Londres tem transporte público acessível de verdade, conforme Tanvi mostra, em vídeo produzido pela Transport for London. Este é o print de uma das cenas.
Transporte público acessível é fundamental, e não apenas para pessoas que têm alguma deficiência. A verdade é que todos se beneficiam dele.
Nas cidades mais desenvolvidas do mundo, ao contrário do que muita gente pensa, não há um carro para cada pessoa, porque essa prática não é sustentável. Há, sim, transporte público de qualidade para todos.
O que o futuro reserva para nós?
Antes de começar nossa conversa sobre o transporte em Londres, gostaria de lhe propor uma reflexão: sem acessibilidade, o futuro do planeta corre risco.
Como sabemos, nos países desenvolvidos a população do futuro será idosa. Isso ocorrerá por causa do aumento da expectativa de vida, assim como da diminuição da taxa de natalidade.
E em vários países (o Brasil é um deles), a população com deficiência ou com mobilidade reduzida também vem aumentando. Podemos apontar algumas causas para isso, entre as quais o aumento da taxa de acidentes de trânsito e da violência urbana em algumas cidades.
Tais situações, entre outras, indicam que cada vez mais necessitaremos de edifícios, transportes e muitos outros itens acessíveis para todos.
Yuriko Koike [Wikipédia]
As cidades estão se preparando?
Algumas cidades estão se preparando para acolher esse público, mas a maioria, não. Eu me pergunto: como irão resolver essa questão daqui a dez anos?
Em 2017, Yuriko Koike, governadora de Tóquio, afirmou que o sucesso nas Paralímpiadas de 2020 seria prioridade. Ela considerava que a preparação para a disputa teria um impacto positivo para lidar com o envelhecimento da população, pois a cidade se tornaria mais acessível. São palavras dela:
“Em Tóquio e no Japão nós temos uma sociedade que está envelhecendo, e está claro que haverá cada vez mais pessoas que deverão fazer uso de cadeiras de rodas e bengalas nos próximos anos. Se preparar para as Paralimpíadas é se preparar para o envelhecimento da população em Tóquio. O desafio de uma cidade cuja faixa etária está aumentando é um tema comum a todos os países desenvolvidos.”
Então, vamos ao nosso assunto principal. Quero compartilhar com vocês um exemplo de boa prática urbana: a linha de ônibus vermelha de um andar que opera em Londres.
Eu a utilizei inúmeras vezes, quando estive lá. Os veículos deslizam na pista como se fossem alados, tal a qualidade do asfalto e do próprio ônibus, que é da marca Volvo.
Além disso, os motoristas recebem treinamento rigoroso. Nunca presenciei uma freada brusca, para terem uma ideia.
Enfim, Londres!
Vamos ver o ônibus de Londres funcionando? Infelizmente, o vídeo não tem legenda em português, mas, pelas imagens, creio que dê pra compreender bastante.
Após assistirmos, farei alguns comentários sobre o equipamento e mais algumas reflexões, combinado?
Simplicidade
Tanvi nos oferece explicações sobre como o ônibus funciona. Experimentei algumas dessas funcionalidades, outras não.
O que é importante prestar atenção é que a rampa só é ejetada após as pessoas sem deficiência entrarem ou saírem. A porta é fechada novamente, e só então a pessoa com deficiência poderá embarcar ou desembarcar. Provavelmente, esta é uma medida de segurança.
Dentro do veículo, há um local para posicionar a cadeira de rodas, assim como um aviso alertando para que o espaço seja liberado em caso de entrada da pessoa com deficiência. No meu caso, bastou pedir licença, e todas as pessoas liberaram o espaço, sem dramas.
A grande vantagem desse sistema é a simplicidade. Ele pode ser operado pelo motorista sem que precise sair do lugar, é seguro e provavelmente dá muito menos defeito que um elevador.
Espero que o fato de saber que esse tipo de transporte existe possa nos trazer esperança em dias melhores, tendo ciência de que mudanças não vão cair do céu e será preciso lutar por elas.
Guile e eu utilizamos bastante os ônibus em Londres
Para finalizar…
Minha intenção, com este post, não é motivar o leitor a se mudar do país, mas nos ajudar a compreender a necessidade de lutar por um transporte melhor aqui mesmo.
Como? No mínimo, não votando em quem hoje não faz nada para melhorar a situação, que é crítica no Brasil. Com algumas exceções, não temos 100% da frota acessível nas grandes cidades. Quando há acessibilidade nos ônibus, na maioria dos casos um elevador está instalado.
No entanto, grande parte dos trocadores e motoristas não tem treinamento suficiente para operá-los, e acidentes acabam acontecendo. Além disso, esse tipo de equipamento apresenta defeito com frequência, ficando inoperante.
Ora, se uma pessoa sem deficiência não pode ficar sem transporte público, ou não pode conviver com atrasos na escola ou no trabalho, por qual razão uma pessoa com deficiência poderia ficar “plantada” no ponto, aguardando chegar um ônibus cujo elevador esteja funcionando?
Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.
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