Durante a semana me veio várias vezes à memória a garotinha arteira e esperta que trocou a cidade natal de Itabira pela capital Belo Horizonte para tratar da saúde.
Uma mielite transversa (rara inflamação da medula) causou o deslocamento urgente e fixou a família nesta nesta terra protegida por montanhas.
Aqui aprendi a viver, subindo e descendo ladeiras. Mas também admirando o belo horizonte, experimentando as cachoeiras dos arredores, inspirando o aroma dos nossos parques naturais. E, claro, ouvindo a música do Clube da Esquina:
“Porque se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, asso, asso”
(Clube da Esquina nº 2 – Milton Nascimento / Lô Borges / Márcio Borges)
Um pouco de maturidade
Passei por algumas “crises de idade”, apesar de nunca ter acreditado que isso existisse. Mas mudei de ideia, após sentir na pele que a vida exige de nós ao menos um pouco de maturidade, portanto não é sem razão que atravessamos as “noites escuras da alma”.
Pessoas mais íntimas presenciaram minhas metamorfoses. E um amigo querido chegou a escrever um livro inspirado nessa lagarta maluca que ninguém acreditava que se transformaria numa borboleta.
Acredito já ter passado da metade do trajeto da minha vida. Não tem nada de triste nisso, pelo contrário. Observo o caminho percorrido e me alegro. Me emociono. Me engrandeço. Sou grata.
“Qualquer maneira de amor vale o canto
Qualquer maneira me vale cantar”
(Paula e Bebeto – Milton & Caetano)
Gratidão
Sou grata aos meus pais e irmãos por não terem desistido de mim.
Sou grata aos mentores espirituais pelo amparo constante.
Pelos amigos queridos que habitam meu coração há décadas… Pelos amigos circunstanciais, que passaram como estrelas cadentes, mas deixaram seu legado. Pelos namorados, que atuaram como meu espelho, revelando meu outro lado e me auxiliando a ser uma pessoa melhor. Pelos professores que marcaram minha vida por causa do seu investimento em meu aprendizado. E pelos profissionais da área da saúde que cuidaram e cuidam de mim com carinho e zelo.
As escolhas desastradas que fiz, as pessoas que pisaram na bola – não são motivo para empanar o brilho da ocasião. Também sou grata a esses professores.
“Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver”
(Travessia – Nascimento & Brant – Voz: Zélia Duncan)
Ultimamente passo por mais uma metamorfose. Um novo ciclo se abre e dará lugar a uma nova borboleta.
Aguardo os novos voos, os novos aprendizados, os novos amigos, os novos trabalhos, um novo amor.
Sou realmente grata a todos vocês pela companhia/parceria nesta caminhada.
E quero finalizar este relato deixando como presente um poema que amo, escrito por um dos meus poetas preferidos, Carlos Drummond de Andrade, e musicado lindamente por Milton Nascimento (vídeo abaixo). Este texto sempre foi referência para mim, e hoje finalmente me vejo nele.
Canção amiga
Eu preparo uma canção
Em que minha mãe se reconheça
Todas as mães se reconheçam
E que fale como dois olhos
Caminho por uma rua
Que passa em muitos países
Se não me vêem, eu vejo
E saúdo velhos amigos
Eu distribuo segredos
Como quem ama ou sorri
No jeito mais natural
Dois caminhos se procuram
Minha vida, nossas vidas
Formam um só diamante
Aprendi novas palavras
E tornei outras mais belas
Eu preparo uma canção
Que faça acordar os homens
E adormecer as crianças
Eu preparo uma canção
Que faça acordar os homens
Com amor,
Laura Martins