Quando precisei, não encontrei informações sobre a acessibilidade do Cine Joia na internet. Aproveite que a Cadeira Voadora esteve lá e confira aqui todas as dicas!
Atualizado em maio de 2019
Como o leitor mais antigo do blog já sabe, São Paulo é minha cidade do coração. Desta vez, fui para lá também com o objetivo de assistir à única apresentação de Esperanza Spalding, sensacional contrabaixista e cantora de jazz norte-americana, cujo trabalho adoro.
O local da apresentação era o o Cine Joia, a respeito do qual eu não havia encontrado praticamente nenhuma informação sobre acessibilidade. Eu havia lido em algum lugar, na internet, que havia acesso para cadeirantes, mas isso era tudo.
Entrando em contato
Encaminhei um e-mail ao estabelecimento e, em acréscimo, telefonei para lá, a fim de checar a acessibilidade e evitar contratempos.
O rapaz da bilheteria me explicou que, em frente ao estabelecimento, havia serviço de valet (manobrista); também esclareceu que havia lugares reservados para os cadeirantes, assim como banheiro adaptado. Por fim, me orientou a encaminhar um e-mail ao gerente, dias antes do show, a fim de avisar que iriam duas cadeirantes (a Ida me acompanharia).
Quando descobri, vasculhando a internet, que as pessoas assistiam ao show de pé, fiquei assustada. Pensei: será que mil cabeças vão tapar a visão de duas baixinhas-ainda-mais-baixinhas em cadeira de rodas? Novamente liguei para lá, e me tranquilizaram, explicando que nossos lugares seriam estratégicos. Isso assegurado, o próximo passo foi adquirir os ingressos.
Comprando o ingresso
No site, todas as informações para a compra do ingresso estavam muito claras, em página própria, até mesmo com link para a lei sobre meia-entrada.
Preste atenção: pessoas com deficiência só têm direito a meia-entrada em certas condições. Leia aqui quais são. E mais: têm de mostrar, no momento da entrada, a comprovação exigida na lei. Vale a pena ficar atento a esse fato.
Adquiri as entradas e imprimi as páginas. Ainda que, em muitos estabelecimentos, seja possível mostrar o ingresso no celular, eu sempre imprimo, porque, afinal, pode-se perder o celular, ou ele pode ser roubado. Coisa de gente precavida…
Chegando ao local
Fomos de carro, sendo guiadas pelo Waze. Chegando lá, ao entrar à direita na via da Praça Carlos Gomes, um manobrista já fez sinal para que estacionássemos ali. Como a rua era muito íngreme, explicamos a ele que éramos cadeirantes e perguntamos se havia espaço para estacionar na porta. Ele disse que sim, e nós subimos, então, até alcançar o cinema.
Para nosso quase desespero, vimos que, sendo a via tão estreita e movimentada (não parava de passar carro, mesmo faltando uma hora para o espetáculo), seria muito difícil duas cadeirantes desembarcarem naquele local.
Como chegamos muito cedo, Ida parou sobre a calçada um pouco adiante, para entregarmos o carro ao manobrista e sermos levadas até a entrada do Cine Joia. Tivemos que circular na rua, pois os passeios são estreitos, malconservados e cheios de vendedores ambulantes.
Com a ajuda dos gentis bombeiros que prestam serviço no Cine Joia, subimos o meio-fio. Uma rampa móvel foi colocada na porta, local em que entregamos nossos ingressos e fomos revistadas. Desde o início, o atendimento dos funcionários foi impecável.
No interior do recinto
Instalado em um antigo cinema inaugurado em 1952 e especializado em projeções de cineastas japoneses, posteriormente desativado, o Cine Joia reabriu as portas com infraestrutura para receber bandas de médio porte. Tem capacidade para quase mil pessoas. O espaço é dividido em três ambientes: pista, plateia superior – onde estão localizados os camarotes, inacessíveis a cadeirantes – e miniclube.
