Acessibilidade no transporte em Nova York

Como é a acessibilidade no transporte em Nova York, para quem usa cadeira de rodas, muletas ou andador? Aliás, qual é a melhor maneira de se locomover por lá, tendo deficiência física ou mobilidade reduzida?

Vou te explicar em detalhes, e aí você terá condições de decidir o jeito mais adequado para as suas condições e o seu gosto. Vem comigo?

 

As linhas de ônibus urbanos em NY são todas acessíveis! 

 

Este é meu segundo post da série sobre acessibilidade em Nova York. Na verdade, eles foram escritos em 2013, quando estive lá. Estavam no antigo endereço do Cadeira Voadora, e eu ainda não tinha tido tempo de passar para cá. Agora, estou transferindo todos, e o que é melhor: com atualizações.

 

Obs.: Todas as fotos pertencem ao acervo Cadeira Voadora e só podem ser usadas com autorização.

 

Em Nova York com rodinhas (ou muletas…)

 

Para começar nossa conversa, já vou adiantar que Nova York oferece muitas possibilidades para uma pessoa com deficiência física se locomover com conforto e segurança.

Certamente, o melhor modo dependerá de qual é a sua deficiência, mas também das suas preferências e até do clima que você vai enfrentar.

Para nós que moramos em cidades que não têm acessibilidade no transporte, ou em que ela é precária, poder escolher parece um sonho distante, não é mesmo? Mas em NY, sim, você pode!!

 

O que você vai encontrar neste post

 

Para adiantar e resumir o que você vai ler aqui, já te informo que todos os ônibus são acessíveis, mas nem todas as estações de metrô. Ainda há a opção dos táxis, acessíveis ou comuns. Mas a minha preferida é a pé, afinal a cidade é linda e em grande parte plana, o que favorece os deslocamentos.

Entretanto, pode não ser aconselhável se aventurar tocando sua própria cadeira, se você não tiver força suficiente ou se isso pode comprometer sua musculatura. Se não tem um acompanhante que possa ajudá-lo, que tal considerar a locação de uma cadeira motorizada ou de uma scooter?

A seguir, comento com você os prós e contras de cada uma das opções.

E, se você conhece a cidade e tem algo a acrescentar, compartilhe conosco?

 

Vale a pena recorrer ao metrô?

 

Duas fotos mostrando entradas de metrô em NY

Em algumas entradas de metrô, é possível encontrar o Símbolo Internacional de Acesso

E algumas têm músicos tocando…

 

Em minha modesta opinião, o metrô é um desperdício quando a cidade é muito bonita, sabe? E este é o caso de Nova York. Ainda assim, admito que ele pode ser útil em caso de deslocamentos longos, para economizar tempo e energia…

Vamos saber os detalhes, para você decidir se é compensador ou não recorrer a esse tipo de transporte?

 

Acessibilidade no metrô de NY

 

Em primeiro lugar, vamos lembrar que, para haver acessibilidade, nossa autonomia e segurança precisam estar garantidas. Ou seja, é necessário que possamos dispensar ajuda o máximo possível e que não corramos risco ao utilizar os equipamentos. Então, observe:

  • Somente algumas estações de metrô têm elevador. Porém, a Luana Sanches, que é cadeirante e esteve na cidade recentemente, me contou que está aumentando o número.
  • Todas as vezes em que utilizei o metrô na cidade, havia um espaço grande (um “gap”) entre a plataforma e o trem, o que torna o embarque e o desembarque inseguros e até perigosos. Não sei se isso é recorrente, mas acredito que sim.
  • Também me senti insegura dentro dos trens, porque balançavam muito, mas pode ser uma característica apenas dos que peguei.
  • E vale um alerta: você pode acabar andando mais pelos corredores das instalações do metrô do que se fizesse o mesmo percurso a pé, pelas ruas. Só que, no caso de optar pelo metrô, a paisagem deixará muito a desejar, pois o de NY é feio e sujo.

 

Outras características

 

Não sei se você sabe, muitas pessoas consideram o metrô de Nova York bem complicado, e, entre estas, estou eu… Ele é um dos mais extensos do mundo e forma um emaranhado que só vamos compreendendo com o passar do tempo.

Como há algumas estações acessíveis, você pode estudar o mapa e, com planejamento, conseguir se deslocar pela cidade usando esse tipo de transporte, sem passar apertos. Aqui e aqui, há outros alertas e muitas explicações.

Sugiro que retorne a este parágrafo após ler o texto inteiro e salvar esses endereços, para ler com calma depois. Assim, você não interrompe a sequência, não é mesmo?

 

Vai encarar?

 

Talvez, apesar de tudo, você queira ao menos experimentar o metrô. Dou o maior apoio! Acho que toda experiência vale a pena, e foi por isso que eu me aventurei algumas vezes pelo metrô de NY. Abaixo, deixarei mais links aos quais recorrer, combinado?

