéis

 

Nos sites de buscas de hotéis, alguns estabelecimentos ostentavam a informação de que ofereciam acessibilidade. Porém, quando eu entrava em contato por telefone, acabava descobrindo que a única coisa de fato acessível era a entrada, e somente porque não havia degraus.

 

O ideal seria que sites do tipo Booking ou AirBnb tivessem um formulário detalhado e objetivo para ser preenchido pelos estabelecimentos. Muitas vezes, as informações sobre acessibilidade são superficiais e equivocadas, isso quando existem. Então, evite confiar cegamente nelas. Prefira entrar em contato com o proprietário para se certificar dos detalhes que sejam importantes para você.

 

 

Meu método de investigação

 

Para começar, preciso dizer que faço até planilha com as anotações que vou obtendo sobre as hospedagens, antes de me decidir.

Logo que consigo algumas indicações, telefono para o local e pergunto objetivamente se dispõem dos itens de que preciso. Quando é um hotel estrangeiro, encaminho e-mail.

Para meu conforto e segurança, checo estes itens: entrada sem degraus, nenhum desnível para acessar o restaurante, área de giro no quarto, largura das portas e se a pia do banheiro permite aproximação frontal.

Também pergunto sobre a área de banho: se tem cadeira, ou banqueta, ou um tamborete onde eu possa me assentar. Se tiver fechamento com vidro, peço para medirem a abertura.

É muito coisa para conferir, concorda? E mesmo assim ainda podemos ter surpresas desagradáveis ao chegar no local… Foi o que aconteceu comigo em Tiradentes.

 

A saga da pousada

 

Criança observa algo usando uma lupa bem grandeSe você não está com paciência para ouvir história, siga para o próximo item, quando falo da Pousada… rs

Em um dos locais para onde liguei, em Tiradentes, o atendente confirmou que tinha acessibilidade. Mas, já nas primeiras perguntas que fiz a respeito, descobri que não havia nenhum tipo de assento de banho que a pousada pudesse fornecer, e o vidro do boxe tinha abertura de apenas 45cm. Ou seja, lá eu não teria como tomar banho…

Em outro local, o rapaz foi super gentil e fotografou o banheiro todo, incluindo pia e fechamento da área de banho. Mas meu olho é treinado, por isso observei que havia uma prateleira embaixo da pia. Porém, ele garantiu que a dita cuja poderia ser removida.

Mesmo assim, não fiz a reserva. Preferi pensar até o dia seguinte, para poder pesquisar um pouco mais. E foi então que, numa busca pela internet, encontrei uma foto mostrando que essa pia tinha um degrau. É isso mesmo que você leu: uma pia com degrau.

Antes de desistir, resolvi ligar para mais um local, cujas informações no Booking indicavam acessibilidade.

 

Detalhes tão pequenos…

 

Uma cooperativa funcionária me atendeu ao telefone, quando liguei para confirmar as informações do Booking (veja o print de tela abaixo). Primeiramente, me explicou que havia dois quartos no térreo que talvez fossem adequados, embora não fossem de fato acessíveis.

Gentilmente, fotografou cama, entrada do banheiro, abertura do boxe, pia e me encaminhou tudo pelo Whatsapp. Além disso, disse que poderiam providenciar banqueta de plástico para o banho. Bem, considerando diversos outros fatores, decidimos que assim estava razoável, embora a pousada, de fato, não tivesse como ser classificada como acessível.

 

No Booking, a informação era de que a pousada tinha acessibilidade (print de tela feito por mim)

 

Puxa vida, Booking…

 

Chegando lá, constatamos que as informações da funcionária estavam corretas. Contudo, foi triste observar “detalhes” importantes para um cadeirante, que poderiam até mesmo inviabilizar a permanência de alguns de nós.

Eu teria de subir um degrau de cerca de 4cm para entrar no quarto, acredita? Essa é a pousada que o Booking declarou ser acessível para cadeiras de rodas. Mas não para por aí, pois teria que descer outro da mesma altura para acessar o banheiro.

Então, entrei no banheiro para checar tudo, e aí sim fiquei arrasada. Para terem uma ideia, a pia era tão alta, que eu quase não alcançava a torneira. Então, pasmem, eu teria de lavar o rosto com uma toalhinha e escovar os dentes usando um copo e cuspindo o líquido no vaso sanitário.

Me desculpem, sinceramente, pelos detalhes pouco elegantes, mas penso ser preciso deixar bem claro, para evitar que mais alguém tenha que passar por isso…

Agora, sim, vou falar da acessibilidade na pousada…

 

Pousada Solar da Serra

 

Lobby amplo, com espaço para circulação da cadeira de rodas

Bem, após essa triste introdução, vou falar bem da pousada.

Certamente, dependendo da sua deficiência, pode ser que os problemas não sejam tão problemáticos assim…

A Solar da Serra é linda, o café da manhã é maravilhoso, a vista é encantadora, e os funcionários são super prestativos. Só é preciso considerar que não há acessibilidade de fato.

Tendo isso em vista, pedi que retirassem a informação do Booking, o que foi feito prontamente.

Após o retorno para minha cidade, ainda encaminhei à pousada um e-mail relatando os problemas que enfrentei. Também sugeri algumas mudanças. Infelizmente, não houve resposta.

 

Detalhes da acessibilidade

 

A seguir, compartilho fotos mostrando pontos positivos e outros nem tanto. Após isso, falo da pousada que descobrimos no último dia de passeio e que tem mais condições de acesso, embora seja bem mais simples.

