Viagem marítima para cadeirantes | MSC Fantasia

Vamos acompanhar a Renata e o Marcos por uma viagem marítima que passa por um trecho da costa brasileira? O texto é dela e fala bastante sobre a acessibilidade do navio MSC Fantasia!

Três casais de cadeirantes em um roteiro marítimo muito especial

 

Quando descobri o Instagram da Renata Ruiz, fiquei feliz por encontrar uma pessoa que descreve tão bem os roteiros que realiza com o marido, que é cadeirante. Ela entrega os detalhes e sempre publica muitas fotos.

As preferências deles são diferentes das minhas, pois o casal ama camping e praia! Ou seja, estão garantidas informações sobre passeios que não têm sido alvo do Cadeira Voadora, como é o caso do camping. Esse tipo de passeio acaba sendo evitado por cadeirantes, por causa da falta de acessibilidade.

Por tudo isso, convidei a moça a nos presentear com uma narrativa sobre a viagem marítima que eles fizeram recentemente. Então, bora conferir? A palavra agora é dela!

 

Viagem marítima: planejando com antecedência

 

Texto de Renata Ruiz*

 

Realizar um cruzeiro estava na nossa lista de desejos há algum tempo. E a vontade veio forte, após, por acaso, encontrar uma promoção da MSC oferecendo segundo passageiro grátis (paga somente as taxas). O total pago pelo casal foi de R$ 2.800,00, já com as taxas, parcelado em 10 vezes, para viajar no MSC Fantasia.

O roteiro era de três noites saindo do Rio de Janeiro, com paradas em Ilha Grande e Ilha Bela e desembarque no Rio de Janeiro.

Faltava um ano para o embarque, porém essa antecedência foi importantíssima. Por causa dela, conseguimos uma cabine com acessibilidade na categoria com menor custo e ainda ganhamos um upgrade, passando da cabine interna para externa com janela.

Esse tipo de promoção é comum quando abrem as vendas da temporada seguinte. Cabines com acessibilidade existem em todas as categorias oferecidas, mas, conforme vai se aproximando a data do embarque, acabam as promoções e sobram somente as cabines mais caras.

Um cadeirante não tem condições de usar o banheiro da cabine regular, pois a entrada é estreita e o banheiro muito pequeno. Então, programe-se com bastante antecedência.

 

Refeições

 

Fevereiro de 2019, finalmente o grande dia chegara!

Estávamos em um grupo grande, incluindo três amigos cadeirantes. Teve muito atraso no embarque devido a uma inspeção da Anvisa. Nós, devido à prioridade, não tivemos problemas, porém teve gente que ficou 4 horas em pé para conseguir embarcar. Dizem que normalmente não é assim, mas não sei dizer.

Vou focar meu relato na acessibilidade, pois muitos já sabem o quanto é divertido estar em um cruzeiro. Afinal, tem entretenimento o tempo todo, em vários ambientes e para todas as idades. Bandas, DJ, animadores, teatro, bingo, cassino, shopping, etc.

A comida pode decepcionar alguns, pois, por mais que você esteja em um restaurante luxuoso, a cozinha é de produção de larga escala, para 4 mil pessoas.

Comi pratos deliciosos e outros ruins, mas nada que me aborrecesse.

Tinha os restaurantes à la carte, disponíveis nas horas determinadas, e o buffet livre até as três da manhã. As bebidas não estão incluídas no pacote. No navio, oferecem o pacote de bebida liberada ou compra avulsa das bebidas.

 

Acessibilidade

 

Voltemos à acessibilidade!

O embarque é preferencial, porém tem muito idoso também, então não é tão rápido assim. O acesso para o navio se dá através de rampa, sem dificuldades.

A parte interna do navio é toda acarpetada. Para quem usa cadeira de rodas pode ser um pouco cansativo, pois fica mais pesado para tocar a cadeira. Mais uma vez a roda Firefly nos salvou.

Quem tem dificuldade de caminhar se prepare: o navio é imenso, percorrem-se grandes distâncias o tempo todo! Há cadeiras de rodas para empréstimos, porém manuais. Não sei se eles oferecem aluguel de scooter, mas não vi nenhuma por lá.

 

Quarto e banheiro

 

O navio tem 16 andares. Há várias baterias de elevadores, mas em alguns momentos todos ficam lotados, então a espera pode ser grande.

A suíte era acessível, com o quarto e banheiro amplos. Havia banquinho retrátil no chuveiro, mas tinha o cano do chuveiro bem atrás, o que atrapalhava para apoiar as costas. O sanitário não era muito confortável para quem não tem equilíbrio de tronco, pois era muito estreito e não dava para encostar.

[Passe o ponteiro do mouse sobre as imagens para ver as legendas. E clique nelas para ampliar!]

