Aro de propulsão Natural Fit | Menos esforço, mais eficiência

O aro de propulsão da cadeira é um equipamento mais importante do que a maioria de nós supõe. Nos próximos parágrafos, te explico direitinho por quê.

Mas já leve em consideração que, para a pessoa que usa uma cadeira de rodas, é fundamental fazer menos esforço e ter mais eficiência.

Por isso, precisamos ficar atentos aos equipamentos disponíveis no mercado, a fim de nos programarmos para adquirir itens que nos proporcionem melhor qualidade de vida.

 

Na foto, tirada em Inhotim, estou usando rodas com aro de propulsão Natural Fit (foto: Marta Alencar)

 

Aro de propulsão: que bicho é esse?

 

O aro de propulsão é aquela parte que a gente usa para tocar a cadeira de rodas. Eu não suspeitava que a qualidade dele tinha tanta importância até experimentar um mais adequado.

Na verdade, a cadeira fica mais leve para tocar, e a gente se cansa muito menos!

Há alguns anos, tive tendinite grave nos dois ombros, como resultado de ter utilizado muletas canadenses e órtese por quatro décadas. Num país onde se joga tudo no chão, é fácil concluir a quantidade de tombos que eu levava. A consequência dos esforços foi estafa muscular com desgaste de tendões, o que significa fortes dores e redução das capacidades.

Por causa disso, optei pelo uso da cadeira de rodas em tempo integral. Minha intenção foi reduzir dores e desgaste, a fim de ter melhor qualidade de vida e construir um futuro com musculatura e tendões funcionando.

Mas então descobri que ainda poderia melhorar…

 

Minha experiência com o aro Natural Fit

 

A tecnologia é grande amiga da pessoa com deficiência, por nos possibilitar compensar os déficits e aproveitar as habilidades que preservamos.

Faz alguns meses que estou testando um novo aro de propulsão, o Natural Fit [texto escrito em dezembro de 2018].

Ao usá-lo pela primeira vez, na Feira Hospitalar, em São Paulo, disse ao Rodrigo Moreira [saiba mais sobre ele aqui], que foi quem teve a feliz ideia de instalá-lo:

“– Que bruxaria é esta que você fez com a minha cadeira?”

Ele riu e respondeu que “só havia instalado um novo aro”. A seguir, me lembrou de que eu estava presente enquanto a instalação acontecia… rs

Porém, sabemos que essa “bruxaria” tem um nome: t e c n o l o g i a. E até eu, que não sou entendedora dessas coisas, posso compreender como esse aro de propulsão funciona.

Aguardei alguns meses para fazer esta resenha porque queria testar resistência, durabilidade e o conforto. Se ele quebrasse com as minhas estripulias, eu precisaria contar isso aqui.

Nas fotos, você pode verificar o Rodrigo instalando o aro, assim como constatar como minha cadeira ficou mais bonita com ele 😍.

 

À esquerda, estou com os atletas Edson Dantas e Fernando Aranha, na Hospitalar. À direita, Rodrigo montando os aros Natural Fit.

 

O Natural Fit torna a cadeira mais leve

 

A propulsão manual da cadeira de rodas (conhecida como “tocar a própria cadeira”) é tarefa que exige esforço. Por exigir muito do nosso corpo, repetidamente, esse movimento pode produzir lesão e dor nos ombros, nos braços, no pescoço e no punho.

Sendo assim, um aro ergonômico que alivie o estresse nos braços é muito benéfico.

O aro que instalamos consiste em uma superfície oval para a palma da mão e outra para apoiar o polegar. O encaixe é um movimento natural, e é por isso que se chama “Natural Fit”.

Esse desenho favorece a utilização de um esforço muscular muito menor. Além disso, é confortável para o punho e as mãos, porque não é necessário envolver o aro com elas, nem apertá-lo. Adeus, cansaço.

Para frear a cadeira, basta apoiar o polegar na superfície texturizada. Isso produz certa fricção, diminuindo a força empregada e aumentando a segurança. Ah! E não há risco de a gente prender o dedo entre a roda e o aro.

Então, a cadeira ficar mais leve para tocar. Fiquei assustada com o esforço mínimo que estava fazendo.

Observe, na imagem abaixo, como o polegar fica confortável. Além disso, note que a mão não precisa se fechar no aro, e o punho fica bem posicionado.

 

A imagem mostra detalhes do aro de propulsão Natural Fit

Imagem retirada do estudo “Efeitos da tecnologia handrim na lesão musculoesquelética da extremidade superior”, de Michael Boninger, MD, e outros.

 

Eu gostaria muito que você tivesse condições de experimentar! Se você morar em BH, posso te emprestar a cadeira durante cinco minutos para um test-drive. =D

 

Tocar a cadeira: atividade física?

