Setembro é um mês importante para a pessoa com deficiência, marcado por uma infinidade de eventos. Mas você sabe o porquê de toda essa movimentação?
Neste mês, precisamente no dia 21, celebramos o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, que foi criado em 1982 e oficializado pela Lei Nº 11.133, de 14/7/2005*.
A data é marcada por atos públicos, passeatas, seminários, entre outros, para rememorar a história e lembrar que a luta continua. Atualmente, o conjunto dessas atividades é denominado Setembro Verde.
Sem dúvida, avançamos em direitos e políticas de inclusão, e isso se deve ao esforço de inúmeras pessoas durante décadas. Porém, temos um trabalho pesado pela frente, porque ainda vivemos inúmeros desafios relacionados a trabalho, educação, saúde e, principalmente, desrespeito às leis.
Nota: texto de 20/9/2019, atualizado em 08/2020
Vale a pena comparecer aos eventos?
Penso que é animador poder fazer contato com outras pessoas com deficiência, e melhor ainda estar por dentro (nos dois sentidos: “a par” e “participando”) da luta.
Muitas pessoas passam décadas sem encontrar alguém que viva as mesmas experiências, e isso pode produzir prejuízo, do ponto de vista da autoaceitação e da construção de uma autoestima saudável. Convivendo, é possível aprender com o outro a lidar com os desafios que nos são comuns, trocar experiência e assim nos fortalecer para as demandas cotidianas.
E o melhor é, certamente, não se sentir um extraterrestre… 😉
Ficar por dentro da luta é útil, também, na hora de votar, afinal é importante saber o que tem sido feito, quem está na peleja e até quem está atrapalhando. Senão, a gente corre o risco de acreditar nos discursos dos espertinhos que aparecem na hora das eleições.
“É um verdadeiro terror a gente ser visto como aberração, como algo diferente a ponto de ser considerado um ‘equipamento defeituoso’. Nós, que temos alguma deficiência, sabemos disso, porque possivelmente todos já vivemos alguma situação social constrangedora relacionada à percepção da ‘diferença’.”
(**Frase de minha autoria reproduzida no cartaz criado pelo TRE-MG para celebrar o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência.)
Para que reinventar a roda?
Participar dos eventos é também uma forma de conhecer a história do movimento das pessoas com deficiência e até mesmo se encontrar com quem fez parte dos primeiros tempos de luta.
Incentivo que todos possamos conhecer esse processo, pelas seguintes razões:
1) para que valorizemos o empenho de quem veio antes de nós;
2) para reclamar menos e participar mais, colaborando com a construção de um país mais justo;
3) para que não precisemos reinventar a roda, gastando tempo e energia para fazer novamente o que já foi feito;
4) para mudar o lado do disco (sou das antigas), renovando as estratégias, a fim de ter sucesso nas demandas. Por que manter comportamentos que não levam ao sucesso nas empreitadas?
Quando foi criado o Dia Nacional de Luta?
Mesmo pesquisando em fontes confiáveis, não foi possível chegar a uma conclusão sobre quando e onde surgiu a ideia de criar o Dia Nacional de Luta.
No site do Memorial da Inclusão, lemos que: “O 21 de Setembro foi escolhido pelo movimento como Dia Nacional de Luta das Pessoas Deficientes, em 1982, durante o Encontro Nacional de Pessoas Deficientes, realizado em São Bernardo do Campo, em São Paulo”.
Já no livro “História do Movimento Político do Movimento das Pessoas com Deficiência no Brasil”, está registrado, na p. 315, que: “Foi em 1982, no Encontro de Vitória, que Cândido Pinto Melo propôs criar o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência”
Como não encontrei referência em outras fontes, recorri a Lia Crespo, jornalista e escritora, também cadeirante, que esteve presente na luta desde o início. Ela me disse que, “Na verdade, há mesmo uma controvérsia sobre esse assunto. Os dois encontros reivindicam a criação”.
Lia sugeriu, para aprofundamento, sua tese de doutorado “Da invisibilidade à construção da própria cidadania: os obstáculos, as estratégias e as conquistas do movimento social das pessoas com deficiência no Brasil, através das histórias de vida de seus líderes”.
Adianta lutar?
Certamente nossa luta nem sempre será produtiva, mas esse fato não pode servir como justificativa para cruzar os braços e se isolar, pois isso, sim, não vai levar a lugar algum.
Pensemos, então, em qual contribuição cada um de nós pode dar ao movimento.
Você é um bom comunicador, escreve bem, sabe argumentar com eficiência, sabe consertar o computador, atender ao telefone? Seja qual for seu talento, que tal pensar em colocá-lo à disposição da comunidade de pessoas com deficiência?
Se você não tiver como sair de casa, trabalhe à distância. Se não tiver como sair da cama, contribua como puder, ainda que seja deitado. Algumas vezes, trabalho deitada, por causa das dores, e conheço cadeirantes na mesma condição.
O que importa é oferecer a própria contribuição para avançarmos cotidianamente rumo a uma sociedade de fato inclusiva!
Quer saber mais sobre o assunto?
Em primeiro lugar, sugiro que acesse, para conhecer e pesquisar, o site Memorial da Inclusão, que tem um rico material sobre a história do movimento no Brasil.
Vale também assistir aos dois vídeos a seguir.
Neste programa Café Filosófico de 19/6/2016, a médica Izabel Maior fala sobre deficiência e diferenças.
O documentário a seguir foi lançado juntamente com o livro História do Movimento Político do Movimento das Pessoas com Deficiência no Brasil para resgatar os acontecimentos. Através desses relatos, reitera-se o compromisso de luta por um mundo melhor.