“Violet Evergarden” e o aprendizado da empatia e da autonomia

A dica Netflix da vez é a série de anime “Violet Evergarden”, que tem 13 capítulos e é encantadora.

Neste post, te conto sobre esta história tocante de uma garota que foi treinada para matar e cresceu como arma de guerra. Mas a vida sempre vem e muda tudo, e cabe a cada um decidir o que fazer com o que sobrou. Foi o que aconteceu com ela…

Vem comigo para saber mais?

 

Na imagem, a personagem Violet Evergarden aparece de perfil

 

Violet era quase um bicho

 

No início da narrativa, Violet está no hospital e se recupera de uma explosão que ocorreu durante a guerra. Na ocasião, ela perdeu os dois braços e agora usa modernas próteses. Neste ponto, já notamos que a série mistura realidade e ficção, pois, no momento retratado, aquela tecnologia não seria possível.

A garota, que tem 14 anos, vai trabalhar numa empresa de distribuição de correspondência. Porém, esse local oferece um serviço adicional, prestado por moças que receberam treinamento para redigir cartas. Dependendo da tradução, elas são chamadas de “bonecas de automemórias” ou “autômatas de memórias”.

As pessoas que procuram pelo serviço são desde indivíduos sem letramento até príncipes, princesas e soldados que não conseguem expressar seus sentimentos usando a escrita.

Porém, um detalhe muda tudo. Não basta que as moças dominem a gramática, pois precisam ter uma característica singular, que é a habilidade de interpretar os sentimentos que nem mesmo o contratante parece conhecer bem. Ou seja, sem empatia não era possível exercer a tarefa, pois uma carta é mais que um relatório…

E como será que Violet vai parar num trabalho desses, se ela não conseguia nem mesmo reconhecer os sentimentos?

 

 

Treinada para matar

 

Ao longo da narrativa, nas retrospectivas, ficamos sabendo que Violet Evergarden é órfã e foi treinada para exercer funções militares. Ela tem os reflexos incrivelmente rápidos, além de hábitos que adquiriu se escondendo e perseguindo pessoas para matar.

A garota foi dada de presente ao Major Gilbert Bougainvillea, para ser usada como arma de guerra. Nessa ocasião, ela não sabia ler, nem escrever, e nem mesmo tinha um nome.

Ele, que vem de família aristocrática, não somente lhe oferece o nome inspirado na flor (Violet). Além disso, lhe ensina a ler e escrever, proporciona calor humano e atenção de qualidade.

Com seu auxílio, Violet vai se transformando, mas ainda não sabe como agir quando não está recebendo ordens. Porém, como eu disse no início, vem a vida e muda tudo. A guerra tem fim, o Major morre, e ela, então, terá de aprender autonomia, ou seja, chegou o momento em que terá que responder por si mesma e pelas escolhas que fizer.

Deixará, então, de existir a Violet-bicho, que tinha os sentimentos anestesiados e agia por instinto. Aos poucos, vai nascer outra pessoa, a que deseja compreender os sentimentos e transcrevê-los nas cartas.

 

 

Seu corpo todo queimava

 

É tocante observar que Violet tinha inteligência ímpar, mas não conseguia perceber sentimentos, nem os seus, nem os alheios. E, evidentemente, isso a impede, a princípio, de exercer as funções de autômata, pois suas cartas mais pareciam relatórios. Sua escrita era fria e não era fiel aos sentimentos que os clientes desejavam transmitir.

Após passar por situações desafiadoras, ela começa a ver brotar dentro de si algumas sementes. As cenas são doídas para nós, que estamos, exatamente, experimentando a empatia, com a personagem e pela personagem.

É a partir deste ponto que ela vai se transformar em uma incrível e perspicaz profissional, assim como em um incrível ser humano. Finalmente, terá condições de entender seus traumas e dores, expressas na metáfora do corpo que queima. Mas terá condições de lidar com eles?

 

A escrita terapêutica

A série toca num ponto que os terapeutas costumam ressaltar, que é o papel da escrita como organizadora de sentimentos e emoções.

A história transcorre, dando lugar a bonitas cenas que falam de morte, perdas e frustrações,  que os clientes de Violet Evergarden narram e vivem. Ao mesmo tempo, vamos ficando conhecendo a história da implacável arma de guerra que se transforma em aprendiz dos sentimentos, da escuta atenta e da arte de construir pontes entre pessoas.

Assim, traumas e perdas vão sendo curados progressivamente, pela própria natureza dos fatos.

 

Somos todos Violet

 

Para os fãs de anime, talvez a série “Violet Evergarden” deixe a desejar no quesito ação. Embora haja cenas de guerra, são poucas, e, na maior parte do tempo, estamos observando o desenrolar das histórias pessoais.

O ritmo, por isso, é lento, embora não seja arrastado nem cansativo, pelo menos não para mim. Os desenhos são maravilhosos, assim como as cores, o que sem dúvida agradará aos que apreciam arte.

Os sentimentos contidos de Violet também colaboram para deixar o ritmo um pouco mais lento, mas isso muda, quando a personagem começa a mostrar seu brilho.

Enfim, ela não era um robô, como eu a princípio pensei, em razão dos problemas de tradução. No final das contas, cheguei à conclusão de que Violet é qualquer um de nós, em busca de cura para suas dores existenciais, de

Assistam, pois realmente vale a pena! Veja o trailler ao final do post!

 

 

Para saber mais:

 

Violet Evergarden e a importância das palavras

Violet Evergarden: emoções humanas através de cartas

Empatia: muito falada e pouco praticada

Outras resenhas de filme no blog Cadeira Voadora

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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