O projeto original do cinema foi mantido: pisos de taco, tons de verde-claro na pintura, pastilhas da fachada, entre outros elementos. Ao mesmo tempo, recebeu tecnologia de ponta e novas opções estéticas. O assoalho foi totalmente recuperado, e, junto com a concha acústica localizada atrás do palco e seu teto telescópico, proporciona acústica para os ouvidos mais exigentes. Fiquei encantada, tanto com a beleza, quanto com a acústica impressionante.
O Cine Joia utiliza iluminação através da técnica de projeção 3D Mapping. A tecnologia “transforma os lugares projetados em uma espécie de tela de cinema 3D gigantesca ao mapear imagens 2D em superfícies não-planas”. Tudo belíssimo.
Mas… e a acessibilidade?
É lamentável, mas a pista não é boa para cadeirantes, pois tem um declive, como no projeto do original do cinema.
Segundo o site do local, isso elimina a existência de pontos cegos para a plateia: de qualquer lugar do espaço se vê perfeitamente o palco. Mas provoca um desconforto muito grande, também para quem está de pé, eu imagino. Afinal, a pessoa precisa ficar o tempo todo se equilibrando…
Há um bar central, com muitas opções de bebidas e coquetéis. Bem ao lado, há uma lanchonete, onde só havia empanadas, mas com opção para os vegetarianos. Na entrada, você recebe um cartão. Ao fazer um pedido, paga-se imediatamente, e ele é registrado nesse cartão, que deve ser apresentado para que bebida ou lanche sejam retirados.
O balcão da lanchonete é alto demais, sem chance de alguém ver um cadeirante, mesmo porque o ambiente é bastante escuro. Além disso, o tempo todo tem música sendo tocada, então ninguém escuta ninguém.
Contudo, o funcionário que circula pelo espaço registrando os pedidos compensou essa deficiência do local, retirando os lanches para nós.
Os banheiros acessíveis são grandes, limpos e corretos, com porta de acordo com a norma e barras de segurança.
Porém, o maior problema que enfrentamos no local ainda estava por vir. Te conto agora.
Lugares reservados para cadeirantes
Há dois lugares reservados para cadeirantes atrás do bar, bem em frente ao palco. Este, aliás, é alto o suficiente para ser visível a todos.
A princípio, achei que o declive do piso inviabilizaria nossa permanência no local. Porém, travadas as cadeiras, ficamos bem, sem risco de desequilíbrio e queda. Só mesmo o desconforto da inclinação…
Contudo, duas geladeiras posicionadas bem na nossa frente impediam a visão. Não acreditamos.
Pedimos para chamarem o gerente, mas nem foi necessário, pois os próprios funcionários retiraram as geladeiras em poucos minutos. E também, após uma reclamação da Ida, o barman, que toda hora passava na nossa frente para atender alguém, passou a se abaixar, de forma a não impedir nossa visão.
Esperamos que as geladeiras não tenham retornado ao local.
Porém, caso você seja cadeirante e decida ultrapassar estes desafios para ir a algum show no Cine Joia, chegue com antecedência. Se elas estiverem lá, haverá tempo suficiente para serem reposicionadas…
Com relação à sua segurança, pode ir sem medo. Mesmo com o ambiente lotado, a segurança me pareceu bem-planejada. Em caso de pane, os cadeirantes poderão ser retirados do local com facilidade, desde que não estejam perto do palco. Nesse caso, estarão totalmente cercados pelas pessoas, dificultando a localização e até correndo o risco de serem pisoteados em caso de emergência.
Conclusão
A apresentação de Esperanza Spalding foi nada menos que sensacional. Ela é impagável, os músicos e os vocais estavam fantásticos. O local é lindo, e a acústica, um fenômeno. O público foi educado e gentil. Nota dez para os funcionários.
Isso tudo acabou compensando as dificuldades para estacionar e adentrar o prédio, assim como a confusão com as geladeiras e com o trânsito do barman. Mas bem que eles poderiam resolver isso, não é mesmo? Vou entrar em contato por escrito sugerindo ações.
Para saber mais: