Passeios em Londres com cadeira de rodas

Que tal vir comigo para alguns passeios em Londres com cadeira de rodas? Sim, é uma cidade fascinante e muito amigável com cadeirantes! Neste post, falarei sobre os lugares que visitei e compartilharei links para que você encontre todas as informações sobre a acessibilidade na terra da Rainha. Garanto que vai amar!

 

Estou com o Guile. Ao fundo, a Tower Bridge.

 

Cadeira Voadora em Londres

 

Passei quatro dias em Londres antes de retornar ao Brasil, após 3 semanas fazendo intercâmbio no Reino Unido, em Newcastle upon Tyne (links no fim do texto).

É muito pouco, com certeza! Foi apenas um aperitivo para voltar em um outro momento, com mais calma para explorar melhor essa cidade que oferece tantas atrações e cujo povo é tão gentil!

 

Chegando pelo aeroporto de Heathrow

 

Cheguei no sábado, às 18 horas, pelo aeroporto de Heathrow.

O querido Guile, amigo de longa data, já estava lá me esperando. Então, pegamos o metrô e descemos em uma estação acessível, no centro de Londres, a fim de pegar um ônibus para o hotel.

Se você tem disposição e condições físicas para essa empreitada, vale a pena, principalmente numa época em que o câmbio não favorece os brasileiros. Considere que um táxi até o centro de Londres fica bastante caro (por volta de 70 libras). Porém, se estiver em grupo, talvez seja melhor pegar um táxi ou um transfer, pois assim é mais confortável e dá pra dividir a conta…

 

Transporte na cidade

 

A boa notícia é que todos os ônibus vermelhos de dois andares (aqueles típicos londrinos) são acessíveis para cadeirantes, com rampa automática e espaço reservado.

Você pode optar por dar sinal, e o motorista verá que é cadeirante e abrirá a porta do meio. Ou, então, quando o ônibus parar, pode acionar um botão com o símbolo internacional de acesso que fica ao lado da porta.

Eu preferi dar sinal com a mão, para o motorista me ver à distância e parar.

Não se assuste, pois, se houver passageiros descendo, o motorista fechará a porta após a saída deles e a abrirá novamente, já que só assim conseguirá liberar a rampa. Questão de segurança… Aqui, te conto tudo a respeito!

 

Tenha um Cartão Oyster!

Ao entrar, você já deve estar com seu Oyster à mão, um cartão recarregável utilizado no transporte público da cidade. Alguns ônibus têm a maquininha de passar o cartão próximo à porta, outros não. Neste caso, você ou seu acompanhante deverão ir até o motorista para passá-lo.

Nesse momento, se desejar, você já pode avisar ao motorista onde vai parar. Mas não é obrigatório, pois há um botão próximo ao local reservado ao cadeirante, que deverá ser acionado pouco antes do ponto onde desejar parar.

No local reservado para o cadeirante, não há cintos de segurança; mesmo assim me pareceu seguro, porque os ônibus são modernos e trafegam sem dar trancos.

Há avisos indicando que pessoas SEM deficiência ou carrinhos de bebê DEVEM ceder o local aos cadeirantes. Peguei ônibus pelo menos 10 vezes, e nunca tive problema; todas as vezes as pessoas liberaram o espaço sem protestar.

 

Metrô e barco

 

Nem todas as estações de metrô são acessíveis. Para saber sobre transporte acessível em Londres e fazer seu planejamento, clique aqui e aqui.

Na verdade, uma boa forma de se locomover em Londres é usando barco, através do Rio Tâmisa. Eles fazem parte da rede de transportes públicos, são acessíveis, mas você só poderá entrar ou sair quando o píer também for acessível. Na London Eye e na Torre de Londres, eles são acessíveis. Para saber mais, clique aqui e aqui.

Para ir a Greenwich, por exemplo, o barco é o meio de transporte ideal, pois rende um passeio muito gostoso!

 

Táxis

 

Sobre os táxis, fiquei sabendo que todos os black cabs (aqueles carrinhos pretos, tão típicos da cidade) são acessíveis, e os motoristas têm treinamento para auxiliar pessoas com deficiência e são muito educados. Além disso, para terem direito à licença para conduzir os cabs, precisam fazer testes rigorosos que atestem perfeito conhecimento da cidade.

