Acompanhando as redes sociais, foi possível observar, por todo o Brasil, mais acessibilidade no Carnaval 2020. Desde tradução de Libras nos palcos até blocos que se prepararam para receber cadeirantes com segurança, acredito que as iniciativas permitem concluir que houve avanços.
Vamos em frente para conferir estas ações?
Acessibilidade no Carnaval em Belo Horizonte
Em BH, houve iniciativas dignas de nota, como shows com a presença do intérprete de Libras e blocos que tomaram medidas para incluir cadeirantes no cortejo.
O bloco Todo Mundo Cabe no Mundo entrou em seu 5º ano com energia total para receber… todo mundo! Criado em 2016 pelo escritor Marcelo Xavier, que é usuário de cadeira de rodas, recebe a todos, sejam quais forem suas singularidades. Para saber mais, clique aqui.
Os blocos Garotas Solteiras e Pena de Pavão de Krishna criaram um espaço para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida que quisessem estar mais seguras para participar do cortejo. E o Tchanzinho Zona Norte também estava aberto aos cadeirantes.
Nesta reportagem, ficamos sabendo que o Quintalzão da Skol ofereceu às pessoas com deficiência um espaço acessível, com DJ, bar e uma mangueira gigante. Junto com o bloco Quando Come Se Lambuza, criou em 2019 a Bateria Arredondante, para que cadeirantes pudessem desfilar com conforto e segurança.
Acessibilidade no Carnaval em São Paulo
Em São Paulo, a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência levou acessibilidade ao Sambódromo e às ruas com o projeto “Samba com as Mãos”, que já está na 5ª edição. Assim, os enredos das escolas do Grupo Especial foram publicados com tradução em Libras e legendas, e os desfiles no Sambódromo contaram com audiodescrição transmitida em tempo real pelo Facebook da Secretaria. A novidade neste ano foi a presença de intérpretes de Libras em alguns blocos de rua. Para mais informações, clique aqui.
Outras cidades
Para documentar a acessibilidade no Carnaval, criei a hashtag #cadeiravoadoranocarnaval. Algumas pessoas a utilizaram, e eu mesma a registrei nas postagens que fui descobrindo, então foi possível reunir ações envolvendo a participação de pessoas com deficiência durante esse período.
Foi assim que fiquei sabendo que várias cidades, além de SP e BH, promoveram um Carnaval mais inclusivo, como Brasília, Salvador, Rio e João Pessoa, por exemplo. Compartilharei algumas dessas iniciativas abaixo, mas, se você tem Instagram, é só clicar na lupa e escrever #cadeiravoadoranocarnaval para conferir outras!
Em Salvador, o @blocodaaninha e o Bloco da @mari_fuso se reuniram à @pipocadesaulo, e, você sabe, também no que se refere à inclusão, a união faz a força.
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Carnaval é lugar de protesto também
Eu não poderia deixar de falar da ação promovida pelo Diário da Mãe da Alice para protestar contra pessoas que insistem em achar que cadeirante está disponível para todo mundo passar a mão, e não só no Carnaval.
Então, os pais da Alice tiveram uma ideia feliz, e a garota desfilou portando uma plaquinha com os dizeres: “Aprecie sem moderação, mas NÃO me encoste a mão”.
E fica dado o recado: Não espere que eu diga “não”. Simplesmente não me encoste a mão, a não ser que esteja claro que eu queira.
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Abre as asas sobre nós, inclusão!
Por tudo isso, minha expectativa é que possamos avançar mais no ano que vem. Espero, assim, que essas ações nos motivem a nos unir, ou nos fortalecer, para alcançar metas mais ousadas de inclusão.
Em conversa com Renato Leite, que faz parte do coletivo Muda Beagá, registrei importantes considerações:
“Tive boas impressões nesse carnaval sobre inclusão. Vi alguns blocos abrindo espaço para pessoas com mobilidade reduzida, mas muito pouco ainda perto do que imagino, ou seja, a participação efetiva de pessoas com deficiência em vários blocos, não precisando ser matéria jornalística especial. Espero, sinceramente, que a participação de pessoas com deficiência e/ou com mobilidade reduzida seja regra (como já é lei) e não exceção.”
Depois que passei a ser cadeirante…
Finalizo com este depoimento de Marcelo Xavier:
“Depois que passei a ser cadeirante, percebi que essa parte da população ficava de fora da festa. Faltava algo que os inspirasse a sair de casa e não se sentirem excluídos”, afirma.
Segundo ele, “Essa exclusão começa pela própria pessoa com deficiência, que acaba evitando espaços públicos, com medo de ser descriminada, por não se encaixar num certo padrão”.
Para Xavier, o Carnaval se destaca por seu potencial de transformação – fato que o levou a criar o Todo Mundo Cabe no Mundo. “Vejo este Carnaval de rua, solto e espontâneo, como uma tremenda obra de arte, que traz a possibilidade de experimentar uma utopia estética e social, de criar novas realidades”, afirma o artista. Ter um respiro dessa rigidez que a sociedade nos impõe é muito benéfico para a alma. Ainda mais para uma pessoa com deficiência, que geralmente só tem oportunidade de participar de encontros públicos em escolas e locais fechados. Poder ocupar as ruas e participar de uma manifestação forte como o Carnaval, junto a pessoas de todos os tipos, é maravilhoso”, sublinha, ressaltando que o feedback dos participantes e de seus familiares é sempre emocionante. (Texto de Lucas Buzzati) Fonte: Glaucia Galvão
Para saber mais:
Bloco Nada Sobre Nós, Sem Nós, em Campo Grande
12 cadeirantes compõem a bateria do bloco Quando Come Se Lambuza
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