Lamentavelmente, viagens aéreas têm sido fonte de dissabores para quem usa cadeira de rodas. A maioria dos aeroportos, definitivamente, ainda não está bem-preparada para lidar com pessoas com deficiência, e isso não só no Brasil.
Contudo, houve avanços nos últimos anos, isso é fato. E, no meu modo de entender, quanto mais viajarmos, mais colaboraremos para que o atendimento melhore. Afinal, nada como protestos e reivindicações reiterados.
Além disso, cada pessoa que viaja é um educador em potencial, e pode fazer muito por uma sociedade mais inclusiva, desde que se entenda capaz de influenciar positivamente os ambientes e aproveite as oportunidades para disseminar informações.
Faço viagens aéreas com relativa frequência e converso bastante com os funcionários das companhias aéreas e dos aeroportos. Por isso, reuni algumas informações que acho importante compartilhar, a fim de auxiliar você a ter uma experiência melhor.
Então, vamos ao que interessa? A seguir, dou dicas para vc adquirir a passagem e se virar no aeroporto, no embarque e no desembarque. No próximo post, finalizarei esta série, dando dicas para vc se virar melhor durante a viagem.
Antes da viagem
1 – Com qual equipamento você vai viajar: cadeira de rodas manual, cadeira motorizada ou scooter? Procure conhecê-lo bem, os prós e contras, a fim de escolher qual é o mais adequado para viajar e fazer um bom planejamento para (a) chegar e sair do aeroporto, (b) se locomover no local, incluindo ir ao banheiro, (c) entrar na aeronave e (d) se transferir para a poltrona.
Se viajar de scooter ou cadeira motorizada, esses equipamentos oferecem conforto para se locomover por longas distâncias; porém, vc precisa considerar o fato de que não há táxis adaptados na maioria dos aeroportos. Se seu equipamento não desmonta, isso pode vir a se transformar num problema. Além disso, dependendo do tamanho da scooter, pode ser que ela não entre no banheiro. Mas, em caso de necessidade, vc sempre pode pedir uma cadeira de rodas manual emprestada no aeroporto.
2 – Você não é cadeirante, mas tem mobilidade reduzida? Considere solicitar à companhia aérea (no momento da compra do bilhete aéreo, ou após, por telefone) uma cadeira de rodas para facilitar seu percurso dentro do aeroporto. Muitas vezes as distâncias a serem percorridas são longas demais.
3 – Antes de comprar a passagem, investigue no site das companhias aéreas todas as informações relativas ao tratamento dispensado aos usuários de cadeira de rodas ou às pessoas com mobilidade reduzida, dependendo de qual for o seu caso. Se ainda restarem dúvidas, ligue para a companhia a fim de desfazê-las. E solicite, via site ou telefone, a assistência de que necessitar, como, por exemplo, o auxílio de um funcionário para conduzi-lo até o portão de embarque.
4 – Você sabia que as companhias aéreas oferecem desconto para acompanhantes de pessoas com deficiência impossibilitadas de viajarem sozinhas? Para saber mais, clique aqui.
5 – Antes de efetuar a compra da passagem aérea, verifique (por telefone seria melhor) se você pode escolher o assento. Isso porque existem regras a respeito de qual assento pode ser destinado a uma pessoa que não tem condições de se virar sozinha em caso de pane. Já observei que, em viagens mais longas e aeronaves maiores, não é admitido que esse passageiro ocupe assento nas saídas de emergência, exatamente porque, em caso de pane, ele precisará de ajuda para deixar a aeronave. Sendo assim, seu assento será marcado no momento do check-in.
6 – Conheça as leis que regulam o atendimento pelas companhias aéreas. E tenha em mente que a forma de atendimento muda dependendo da companhia, do aeroporto e também do país. Independentemente da lei, comunique claramente a necessidade que tem e solicite ajuda, ainda que ela não esteja prevista. Você pode até ouvir um “não”, mas não perderá nada por tentar.