 

 

Piscinas e buffet

 

No buffet tinha mesa reservada para cadeirantes, e havia espreguiçadeiras em uma área da piscina. O acesso à piscina era sem obstáculos até a borda, porém não havia nenhuma facilidade para o acesso. O jeito era sentar no chão e se jogar mesmo. E, pra voltar, haja braço.

Havia várias jacuzzis, mas todas com escadas. Havia uma que tinha rampa, mas terminava em três degraus. Ou seja: não há acessibilidade na hidromassagem.

Uma observação: nos navios da Royal Caribean, que infelizmente não opera na costa brasileira, as piscinas e jacuzzis possuem cadeiras elevatórias de acessibilidade.

 

Paradas

 

Nas paradas do navio, o acesso à lancha que leva até o píer era feito através de escada. Os funcionários carregam no braço o cadeirante até o barco. Lá dentro é bem espaçoso e há espaço para ficar na própria cadeira.

 

Marcos & cia já instalados na lancha. Observe o espaço para o cadeirante.

 

 

Valeu a pena?

 

Não descemos em Ilha Grande, somente em Ilha Bela, que é bem bonitinha e acessível, com um calçadão margeando a orla com bom calçamento e rampas. Porém foi um passeio breve, pois queríamos voltar para o navio para aproveitar o máximo que ele oferecia.

O cruzeiro atendeu minhas expectativas. Apesar dos pontos negativos que relatei, a experiência foi maravilhosa. Passamos dias inesquecíveis, por isso recomendo!

 

Amplos espaços no MSC Fantasy

Três degraus para atingir a rampa

Jacuzzis com escadas

Vamos festejar!

 

[Nota: Todas as fotos pertencem ao acervo da autora do post.]

 

Renata Ruiz

 

Renata Ruiz é casada com Marcos há 7 anos e têm um filho chamado Lucas, de 5 anos.

Gostam muito de viajar e acampar, porém o processo de reserva e elaboração do roteiro sempre foi muito trabalhoso devido às dificuldades de acessibilidade.

Mesmo assim, eles têm uma lista extensa de experiências: Europa, EUA e grande parte do Brasil.

Em 2018, Renata resolveu criar uma página no Facebook só para compartilhar com os amigos algumas experiências turísticas, e assim, quem sabe, facilitar e encorajar a todos que desejam desfrutar do prazer que é viajar.

Assim nasceu a página Viajando e acampando – Nós e a cadeira! Conheça!

 

 

Para saber mais:

Tem outro post sobre viagem marítima aqui no blog! É um texto da Ida Célia Palermo, cadeirante/muletante, contando suas experiências e dando muitas dicas! Clique aqui para ler.

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

5 Comments

  1. Tenho uma dúvida grande..sempre tento cabines acessíveis quando tem promoção e não existe. Para ter acessibilidade, apenas fora da promoção. Você sabe me dizer se isso é ilegal? Pois só consigo promoção se eu não for cadeirante (pois eles dizem que não pode escolher a cabine na promoção). Estou bem chateada.

    • Ei, Debora! Estou pesquisando para responder sua pergunta, ok? Já, já, colocarei a resposta aqui.
      Abraço!

    • Ei, Débora! Em primeiro lugar, peço desculpas pela demora para responder. Mas agora vamos lá!

      Consultei Roberta Leroy, da Leroy Viagens, que me ajudou com boa vontade e competência em minhas últimas viagens. Por sua vez, ela consultou uma representante de cruzeiros nacionais e internacionais, que já a atende.

      Segundo esta representante, o que pode estar acontecendo é que, quando acontecem promoções, as cabines acessíveis se esgotam muito rapidamente. Isso porque, em um navio, existem no máximo 10 cabines desse tipo, ou seja, um número MUITO abaixo da demanda.

      Para saber se é ilegal ou não, sugiro consultar as leis relacionadas e/ou advogada(o) especializada(o) em direito das pessoas com deficiência. A lei determina que 5% dos quartos deve ser acessível, mas ainda não sei se essas regras se aplicam aos navios. Além disso, é importante atentar para o detalhamento da legislação.

      São estas as leis:

      https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-11.303-de-22-de-dezembro-de-2022-453260382
      https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2018/decreto-9296-1-marco-2018-786225-publicacaooriginal-154945-pe.html

      Farei um post no Instagram, aproveitando sua pergunta, e lançarei a questão para os advogados, ok?

      Mas, desde já, busque se informar sobre a data em que serão abertas as próximas vendas de pacotes de cruzeiros, para garantir sua oportunidade! Estou na torcida!

  2. Eu conheço a Renata e o Marcos e embora eu utilize muletas, fiquei mais empolgada em realizar o cruzeiro depois do relato que ela fez. Parabéns ao casal!!

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