Resenha de filme: “O jogo da imitação” e o desafio de ser diferente

A dica Netflix de hoje é “O jogo da imitação”, no qual entramos em contato com a história (real) de Alan Turing, um gênio da matemática britânico, cuja atuação foi decisiva para a derrota do nazismo. Suas criações foram precursoras dos computadores e da inteligência artificial.

Mas vocês já devem estar imaginando que não é por isso que indico o filme… E acertaram 😉

Esta é uma história pungente sobre um homem perseguido por seu gênio difícil e por ser homossexual. Vambora comigo saber mais?

 

enedict Cumberbatch transporta para a tela uma personalidade complexa e instigante

 

Excluir para uniformizar

 

Adoro filmes que mostram, de forma inteligente e competente, a história de pessoas consideradas “diferentes”. Em “O jogo da imitação”, é revelador conhecer o contexto – uma sociedade conservadora e excludente – e compreender mais a fundo o que faz com que rejeitemos aquele que se comporta de forma diferente da nossa.

Quem interpreta Turing é o fantástico Benedict Cumberbatch, que dá vida a um personagem complexo, rejeitado desde a infância. E isso acontecia não só pelos traços de personalidade e pela genialidade, mas também porque era homossexual.

Alan Turing, que teve uma atuação decisiva na história do Reino Unido e deixou um legado importantíssimo, foi condenado por prática de “indecência” e teve de se submeter a uma castração química. O preço que pagou por ser incompreendido em uma sociedade tão conservadora foi alto.

Todos nós, seres humanos, temos preconceitos, mas, no meu modo de ver, não é aí que reside o problema. O que faz a diferença é a consciência que temos desses preconceitos e como lidamos com eles. No próximo parágrafo, é sobre isso que vamos falar.

 

Crenças invisíveis

 

Pesquisas registram, curiosamente, que há um alto índice de pessoas que acreditam que há preconceito racial no Brasil, mas um baixíssimo índice de pessoas que se consideram racistas. Essa aparente incoerência dos dados nos mostra, na verdade, nossa própria incoerência, reveladora de quanto desconhecemos a nós mesmos.

Do mesmo modo, vale notar um outro exemplo que revela incoerência entre crença e discurso. Muitas pessoas com deficiência lutam por inclusão, mas somente para o seu segmento. Permanecem sem conseguir enxergar seu próprio preconceito e sua atitude discriminatória diante de pessoas do próprio segmento que são trans, por exemplo, e que são tremendamente rejeitadas…

Só que inclusão é para todos, não somente para os iguais a mim, do contrário deixa de ser inclusão e não passa de segregação disfarçada.

 

 

 

Ter preconceito é diferente de discriminar

 

Quando nossos sentimentos e crenças são invisíveis para nós mesmos, nosso comportamento pode ser ameaçador.

Ter preconceito é uma coisa. Discriminar, perseguir, excluir e cometer crimes de ódio porque não aceitamos o modo de ser do outro são outra coisa, e são comportamentos injustificáveis.

Enquanto nosso preconceito permanecer desconhecido até de nós mesmos, corremos um sério risco de ter comportamentos também inconscientes, mas inaceitáveis. Se o que acho não prejudica ninguém, isso é problema meu, mas, se prejudica outra pessoa, e até a sociedade como um todo, passa a ser um problema que requer ação coletiva para ser combatido.

Assista a “O jogo da imitação” !!! Pela atuação incrível de Cumberbatch, por ser uma história tocante e por ter muito, muito a nos revelar sobre comportamento social.

 

 

 

 

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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