No aeroporto
7 – Não fique bravo se algum funcionário perguntar se você anda. O fato de utilizar cadeira de rodas não é comprovação de que você não consegue se locomover. Não são poucos os cadeirantes que andam: alguns utilizam órtese ou prótese, outros têm doenças degenerativas e conseguem se locomover por pequenas distâncias. E há pessoas que têm mobilidade reduzida e solicitam cadeira de rodas apenas para cobrir os longos percursos até o portão de embarque. Portanto, caso alguém lhe pergunte se vc anda ou se fica de pé, descreva objetivamente o que vc dá conta ou não de fazer, para que o atendimento prestado seja adequado.
8 – Se sua cadeira de rodas entrará na aeronave e se irá até o assento, somente a experiência poderá dizer. Tenha calma e experimente até onde dá para ir. Em caso de necessidade, solicite ajuda também para a transferência.
9 – Assim que entrar na sala de embarque, onde as pessoas formam fila para passar pelo raio-x, você será chamado à parte a fim de ser submetido a revista manual, já que, se vc passasse no raio-x, soaria o alarme por causa dos equipamentos que utilizamos.
Nesse momento, é possível que lhe solicitem a retirada dos sapatos; isso faz parte dos procedimentos. Se não consegue fazer isso sozinho, deixe claro. Se lhe pedirem para retirar a órtese ou a prótese e vc considerar que seja inviável, também deixe claro.
Uma vez, no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, a funcionária me pediu para retirar o aparelho ortopédico (na época, eu viajava com os dois: cadeira de rodas e órtese), mas ele estava por baixo da calça. Como eu iria retirar a calça em público? Impossível. Mesmo na cabine reservada seria difícil. Apesar das deficiências de comunicação, porque meu francês não era fluente, consegui que ela desistisse da empreitada. Mas não foi fácil.
10 – Para embarcar ou desembarcar, pode ser que o acesso à aeronave seja remoto (sem finger, que são aquelas pontes de acesso). Nesse caso, haverá algum tipo de equipamento para auxiliá-lo. O mais comum, no momento, é o ambulifit, uma espécie de caminhão com elevador. Há companhias que têm um próprio, como é o caso da Latam; há outras que o alugam da Infraero. E há outras que têm outro tipo de equipamento, como o Azul Lift, o Stair Trac ou a nova passarela da Gol, que estão presentes somente em alguns aeroportos.
Tenha em mente que, se o ambulifit for alugado da Infraero, ele deverá ser solicitado pela companhia com alguma antecedência, e a companhia pagará pelo uso, mesmo que vc desista dele. É por isso que vão te perguntar, até mais de uma vez, em alguns casos, se vc consegue subir escadas. Isso porque há pessoas que afirmam precisar do ambulifit e depois desistem; se levantam da cadeira de rodas e sobem as escadas. E a companhia arca com o prejuízo, porque, uma vez reservado o equipamento, não são aceitas desistências.
11 – Pessoas com deficiência são as primeiras a embarcar, mas as últimas a desembarcar. Você pode até embarcar por último, mas, de acordo com minha experiência, nada conseguirá fazer com que a tripulação permita que desembarque primeiro. Já perdi conexão e compromisso por causa dessa situação: o voo atrasou, e até que todo mundo saísse da aeronave para que eu pudesse sair, não havia mais jeito. Por isso, ao planejar seus horários, viaje com folga, considerando possíveis atrasos. Dê pelo menos duas horas de prazo entre conexões, por exemplo.
12 – Embora seja a prática mais comum, se você quer usar sua cadeira de rodas para desembarcar, comunique isso no check-in. Porém, pode haver companhia aérea que não permita o desembarque na sua cadeira. Isso já aconteceu comigo, em Nova York, e não adiantou protestar. Falaram que era questão segurança e não abriram mão de jeito nenhum. Se vc acha que não faz diferença, imagine uma pessoa que veste 38 assentada numa cadeira de obeso. Quase escorri pelo buraco que se forma entre o encosto e o assento… rs
13 – Assim que lhe devolverem seu equipamento, que na maioria das vezes viaja no porão e longe das suas vistas, verifique se houve algum dano. Em caso afirmativo, faça uma ocorrência imediatamente e questione sobre seus direitos. Sempre procure manter a calma, a fim de resolver tudo da maneira que menos lhe prejudique.
