Santiago do Chile: Dicas de passeios para cadeirantes

Vamos passear de cadeira de rodas por Santiago, a interessante capital do Chile? Vem comigo!

 

Minha mãe me fotografando na Praça Baquedano

 

Santiago é uma cidade eclética, que cativa a muitos. Lá, encontramos uma parte histórica, com belos prédios de época mas também o registro de um passado doloroso ligado à ditadura, e uma região ultramoderna, com seus altos e imponentes edifícios.

Tem museus diversos e espaços culturais, belas praças e parques, ótimos restaurantes, noite animada e bons vinhos que podem ser degustados por um preço acessível. Difícil não gostar de uma cidade assim, não é mesmo?

E, se você der sorte e houver boa visibilidade nos dias em que estiver lá, poderá usufruir da presença majestosa da Cordilheira dos Andes, que ficará visível a partir de vários pontos da cidade.

Neste texto, vou te indicar alguns passeios possíveis para cadeirantes! Mas, antes de prosseguir, preciso te contar que tem um post antes deste, em que te dou um panorama dos lugares que visitamos no Chile, incluindo as vinícolas, e te passo a referência do motorista que contratamos. Estas informações você encontra aqui.

Dito isso, vamos em frente? Os passeios nos aguardam!

 

[Post publicado em 19/6/2017 e atualizado em 09/09/2020]

 

Andar sem rumo

 

Como em toda cidade que tem belas paisagens e construções interessantes, um bom jeito de passear é andar sem rumo. Dessa forma, a gente descobre cantinhos que não estão em nenhum guia turístico e ainda interage com os moradores. Adoro!

Do hotel onde ficamos (este aqui), era fácil chegar à bela Praça Baquedano, atravessar o Rio Mapocho e seguir rumo ao shopping Patio Bellavista, ao jardim zoológico e a La Chascona, uma das casas em que viveu o grande poeta Pablo Neruda.

Fizemos tudo isso a pé, e você pode repetir a façanha se a turma tiver bom preparo físico.

 

 

Ponte com cadeados perto da Praça Baquedano, sobre o Rio Mapocho. Na foto, estou entre meu irmão Ulysses e minha mãe, Lilia.

 

Da mesma forma, o hotel ficava bem perto da Rua José Victorino Lastarria, que tem excelentes bares e restaurantes.

Porém, a acessibilidade nessa região varia:

  • Os pontos de ônibus são cobertos e têm espaço vago para a cadeira de rodas.
  • O revestimento dos passeios, de modo geral, está em condições razoável para ruim, e muitos rebaixamentos estão quebrados.
  • Não achei fácil atravessar a avenida, porque nem sempre havia faixas de segurança, mas a verdade é que a gente acabou encontrando jeito.

Agora, vou detalhar cada ponto que visitamos nessa área.

 

Sabe a famosa escarrampa (rampa construída entre os degraus)? Pois veja nesta foto um exemplar, no Patio Bellavista. Mas a rampa não tem corrimãos e é muito estreita. Um risco e tanto, principalmente se considerarmos que no piso inferior só há bares…

 

Patio Bellavista

 

Já vi alguns cadeirantes elogiando este shopping e relatando que é acessível, porém você constatará que não é bem assim, infelizmente…

Trata-se de uma construção a céu aberto, que toma quase toda a quadra. Tem alguns restaurantes e lojas de souvenir, mas uma boa parte delas tem um pequeno degrau na entrada.

Para acessar o local, use as entradas laterais, que não têm degrau, ao contrário das demais. Como ele foi construído em vários níveis, na parte interna há algumas rampas para evitar as escadas. Mas, pasmem, há lojas localizadas nas laterais das escadas, portanto inacessíveis aos cadeirantes, a não ser que alguém suba os degraus com você.

 

Algumas lojas ficam na lateral das escadas. Subi com a ajuda de Ulysses, mas só para tirar esta foto.

 

Detalhes de acessibilidade no Patio

 

O Patio Bellavista foi construído em níveis. Este da foto é o andar no nível de uma das ruas laterais. Como você pode ver, há outro em cima.

 

Este é o piso superior, ao qual se tem acesso por rampa ou escada. Mas o shopping tem mais desníveis, alguns difíceis de alcançar, por conta das escadas. Observe: estas “lojas” (que estão mais para boxes) são fabricadas em metal, e todas desse tipo têm degrau. Bola fora!

 

Como Água Para Chocolate

 

Este restaurante fica ao lado do Patio Bellavista, na mesma quadra, e é muito querido dos turistas brasileiros, talvez por sua decoração inusitada, inspirada no filme de mesmo nome.

Nós não aguentamos a curiosidade e fomos conferir. De fato, é um ambiente bonito, e a comida estava gostosa, mas não acima da média. Os drinques também estavam bons.

Acessibilidade: Tem um degrau na entrada, o piso é irregular, e não tem banheiro acessível. Eu consegui usá-lo, mas somente porque minha cadeira de rodas tem 58cm de largura e tenho facilidade para fazer transferências. Então, não tome isso como parâmetro.