 

“Para que gastar dinheiro com algo que vai diminuir o esforço físico? Afinal, não é bom vocês se exercitarem?”

Não falta quem faça esta pergunta quando falo sobre a importância de poupar esforços. Afinal, a maior parte das pessoas acha que esforço físico é igual a preparo físico.

Até compreendo, porque o conhecimento técnico demora a se difundir, enquanto o senso comum se alastra. Mas te afirmo que não, esforço físico não é sinônimo de atividade física.

 

O que é atividade física

 

Para que um esforço possa ser considerado atividade física, é preciso que seja realizado com conhecimento, planejamento e regularidade.

Além disso, atividade física saudável não pode privilegiar uma parte do corpo e esquecer outras. Afinal, somos um organismo e precisamos ser cuidado integral. Se você escovasse somente a metade da arcada dentária, o que aconteceria à outra?

No caso da atividade muscular, é saudável que dê atenção a todo o seu corpo. Do contrário, aquele membro que faz mais esforço tende a ficar sobrecarregado.

Cadeirantes e muletantes ativos têm braços e ombros sobrecarregados, assim como articulações em risco, como resultado do excesso de demanda que essa parte do corpo recebe.

Enquanto isso, é comum que os membros inferiores fiquem relegados a segundo plano, com risco de atrofia, dificuldades circulatórias e dores.

 

Nos dias atuais, tocar a cadeira não é algo entendido como atividade física

Então, poupar músculos é bom?

 

Bom é não sobrecarregar nenhuma parte do corpo, para que não venhamos a ter lesões e dores.

Pessoas que têm a função dos membros inferiores diminuída já precisam usar os braços para compensar. Por consequência, eles ficam sobrecarregados.

Nós, cadeirantes e muletantes, não conseguimos nos deslocar sem usar os braços. Vendo a situação por esse ângulo, dá pra compreender a necessidade de reduzir os esforços assumidos pelos braços.

Sendo assim, o ideal é fazer atividade física monitorada e regular para fortalecer a musculatura. Paralelamente, é bom investir na aquisição de uma cadeira mais leve, com bons rolamentos, rodas e pneus adequados ao local onde será utilizada. E, se possível, investir também em um aro que evite lesões.

 

Vale a pena comprar o Natural Fit?

 

Este aro chegou em 2003 ao mercado estrangeiro, mas não sei quando chegou no Brasil.

O meu foi fornecido pela Ottobock, a mesma marca da minha cadeira de rodas. Você pode encomendá-lo numa Clínica Ottobock ou em uma revendedora dessa marca, em várias cidades brasileiras, incluindo Belo Horizonte.

Porém, como este aro se adapta a várias cadeiras manuais, é possível encontrá-lo com revendedores de outras marcas. Procure no Google por “aro de propulsão”, “aro de impulso” ou “aro de impulsão Natural Fit”.

Na minha opinião, é melhor comprar numa revendedora autorizada e contar com um técnico para fazer a instalação, a não ser que você faça parte do grupo que tem habilidade com ferramentas.

 

Qual é o custo?

 

Como sabemos, produtos que são desenvolvidos com uso de tecnologia e design têm alto valor agregado. Ou seja, houve estudos e testes que fizeram com que funcionem melhor do que outros.

Como resultado, certamente esses equipamentos não custam o mesmo valor de um que não ofereça nada disso. Mas, é claro, também não oferecem os mesmos benefícios.

E não, bicicleta não é mais barato que cadeira de rodas, ao contrário do que diz muita gente que não entende de tecnologia.

Todo produto que agregue tecnologia e design precisa incorporar esse valor. Afinal, há anos de pesquisa, estudo e trabalho envolvidos. Sendo assim, toda bicicleta que tenha sido desenvolvida com tecnologia de ponta, design e materiais nobres custará um valor astronômico, pode ter certeza.

 

Aro de propulsão: na primeira foto, o aro comum; na segunda, o Natural Fit

 

Conclusão

 

Para mim, não resta dúvida de que vale a pena investir no aro, assim como em tudo que facilite nosso dia a dia e previna problemas num futuro próximo ou distante.

Não se esqueça de que o Banco do Brasil, assim como algumas cooperativas, oferecem linha de crédito para compra de equipamentos. Além disso, podemos fazer uma poupança para progressivamente adquirir itens que tornem nossa cadeira de rodas mais confortável, segura e adequada.

Por que não investir em nós mesmos?

 

[atualizado em dezembro de 2020]

Publieditorial

 

A roda Freewheel é outro equipamento extremamente útil. Te conto sobre ela aqui.

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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