Infelizmente, não tive oportunidade de andar em um deles. Minha única experiência com automóvel aconteceu no retorno do passeio a Greenwich, quando, por causa do nosso cansaço extremo, pegamos Über.

 

O passeio pelo Regent"s Canal não poderia ser mais agradável!

O passeio pelo Regent”s Canal não poderia ser mais agradável! O trajeto é lindo.

 

Hospedagem em Londres

 

Para começar, avalie a possibilidade de ficar em um hotel próximo a uma estação acessível de metrô.

A dica, dada pela querida Sabrina Koetz Glass em uma reportagem para a revista Sentidos, é se hospedar no YHA London St Pancras, um Albergue da Juventude filiado à Associação Internacional de Albergues.

De acordo com Sabrina, “o albergue está localizado dentro da zona 1 de Londres e a 100 metros da estação internacional de metrô St Pancras. A estação oferece acesso a cadeiras de rodas e está estrategicamente ligada a outras estações acessíveis. O percurso até o albergue é reto e com rampas de acesso em travessias apropriadas”.

Não ficamos hospedados lá, porque o quarto para cadeirantes tem quatro camas; então, teríamos que dividi-lo com desconhecidos, o que não nos agradava. Se quiséssemos o quarto só para nós, o preço seria compatível com o de hotéis da região.

 

Não indico o local onde ficamos

Pesquisando no Booking, encontramos um hotel em conta, o Eurotraveller Hotel Premier Tower Bridge, onde acabamos nos hospedando.

Porém, ele fica distante dos pontos turísticos. Além disso, o banheiro do quarto para cadeirantes deixou a desejar, pois a porta se abre para dentro, o que diminui drasticamente o espaço para circulação. Só consegui fechar a porta porque minha cadeira é muito estreita, mas alguém que usa uma cadeira mais larga teria de usar o banheiro com a porta aberta. Em resumo, não indico.

 

Experiência ruim com o AirBNB

Antes de nos decidirmos, tentamos várias opções de apartamentos pelo Airbnb. Os preços eram convidativos, os apês eram lindos, e supostamente havia opções acessíveis para cadeirantes.

Porém, parece que o Símbolo Internacional de Acesso estava lá apenas para indicar ausência de degraus na entrada principal, ou elevador disponível. Todas as vezes que encontramos algum que nos agradasse, entramos em contato com o proprietário para nos certificar se era de fato acessível, e nos decepcionamos.

Nenhum deles tinha o banheiro acessível! Aliás, nem mesmo o quarto era acessível. Pra você ter uma ideia do que estou dizendo, as portas não tinham nem 60cm de largura… E o espaço dentro dos quartos era tão limitado que não era possível entrar com a cadeira, ainda que a porta permitisse.

Por isso, recomendo atenção máxima. Não confie nas informações e sempre entre em contato com o proprietário.

 

Passeando em Londres com cadeira de rodas

 

Os passeios que fizemos foram em grande parte acessíveis, e sempre agradáveis e bonitos. A seguir, te falo um pouco sobre cada um! E abaixo, no Para saber mais, reúno informações preciosas para que você tenha uma excelente estada nesta cidade repleta de atrações!

 

Eu no Camden Lock

Camden Town

Começamos o domingo neste bairro interessante, que reúne várias tribos. Há quatro mercados funcionando por lá, que, nos fins de semana, ficam lotados.

E, talvez você não saiba, o bairro ficou ainda mais conhecido porque a musa Amy Winehouse o escolheu para morar.

Passeando por suas ruas, verá quanto essa região está distante do jeitão aristocrático londrino.

Mas nem só de barraquinhas, pubs e lojas diferentonas vive Camden. Prepare-se para fazer um passeio pra lá de agradável pelo Regent’s Canal, que corta o bairro, o zoo e o Regent’s Park. É possível passear de cadeira de rodas em sua margem, só não é fácil o acesso para entrar ou sair, por causa da declividade.

 

Parada para almoço

Passeamos pelo bairro e paramos num dos mercados, o Camden Lock, onde almoçamos, numa espécie de praça de alimentação que fica num pátio interno.

Não foi fácil escolher o que comer, pois havia barraquinhas de comidas típicas das mais variadas procedências (mas você poderá provar um pouco de cada, é claro rsrs).

