No texto sobre acessibilidade em Porto (Portugal), adiantei que teríamos um post exclusivo para compartilhar as entrevistas que fiz sobre o Sistema de Itinerários Acessíveis (SIA) da cidade. Além disso, falarei sobre a Torre dos Clérigos, um exemplo de como o projeto funciona.
Gentilmente, colaboraram os arquitetos Lia Ferreira, Provedora Municipal dos Cidadãos com Deficiência da Câmara Municipal de Porto, que é também cadeirante, e João Pestana, coordenador do SIA.*
Sem dúvida, o trabalho que realizaram merece ser conhecido e, certamente, pode ser replicado em nossas cidades. Vamos conferir? Vem comigo!
Sistema de Itinerários Acessíveis (SIA*)
Lia nos recebeu com muita gentileza em seu gabinete e convidou a estar conosco o arquiteto João Pestana, coordenador do SIA*, a fim de que trouxéssemos para o Brasil informações detalhadas.
Certamente, é preciso que iniciativas desse tipo sejam conhecidas, particularmente por se tratar de uma cidade que abriga importante patrimônio histórico e tem topografia desfavorável a pessoas com mobilidade reduzida.
Esperamos que prefeituras de cidades históricas como Paraty, Tiradentes e Mariana, todas no Brasil, se sintam motivadas, com mais este exemplo, a abrir mão de suas frágeis justificativas para a falta de acessibilidade.
Como funciona
O Sistemas de Itinerários Acessíveis, que pode ser acessado através de um portal on-line*, tem como base a estrutura do metrô e permite a consulta de percursos entre dois pontos previamente escolhidos. A Provedoria é a responsável pela articulação entre o portal e o usuário.
É uma iniciativa para garantir a sustentabilidade da cidade, que prevê o envelhecimento da população, e não exclusivamente deseja atender a pessoas com deficiência. Veja abaixo o flyer, que deixou muito clara a intenção do sistema.
Entrevistas com Lia Ferreira e João Pestana
Nestes dois vídeos, estão as entrevistas que fiz com Lia e João. Após esta parte, compartilho com você detalhes sobre a Torre dos Clérigos, importante ponto de interesse da cidade do Porto, que recebeu intervenções para a acessibilidade.
Torre dos Clérigos e a cidade vista do céu
Exatamente m 3/12/2015, data em que se comemora o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, foi inaugurado o Percurso Acessível e a Sala A + (Acessibilidade +) na Torre dos Clérigos, um dos principais pontos turísticos de Porto.
Aproveitando os trabalhos de renovação do edifício, foi instalada uma sala de percepção, que simula a experiência de subida ao alto da torre, uma vez que não foi possível proporcionar acesso ao topo. Ele tem 240 degraus, a passagem é estreita e não ofereceu condições para isso.
Confira o vídeo que fiz para mostrar a sala. Abaixo, te explico mais a respeito.
Segundo Lia Ferreira, “o objetivo deste trabalho foi alertar para a necessidade de uma mudança de paradigma e mostrar que, mesmo em património edificado secular, é possível fazer mais e melhor, promovendo a integração e inclusão de todos”. Não é necessário dizer que o Cadeira Voadora é totalmente fã dessa postura inteligente e inclusiva, não é mesmo?
Percurso acessível
O Percurso Acessível para a Torre dos Clérigos é composto por uma entrada lateral, que fica numa rua muito estreita (Rua da Assunção). Um segurança nos levou até essa entrada, porque nós não a estávamos encontrando.
Foi então que descobrimos que ela não fica liberada ao público, sendo necessário que o segurança a abrisse para nós. Na imagem, que é um print que fiz do Google Maps, você pode observar a ruazinha de que falei.
Através de uma rampa, tem-se acesso a uma sala, onde está a recepção, o banheiro acessível e o elevador.
Pedi para usar o banheiro, a fim de verificar a acessibilidade. O espaço era muito amplo, mas estava ocupado em grande parte com objetos dos funcionários, tais como sombrinhas, itens de higiene bucal, agasalhos. A funcionária tratou de afastar algumas coisas para que eu pudesse entrar.
O elevador nos levou até à Sala A +, no 4º andar, que tem uma cápsula cilíndrica revestida com painéis de cortiça (você a conheceu no vídeo que publiquei acima).
Dentro do cilindro, há sete monitores capazes de, em tempo real, mostrar as imagens que são capturadas por câmaras, posicionadas estrategicamente, no alto da torre. Infelizmente, no dia em que a visitamos, estava nublado e com chuva intermitente, então não foi possível ter visibilidade.
É importante mencionar que a sala está aberta a todos, e não exclusivamente às pessoas com deficiência, pois dessa forma ela não segrega este público. Afinal, tudo que é exclusivo não é inclusivo.
Igreja dos Clérigos
Iríamos visitar também a Igreja dos Clérigos, que faz parte do conjunto. Porém, não estava aberta no dia, apesar de ser horário de visitação, e não conseguimos entender a razão para isso. Certamente, algumas vezes tenho dificuldade de entender o sotaque lusitano, dependendo da pessoa que está falando, então esse pode ser o motivo. Infelizmente, não tivemos ocasião de retornar, já que ficamos poucos dias na cidade.
Para Lia Ferreira,
“Nós podemos estender os limites da inclusão, ou seja, podemos esbater os limites daquilo que se considera ser impossível. Eu pretendo devolver a cidade ao cidadão, devolver a cidade às pessoas, e não apenas à pessoa com deficiência, porque todos somos potenciais pessoas com deficiência ou incapacidade, porque as mesmas surgem com o avanço da idade”.
Para saber mais:
*Infelizmente, tentei acessar o site da SIA hoje (28/05/2023) e não consegui. Parece ter saído do ar. De qualquer forma, vou procurar me inteirar sobre o que aconteceu e, assim que conseguir, comunico aqui.
Porto: itinerário acessível | No centro histórico, a Estação Ferroviária de São Bento é um ponto de chegada e uma referência geográfica, de onde partem os três itinerários acessíveis sugeridos nesta página, assinala os pontos de interesse mais importantes.
Câmara do Porto mostra cidade acessível, inacessível e assim-assim | Para compreender ainda melhor como funciona o SIA, você pode ler esta reportagem
Para ter acesso ao perfil de Lia Ferreira no Facebook, clique aqui.
Querida Laura, seu blog me estimula a continuar acreditando em cidades para todas e todos. Agora que já temos o mapa de declividades podemos criar o Sia-BH, não acha?
Aproveito para lhe parabenizar pelo prêmio de gentileza urbana: compartilhar o saber é uma bela maneira de ser cidadão.
abraços do amigo Marcos Fontoura
Marcos, muito obrigada!
Saiba que vc sempre foi uma referência para mim, pelo conhecimento, pela ética, pela competência e pela disposição de compartilhar seu saber e lutar por um mundo mais justo.
Podemos criar o SIA com certeza! Voltei de Porto inspirada.
Um grande beijo!