Espero que essas dicas o ajudem a solucionar os desafios que cercam as viagens aéreas. De forma nenhuma quero desanimá-lo a bater asas; minha intenção é dividir com vc minhas experiências! 😉
Boa viagem e até o próximo post, com dicas sobre como facilitar sua vida durante o voo!
Para saber mais:
Guia de direitos:
Artigo sobre direitos no check-in
Guia de Direitos e Acessibilidade do Passageiro com Deficiência em Viagens Aéreas
Embarques e desembarques: do Brasil aos Estados Unidos | Acessibilidade na Prática
Quer dizer 28 pulgadas dobrado
Eu vou pra estados unidos em Junho e ja comprei um Luggie scooter dobravel. Quero usar quando volto pra Brasil. Tenho duvidas. Eu comprei bilhetes de expedia e o voo esta com jet blue e azul. Liguei expedia para informar eles que tenho o scooter e eles falaram com azul e jet blue. Jet blue disse nao tem problema mas azul disse que precisa falar om eles no check in. Tenho medo que vou pra embarcar no florida e eles vao negar. Esse scooter esta o tamanho de um 28 puligada bagagem. O que acha?
Olá, John!
Eu não saberia responder sua dúvida. O mais seguro é o que a companhia aérea informar.
Boa sorte!
Eu pretendo fazer minha primeira viagem internacional em novembro, para Portugal.Mas estou com muitas dúvidas. Posso levar minha cadeira motorizada?Ela tem baterias de gel.
Olá, Denise, tudo bem?
Até onde eu sei, as baterias de gel são transportadas sem problemas pelas cias aéreas. Mesmo assim, sugiro que consulte o site da cia escolhida por vc, para conhecer as recomendações específicas, caso haja alguma.
Por exemplo: no site da United Airlines, há as seguintes informações:
“Baterias não sujeitas a derramamento: baterias secas e de gel são consideradas não sujeitas a derramamento e têm menos exigências para o transporte aéreo. Se a sua cadeira de rodas ou seu equipamento de auxílio à mobilidade usar como fonte de energia uma bateria não sujeita a derramamento que pode ser armazenada verticalmente no compartimento de carga da aeronave, a bateria não precisará ser removida desde que o seguinte ocorra:
– Deve existir pelo menos um meio eficiente projetado na cadeira de rodas ou no equipamento de auxílio à mobilidade, de modo que impeça a ativação acidental ou um possível curto-circuito.
– Se não for possível determinar uma maneira de impedir a ativação acidental do aparelho, os cabos das baterias serão removidos e os terminais da bateria serão isolados para impedir curto-circuito.
– A bateria deve estar presa firmemente à cadeira de rodas ou ao equipamento de auxílio à mobilidade e estar totalmente envolvida por uma cobertura rígida que seja marcada de forma apropriada”
Bem esclarecedor, não é mesmo?
Abraço!
Ando atrás de uma scooter dobrável pra mim.
Vi uma da marca Revo em um hotel que era colocada no carro com uma razoável facilidade.
Tem dica?
Paulinho, eu mesma não saberia te indicar. Mas a Ida, minha amiga de Campinas, tem uma scooter bacana, que pode ser desmontada em três partes, o que facilita muito. Vou ver com ela a marca e te falo!
Paulinho, a Ida enviou as seguintes informações sobre a scooter:
“Laura e Paulo, a scooter que uso é da marca PRIDE, modelo ELITE TRAVELLER PLUS, tem uma boa autonomia e um tamanho e peso que mesmo montada dois adultos conseguem colocar no porta mala de um carro tipo Honda FIT. Ela desmonta em 4 partes (assento, bateria, motor e base), todas se encaixam sem necessidade de parafusos ou conectoras. A bateria é seca o que permite viajar de avião sem problemas.”
Abraço!
Aguardando pelo próximo… principalmente no que diz respeito a uso de banheiro para cat em voos internacionais. Por enquanto não precisei para voos internos🙏😉
Olá, Renato! Obrigada pela dica. Eu não tinha me lembrado de abordar o cateterismo nos voos… 😉
Até a próxima. Um abraço!
Fui eu? Rs
Hahahaha
Acabo de verificar que foi sim!
Hahahaha
Acabo de verificar que foi sim!