Transitar por lá não é simples para cadeirantes, porque o piso é de pedras e não havia rebaixamentos. Mas quer saber? Se está acompanhado de alguém que tenha braços fortes para te ajudar, não deixe de ir. É simplesmente imperdível ouvir todos aqueles sotaques misturados e ter acesso a comida do mundo inteiro!

 

“O mais antigo [mercado] é o Camden Lock, fundado no começo dos anos 1970 num antigo prédio de tijolos aparentes em frente ao trecho represado do canal. Dentro dele, a arquitetura faz lembrar uma estação de trem do início do século XX, com pé direito alto e três pavimentos repletos de lojinhas de roupas, artesanatos e obras de arte. Seu outro acesso é pelo calçadão do canal. Por ali, chega-se a um pátio nos fundos do prédio principal, com brechós, sebos e até lojas de brinquedos. (Leia o texto completo aqui)

 

O British Museum tem um acervo é impressionante.

Museus

 

Como fiquei pouco tempo na cidade, estive apenas no British Museum e no National Galery.

Sem dúvida, ambos são parada obrigatória, não só pelas obras de arte mas também pela arquitetura.

No famoso British, temos acesso ao admirável acervo egípcio, assírio, celta, romano, grego e muito mais. Fascinante é pouco.

Além disso, é impossível não passar pelas simpáticas lojinhas e trazer as lembrancinhas mais fofas e criativas, como um livro de Beatrix Potter (conhece?) ou chá em latinhas com as ilustrações originas de Alice no País das Maravilhas.

Para finalizar nossa visita, tomamos um delicioso chá da tarde no Great Court Restaurant, com lindas louças e um scone de-li-ci-o-so!

No National Galery, estão quadros de artistas que sempre admirei, como Van Gogh ou Renoir, entre muitos outros. Sem dúvida. ver essas obras me emocionou.

Ambos os museus são totalmente acessíveis (incluindo os banheiros) e gratuitos.

 

A beleza de Greenwich

 

Como não tenho nada contra as fotos clichê, aí estou com uma roda de cada lado do Meridiano de Greenwich… Eba!

A região de Greenwich fica nos arredores de Londres e ficou famosa por abrigar o Observatório Real e a linha imaginária que separa nosso planeta em leste e oeste e define o fuso horário no mundo todo: o famoso Meridiano de Greenwich. Lembrou das aulas de geografia do ensino médio, né?

Todo o centro histórico da região, o belíssimo parque e alguns edifícios compõem uma área que é Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco.

Eu já tinha ouvido falar que este era um passeio interessante, mas não tinha imaginado, nem de longe, que me despertaria tanto fascínio. Vou te contar agora!

 

Chegando de barco

 

Fizemos uma agradável viagem de barco e, ao chegar, visitamos os belos prédios da Universidade de Greenwich.

A seguir, pegamos uma forte subida, atravessando o parque.

As cores de outono, os esquilos, a brisa e o sol suave despertam a vontade de passar o dia por lá! Mas tínhamos como meta alcançar o Observatório Real, que fica no topo, para ter acesso a uma impagável vista da cidade, e eu precisava tirar uma foto clichê, com um pé em cada lado do meridiano. Ops! Com uma roda em cada lado… hahaha

É preciso comprar um tíquete bem caro para ter acesso ao local do meridiano, mas, tal como na London Eye, o ingresso do acompanhante do cadeirante é gratuito.

Para fazer esse passeio, se puder, reserve o dia todo, pois o local merece!

 

Nota:

É possível chegar lá em cima de carro, entrando pela parte superior do parque. Saiba mais aqui (site oficial). Há banheiro acessível no trajeto, e os funcionários foram extremamente corteses, até simpáticos.

 

A subida é longa, mas as paisagens enchem os olhos!

Um dos prêmios após a subida é esta bela vista!

 

London Eye

Sem dúvida, a famosa roda-gigante londrina é um dos pontos turísticos mais disputados da cidade. Por causa disso, fomos numa segunda-feira pela manhã, na hora de abrir, e compramos o ingresso para entrar no mesmo momento, que é mais barato que o ingresso que permite escolha do horário.

Por sorte, o céu estava claro, o que permitiu aquela vista panorâmica de 360º, que é de tirar o fôlego!