 

Calma, tem mesas no térreo… E é bonito, né?

 

Todos os pratos que pedimos estavam gostosos e bonitos.

 

 

La Chascona

 

La Chascona estava fechada. Mas vale fotografar do lado de fora, sob a placa com o símbolo do local.

La Chascona é uma das casas do famoso poeta Pablo Neruda (filme O carteiro e o poeta), as quais se transformaram em museus. As ruas que percorremos para chegar até lá rendem um passeio muito agradável.

A casa é totalmente inacessível para cadeirantes ou usuários de scooters e andadores. Talvez pessoas com muletas consigam entrar, mas não sei dizer, porque não entrei.

Nos limitamos a tirar algumas fotos do lado de fora, mesmo porque estava fechada, já que era dia 19 de abril, um feriado irrenunciable (leia aqui para saber o que é isso).

Mas não me arrependi de ter ido, pois sempre gosto de curtir a vibe dos lugares, mesmo que não seja possível entrar.

Deu pra tirar foto na parte externa, junto a um bonito muro grafitado…

 

 

 

Santiago não é Valparaíso, mas o povo também ama os grafites. Este é bem bonito e está no lado externo de La Chascona.

 

 

Jardim Zoológico

Também estava fechado, mas, pelo que soube, não tem acessibilidade, assim como o Cerro San Cristóbal, o que é realmente uma pena.

 

Barrio Lastarria

 

É a região que fica imediatamente em torno da Calle [Rua] Lastarria, a duas ou três quadras do hotel onde nos hospedamos. A rua principal rende um passeio delicioso a qualquer hora, e à noite está sempre movimentada, com gente alegre e bonita. Além disso, tem excelentes bares e restaurantes, alguns muito charmosos!

 

Bocanáriz

Taças trazem a identificação do vinho

Nosso preferido foi o Bocanáriz, um bar para os amantes de vinho. Imagine que a carta tem quase 400 bons rótulos! Pode-se pedir apenas uma taça (de dois tamanhos) ou a garrafa. O cardápio oferece poucos pratos, mas são caprichados e estavam deliciosos, além de vários tira-gostos, tudo harmonizando com os vinhos da casa.

Na base da sua taça, é colocado um disco de papel com a identificação do vinho e o ano da safra, o que achei muito criativo.

Não tem acessibilidade, mas, se você usa cadeira de rodas e ama vinhos, creio que pode valer a pena um esforço. É possível entrar com cadeira de rodas, porque a entrada tem somente um degrau baixo e fácil de transpor.

No interior, é possível encontrar espaço para passar com a cadeira até uma das mesas, desde que não esteja cheio demais. O atendimento varia, mas numa das noites fomos atendidos por Juan Pablo e Francisco, extremamente gentis, e fizeram questão de ajeitar um lugarzinho bacana para nós.

Ah, não vá sem reserva, para não correr risco de não poder entrar!

 

 

Centro da cidade

 

Estava chovendo no dia em que visitamos esta região, infelizmente. Mesmo assim, conseguimos andar um pouco pelas ruas, que abrigam um rico patrimônio histórico, shoppings e cafeterias diversas.

Lamentavelmente, muitos lugares não têm acessibilidade, incluindo restaurantes, farmácias e lojas que vendem chips para celular (precisei entrar em várias, porque o meu, comprado em Santiago, não funcionava…).

 

Palacio de la Moneda

 

O Palacio de la Moneda é a sede da presidência chilena e fica numa bonita praça, onde está a estátua do presidente deposto Salvador Allende. Vale a visita.

 

La Moneda sob chuva. Bonito, né?

 

Minha mãe e eu na praça do Palácio La Moneda, que, na minha opinião, ficou linda debaixo de chuva

 

Estou batendo um papo básico com Salvador Allende

 

Sky Costanera

Sem dúvida, há muita coisa pra falar sobre a torre mais alta da América do Sul! Por isso, dediquei um post exclusivamente a esse ponto turístico, e você pode clicar aqui para ler!

Para mim, um dos pontos altos da visita a Santiago!

 

 

 

Você vai querer voltar

 

Com uma pontinha de tristeza, combinada com saudades, finalizo aqui a série #CadeiraVoadoraNoChile.

Entretanto, faço isso também com muita gratidão à vida e aos meus companheiros de viagem, assim como a todas as pessoas que nos ajudaram nesta aventura, pois foi uma viagem fantástica!

Concordo totalmente com o que disse Ricardo Freire no site Viaje na Viagem, que eu sempre consulto:

“Se essa é a sua primeira vez, saiba que dificilmente será a última. O Chile é lindo e cativante – e tão cheio de atrações, que não dá para visitar tudo de uma vez só. A cada volta você vai precisar dar ao menos uma passadinha por Santiago, e com isso pode fazer algum programa que não tenha conseguido entrar na agenda da viagem de estreia.” Clique aqui para ler o texto inteiro.

 

É isso! Você vai querer voltar!

 

Ponto de ônibus com painel de campanha incentivando a leitura. Adorei! As frases sempre eram instigantes.

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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