 

Eu alcançava praticamente todos os itens do café da manhã, que era fabuloso. [foto: Marta Alencar]

Tina Descolada com a minha Mérida, aproveitando o sol na piscina do hotel [foto: Marta Alencar]

Banheira de hidromassagem no quarto, com altura de cerca de 45cm. Consegui entrar sem dificuldade. Sair foi mais difícil, porque não tem barras.

 

Os grandes desafios

 

Esta foto foi tirada do lado de dentro do banheiro, mostrando o degrau que era necessário subir para acessar o quarto.

Imagina ter que ultrapassar esse obstáculo todas as vezes que precisar utilizar o banheiro? Considere não somente usar o vaso sanitário, mas tomar banho, escovar dentes, lavar as mãos, etc.

Facilitaria muito se a soleira fosse substituída por uma inclinada, como uma rampinha, não é mesmo?

 

 

 

Agora, observe o vaso sanitário.

Não há barras de segurança, nem espaço para aproximação lateral para transferência. Além disso, note que, como ele está, o acesso é difícil também para outras pessoas, não somente para quem usa cadeira de rodas.

Penso que a situação seria fácil de resolver, se o fechamento do box fosse retirado.

 

 

 

 

O blindex se abre o suficiente para a transferência da cadeira de rodas para uma cadeira de banho, que, por sinal, eles não têm.

A lixeira saiu na foto por descuido meu.

Ela estava me atrapalhando de fazer a transferência para o vaso sanitário, então a coloquei na área de banho e esqueci de tirar quando fotografei. rs

 

 

 

 

 

Considerando-se as minhas condições, esta foi a pior parte: a altura da pia. Observe que meu queixo está na altura da borda da cuba.

Não dá nem pra recolher a água com as mãos. Gente, em nenhuma viagem encontrei uma pia tão alta, em nenhum lugar do mundo.

Ainda bem que só ficamos três dias, porque foi desconfortável demais.

 

 

 

Dito isso, minha conclusão é a seguinte: a pousada é encantadora, mas só me parece adequada se a pessoa não for cadeirante, ou se, pelo menos, conseguir ficar de pé, mesmo que só para escovar os dentes. = (

 

Casa de Violeta

 

No último dia de viagem, passamos casualmente em frente à Casa de Violeta, uma pousada no centro histórico. Então, decidimos descer para checar a acessibilidade.

Antecipando a conclusão, ela foi a melhor hospedagem com alguma acessibilidade e com custo médio que encontramos na cidade.

 

Acessibilidade

 

 

Infelizmente, não nos lembramos de checar o estacionamento, mas já preciso te deixar um alerta. Entrando a pé, e não de carro, o piso não é simples, porque é pedra e gramado.

Circulei sem dificuldade usando a roda Freewheel, mas sem ela eu precisaria de ajuda.

A pousada tem uma entrada sem degrau, por uma porta lateral.

 

Quarto e banheiro

 

O quarto para cadeirantes tem boa área de giro e armário de roupas com cabides ao nosso alcance.

Além disso, a porta do banheiro tem vão livre de cerca de 70cm, a pia está em altura adequada (cerca de 75cm) e permite aproximação frontal.

Quanto ao vaso sanitário, felizmente não tem a famigerada abertura frontal e permite aproximação lateral, então a gente pode usá-lo sem riscos.

Na área do boxe, a abertura é larga o suficiente para fazer transferência da cadeira de rodas para a cadeira de banho ou banqueta (cerca de 70cm de abertura). Eles ainda não fornecem cadeira de banho, mas aproveitei para deixar esta sugestão. A proprietária Solange, que me atendeu, foi extremamente receptiva.

 

Áreas comuns

 

Há condições de acesso ao salão onde as refeições são servidas. Por outro lado, há realmente pouca área de circulação entre as mesas.

Na minha avaliação, a pousada é bastante razoável. Pelas fotos, acredito que seja possível avaliar se as condições atendem a você.

 

Do quarto para o banheiro, nenhum desnível

O boxe tem um ressalto que pode dificultar o acesso de alguns cadeirantes.

Vaso permite aproximação lateral e não tem abertura frontal.

 

A cama é de casal, mas pode ser colocada mais uma de solteiro.

Sendo assim, considero que esta pousada, especialmente se as sugestões forem consideradas, estará em condições de atender uma boa parcela dos cadeirantes.

 

Considerações finais

 

Não posso finalizar sem te lembrar que não sou arquiteta e, portanto, não estou fazendo avaliação técnica de acessibilidade

Não carrego trena, mas a longa vivência como cadeirante me permite saber as alturas e larguras apenas com um passar de olhos.

Peço-lhe que leve tudo isso em consideração antes de se decidir. Se necessário, ligue para as pousadas, peça mais informações e até mais fotos, para que possa ter a segurança de que necessita, combinado?

Por fim, não deixe de ler os outros posts sobre acessibilidade em Tiradentes! Os links estão abaixo!

 

Para saber mais:

 

Posts sobre Tiradentes neste blog

Tiradentes na Viagem e Turismo

 

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

4 Comments

  1. Adorei seu triciclo!
    Mto legal a matéria sobre a acessibilidade de Tiradentes-MG e a pousada Casa de Violeta!!
    Obrigada!

  2. gostaria de receber fotos da suíte acessível é saber se das últimas fotos tiradas fizeram mais algumas melhorias

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