Em outubro, quando estivemos no Parque Güell, em Barcelona, vivi uma experiência muito desagradável.
Estávamos no piso superior, na Praça da Natureza, que, apesar das obras de restauração, se encontrava aberta aos visitantes. A vista é belíssima, e no local havia um lindo banco ondulado recoberto de mosaicos.
Após ficarmos um tempo admirando a vista, emocionadas, saí da cadeira de rodas e me sentei no banco, rapidamente, para tirar uma foto. A praça estava quase vazia, mas, mesmo assim, eu queria liberar o banco rapidamente, porque outras pessoas certamente iriam gostar de ser fotografadas em um lugar tão lindo.
Assim que Helena começou a fotografar, chegou um grupo acompanhado de um guia de turismo. A língua que falavam, eu não sei qual era; só sei que eram asiáticos, por causa dos olhos puxados e dos cabelos lisos e arrepiados, tipo personagem de anime. O guia não orientava o grupo: ele berrava. E as pessoas pareciam ávidas por conhecer tudo no menor tempo possível. De preferência, na velocidade da luz.
Um “arrastão” de turistas veio em direção à varanda de mosaicos e praticamente se sentou sobre mim. Não cumprimentaram. Não pediram licença. Não sorriram. Era apenas um bando conversando alto e ao mesmo tempo, querendo a qualquer custo tirar uma selfie no lugar onde eu me encontrava.
Foi tão assustador, que demorei um pouco para me recuperar e sair correndo. Bem, você sabe que isso é força de expressão, né?
Aquele espaço tão bonito, com uma vista de encher os olhos (dá pra ver até o mar!), de repente se transformou em uma praça de guerra.
Aquelas pessoas pareciam não saber falar nenhuma língua a não ser a de origem. Cheguei a essa conclusão porque não pediram licença e nem cumprimentaram, e também porque ignoraram o que a placa dizia: “Não encoste na mureta”. Não só encostavam, como se debruçavam. O segurança precisou fazer advertências algumas vezes.
Placa no Grand Canyon
Hoje me lembrei desse fato desagradável quando revi uma foto que salvei da internet. Ela foi tirada no Grand Canyon, onde há uma placa que considero inspirada.
Diz ela:
“Um minuto
Não leia
Não converse
Não tire fotos
Apenas olhe
… e veja.”
Essas lembranças movimentaram em mim diversos sentimentos, e foi então que tive o desejo de compartilhar a reflexão com vocês. Este é um blog com foco em viagens, e por que não utilizar este espaço para conversar a respeito de nossas atitudes como turistas?
Afinal, viajamos para quê?
Para conhecer, interagir, contemplar o belo, nos enriquecer com a cultura estrangeira? Ou para tirar selfies e publicar imediatamente na internet? Pode ser também para mostrar as fotos à família e aos vizinhos, quem sabe…? Para dizer que conhece o lugar… Vai saber.
Por causa das selfies, algumas pessoas se sentem no direito de tropeçar no outro, quebrar objetos, pisar na grama, subir em estátuas, destruir patrimônio.
A terra do outro é o lar dele. Será que não precisaríamos pedir licença para entrar? Respeitar os costumes e o jeito de ser do anfitrião, evitar jogar lixo no chão, modular a voz para não incomodar? Será que não teríamos que zelar pelo patrimônio alheio da forma que zelamos pelo nosso?
Elefante em loja de porcelana
No meu primeiro semestre na faculdade, estudamos um texto do grande oceanógrafo Jacques Cousteau. Ele dizia mais ou menos assim: o ser humano, em seu contato com a natureza, se assemelha a um elefante (não lembro se o bicho era esse mesmo) numa loja de porcelana. Mas o elefante, quando percebe que está destruindo as louças, se assusta e se imobiliza. Não é o que ocorre com o ser humano. O ser humano não para até destruir toda a loja.
Creio que Cousteau estava muito lúcido quando disse isso.
Felizmente, esta foi a única vez que deparamos com turistas tão grosseiros em Barcelona. Naquele momento, renovei a promessa (que fiz a mim mesma) de adentrar o lar alheio descalça ou com sapatilhas. Não posso desrespeitar espaços que são sagrados.
Espero de coração que você também seja uma pessoa cuidadosa com o que não é seu. A melhor forma de viajar, no meu modo de ver, é levando na bagagem a educação, a elegância, o respeito pelo outro e pelo solo que pisamos. É fazendo com que o outro sinta saudades de nós, e não desprezo.
Até a próxima e obrigada por viajar comigo!
Laura