A roda tem 135 metros de altura, e a volta completa leva meia hora. É segura para cadeirantes, que entram primeiro e saem por último.

Dentro da cápsula, há bancos para aquelas pessoas que querem contemplar o espetáculo com mais conforto. O ingresso é caro, mas tenha certeza de que vale a pena.

 

É muito lindo, gente! Mas tem de ir com dia claro, ou então à noite, para ver as luzes da cidade.

É muito lindo, gente! Mas tem de ir com dia claro, ou então à noite, para ver as luzes da cidade.

O Tâmisa e o Parlamento vistos lá de cima...

O Rio Tâmisa, o Parlamento e o Big Ben vistos lá de cima… 

 

Meu esporte favorito

 

Flanar pelas ruas, ou andar sem rumo, sem dúvida é das coisas que mais curto em uma viagem. Afinal, é grátis, agradável e divertido. Além disso, rende boas descobertas!

Em Londres, há rebaixamento em todas as calçadas por onde circulei, na região mais turística, e, em geral, estão em boas condições.

 

Palácio de Buckingham ao anoitecer.

Palácio de Buckingham ao anoitecer. Fiquei parecendo uma boba, com queixo caído, diante da beleza do local.

 

Indo embora: de trem até o aeroporto

 

No meu último dia em Londres, como sou uma pessoa de sorte, tive a felicidade de ser acompanhada por outro ser humano de qualidade (o Guile já tinha voltado para Genebra, onde mora).

Falo do Gilson, que mora na cidade há anos e foi meu cicerone na terça-feira. E foi com ele que peguei o trem Heathrow Express para o aeroporto, no final da tarde, porque queria experimentar esse transporte a fim de contar aqui.

São apenas 15 minutos do centro de Londres (estação Paddington) até Heathrow, contra mais de uma hora de carro, podendo ser muito mais, dependendo do horário!!!! Incrível, não é mesmo?

Para mim, que voaria de British Airways, foi uma opção perfeita, porque ele para no terminal 3, onde está o check-in desta companhia. Além disso, o trem é totalmente acessível, incluindo o banheiro. E muito confortável.

 

Confortavelmente instalada no ultra rápido trem Heathow Express.

Confortavelmente instalada no ultra rápido trem Heathow Express.

O banheiro acessível do trem é bastante amplo.

O banheiro acessível do trem é bastante amplo.

 

No mínimo, fascinante!

 

Por hoje é só. Ficarei feliz se tiver conseguido passar pra você um pouquinho do fascínio que senti pela cidade e a simpatia que agora nutro pelos londrinos, que me receberam tão bem.

Para finalizar, quero dedicar este post ao Guile e ao Gilson, com um agradecimento especial pela companhia de qualidade, muito melhor do que a encomenda que eu fiz a Papai do Céu.

Um grande beijo,

Laura

 

Nota: os links deste post foram atualizados em 21/07/2023. As fotos pertencem ao acervo de Laura Martins e podem ser usadas apenas com autorização formal.

 

Para saber mais

 

♥Posts Cadeira Voadora

Intercâmbio: minha experiência em Newcastle (leia aqui, aqui e aqui)

Cadeira Voadora em Londres | vários posts

 

♦Acessibilidade nos transportes

Transport for London – Accessibility

Londres para Principiantes: acessibilidade no transporte

 

♠Acessibilidade em Londres

Acessibilidade: o que Londres tem a ensinar

Inclusive London (hotéis, banheiros públicos, pontos turísticos e muito mais. São tantas as informações sobre locais acessíveis que vc vai ficar tonto.)

Lonely Planet: Londres para visitantes com deficiência

Londres para principiantes: acessibilidade nos pontos turísticos

Sage Traveling: 13 London Wheelchair Accessible Travel Tips

Sage Traveling: London Eye Accessibility

London Eye: informações para visitantes com deficiência (site oficial)

 

♣Londres em blogs de cadeirantes

 

Londres no blog do Cory Lee (em inglês)

No Blog do Cadeirante (parte 1)

Post sobre Londres no Cadeira Voadora | Post da Marília

Londres no Cadeira Voadora | Post da Vivi Paixão

 

♦Londres geral

Londres no Viaje na Viagem

Como funciona o Oyster

Aprendiz de Viajante: roteiro de três dias em Londres

Aprendiz de Viajante: Greenwich

Camden Town

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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