Que a fotografia pode revelar o que a gente tem de melhor, disso eu nunca tive dúvida. Mas, se eu tivesse, ela teria acabado ontem, com as fotos que recebi de presente de uma fotógrafa que me propôs participar de um ensaio com mulheres chamadas Laura.
Imagino que não haja quem não deseje ser ou ficar bonito, seja lá o que isso signifique para cada um. E me parece improvável que exista gente realmente feia, ou sem nenhum atrativo. Isso é fácil de constatar quando a gente observa o mesmo ator em diferentes papéis: nossa visão de quanto ele é bonito pode variar dependendo do personagem que ele encarna. Porque beleza tem, sim, a ver com charme, elegância, carisma, sedução e muito mais.
Com a pessoa que tem uma deficiência não poderia ser diferente, é claro. Contudo, como fazemos parte de um grupo que traz marcas no corpo, e que por isso ainda é discriminado e excluído, muitas vezes nos vemos como indivíduos sem atrativos e nos isolamos ainda mais. Lamentavelmente, às vezes chegamos até a realçar nossos aspectos menos favoráveis, usando roupas que nos enfeiam, adotando uma postura caída, conservando uma expressão facial pesada, abrindo mão do autocuidado.
Mas essa imagem não combina comigo. Estou constantemente buscando minha melhor versão – e meu melhor jamais terá a ver com algo que não seja verdadeiro, que seja artificial. Minha missão comigo mesma consiste em revelar e aprimorar o que eu tenho de melhor. Por dentro e por fora.
Por isso, amo fotografia. Ela nos ensina a ver.
Quando aprendemos a fotografar, ou quando nos encantamos com imagens produzidas por outras pessoas, estamos exercitando o olhar: selecionando o que queremos ver/mostrar. O fotógrafo coloca em um plano privilegiado o que deseja revelar, assim como oculta detalhes que não lhe interessam realçar naquele momento.
Quanta coisa deixaríamos de observar se o fotógrafo não tivesse captado com suas lentes e realçado? Você jura que teria visto aquele detalhe bacana naquela escultura, que você teve tão pouco tempo de observar, na correria da viagem, em sua breve passagem pelo museu? Ou teria observado a beleza da flor se abrindo, com a luz do sol entrando pela lateral esquerda? Ou teria visto a covinha sensual na face daquela pessoa – se não fosse a fotografia? Talvez não.
Fotografando Lauras
Fiquei curiosa quando Ana Valério, uma moça de apenas 21 anos, entrou em contato comigo e me fez o convite de posar para um ensaio que irá compor seu trabalho de final de curso. Ela fotografa profissionalmente há 3 anos e está terminando uma graduação tecnológica em Fotografia na universidade Fumec, em Belo Horizonte.
Segundo me contou, decidiu se dedicar a um projeto para retratar mulheres que se chamam Laura porque acredita, e sente, que são mulheres fortes, diferentes. E acrescenta que, até então, suas experiências com as Lauras estão demonstrando que não se enganou.
Fui fisgada pela proposta, porque adoro fotografia, sou vaidosa e curto demais posar para ensaios, e desde sempre sou fascinada por meu nome, que minha mãe escolheu em homenagem a sua avó, que era uma mulher – isto mesmo: forte. Minha mãe amava profundamente a avó, com quem fora criada, e que, apesar de inculta e não escolarizada, esbanjava sabedoria. Fala se não é uma honra ter um nome desses? E minha mãe não era boba; ela sabia, porque tinha pesquisado, que a origem do nome está relacionada à coroa de louros oferecidas aos heróis e intelectuais na Antiguidade para indicar vitória e glória. (Clique aqui para saber mais sobre a etimologia do nome.)
Veja só, o destino estava traçado: não seria exclusivamente a fotografia da Ana Valério que revelaria o que tenho de melhor e seria realçado; até mesmo o tema do ensaio estava a serviço de evocar em mim o dom que minha própria mãe evocara no meu nascimento, com total concordância do meu pai.
O ensaio fotográfico
Escolhi a Praça da Assembleia para realizar o ensaio, com seu belo jardim e suas atraentes cores de primavera. Durante uma hora a Ana procurou em toda a praça os locais que ofereciam a luz mais adequada e os elementos capazes de produzir boas tomadas.
Fiquei felicíssima com o resultado, porque nele se percebe que força não precisa estar relacionada com dureza. Sinto que conseguimos extrair de dentro de mim, de forma espontânea e natural, sentimentos que, mesclados, redundam em uma sensação de força que não está divorciada da delicadeza. Bem, isso eu deixo pra você avaliar.
Ana Valério | Fotografa profissionalmente há três anos e está finalizando a graduação tecnológica em Fotografia na Fumec. Também estuda Letras – Tecnologias em Edição no Cefet-MG. Algumas de suas fotos podem ser vistas no seu Flickr . Ela curte clicar famílias, crianças, recém-nascidos, gestantes… e, atualmente, Lauras! Contato: anavaleriofotografia@gmail.com | (31) 9 9136 4902
Para saber mais
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Belíssimas fotos espelha a força e alegria de Laura Martins, além de sua beleza. Parabéns!
Grata pelo carinho, Denise!
Beijo grande!
Olá,
Ainda precisando de Lauras??? Estou nesse seleto grupo com este nome que vem do latim, devido à coroa de louro e por isso significa vitória/ triunfo.
Gostei muito do projeto. Sucesso garantido!!!
Abraços,
Laura Lorena Lutkenhaus
Oi, Laura! Espero que a Ana tenha entrado em contato com vc! Abração