 

Álbum com 2 fotos mostrando Laura Martins no local destinado a cadeirantes, nos ônibus de NY

 

Circulando de ônibus

 

Para nossa alegria, todos os ônibus urbanos são adaptados.

Mas atenção, não fique muito próximo do meio-fio para dar o sinal, porque o motorista precisará de espaço para posicionar a rampa, que é ejetável.

Após subir, passe o Metrocard ou pague a passagem (somente se tiver o valor exato, pois o motorista não dá trocos) e informe imediatamente em que ponto você vai descer, pois essa informação é necessária para o condutor planejar a parada.

Assim que pagamos, ele vai expulsar as pessoas que estiverem assentadas nas poltronas destinadas a pessoas com mobilidade reduzida. Isso mesmo, expulsar; nenhuma vez eles foram delicados, o que achei justo, pois as pessoas deveriam se levantar assim que veem o cadeirante entrando. Não há como alegarem que não sabiam, pois há um aviso na janela.

A seguir, o motorista rebate a poltrona a fim de liberar o espaço onde ficaremos posicionados. Depois, ele fixará os cintos de segurança nela.

 

Adesivo na janela do ônibus avisa que o local deve ser liberado se entrar alguém que tenha mobilidade reduzida

 

Eficiência, mas nem tanto…

 

Das cerca de 10 viagens de ônibus que fiz, somente uma vez o motorista prendeu todos os cintos.

Como eu sempre estava acompanhada por alguém que conhecia o sistema de fixação, cheguei à conclusão de que os motoristas deixavam o serviço para eles… hahaha

Mas, se você estiver temendo pela sua segurança, é melhor solicitar que todos os cintos sejam fixados, caso isso não aconteça.

Para finalizar esta parte, achei bom me locomover de ônibus na cidade. Me pareceram bem mais seguros que o metrô e são relativamente vazios fora do horário do rush. Então, aperte os cintos e curta o passeio!

⇒ Clique aqui para ler dicas sobre os ônibus de NY no blog Sundaycooks.

 

Táxis amarelos típicos de Manhattan. Foto de Ad Meskens, publicada com licença Creative Commons.

Os famosos táxis amarelos que circulam em Manhattan (Foto de Ad Meskens, sem edição, publicada com licença Creative Commons)

Vai um táxi aí?

 

Quando estive em Nova York, não cheguei a usar táxis acessíveis, somente os convencionais, e isso ocorreu pouquíssimas vezes, então não serei uma boa informante a respeito.

Porém, minha experiência, e a de outras pessoas que conheço, me autorizam a te contar que os motoristas não são lá muito prestativos.

E, como são estrangeiros falando inglês, às vezes não é muito fácil a gente se entender com eles.

Porém, e isso vale para qualquer circunstância, em qualquer lugar, se precisar de ajuda, peça clara e objetivamente. Não espere que eles ofereçam! Fiz isso e deu certo.

 

Me indicaram este app para táxis acessíveis, mas não cheguei a usar. De todo modo, fica a dica. Saiba mais aqui.

 

Gorjetas

 

Atenção: as gorjetas para os taxistas são obrigatórias. Na verdade, eles poderão ser grosseiros se você não as deixar, porque consideram esse gesto uma ofensa.

Ao que parece, brasileiro não gosta muito de dar gorjeta. Em minha opinião, a gente deve seguir os costumes locais, até porque as pessoas te tratam melhor quando você as respeita, não é mesmo? O recomendável, segundo me explicaram, é deixar 15% do valor da corrida.

Dica 1: Considere os alertas do jornalista Ricardo Freire a respeito das gorjetas (clique aqui para ler). Ele é especialista em viagens, as informações são confiáveis, além disso os leitores deixam muitas dicas por lá.

Dica 2: Clique aqui para ter acesso ao Accessible Dispatch, um site de táxis acessíveis. Tem aplicativo para baixar em seu celular!

 

A pé!!!!

 

Inegavelmente, este é meu “meio de transporte” preferido, porque assim fica mais fácil interagir com as pessoas, parar nas lojas preferidas, comer alguma coisa, posar para fotos, conhecer lugares inusitados, comer de novo, posar para fotos de novo – e efetivamente a gente pode dizer que conheceu a cidade! hahaha

Olhe pro céu, olhe pro céu, olhe pro céu!!! A luz de Nova York é linda, os prédios são lindos… mas cuidado para não trombar em ninguém!

Andando pelas ruas, você sente o humor das pessoas e percebe como ele é diferente em cada bairro. Cruza com crianças, cachorros, pessoas idosas e – olhe que legal! – com outros cadeirantes. Muitos! Os olhares de cumplicidade se encontram e você pode até começar um papo!

NY é segura, pois há câmeras por todos os lados, além disso a polícia e os bombeiros podem ser facilmente acionados e chegam rapidamente. Para melhorar, é fácil de se locomover, porque as ruas são numeradas.

Se chover, vale entrar em alguma loja ou cafeteria e aproveitar para compensar as calorias perdidas na caminhada, comendo maravilhosos cupcakes e chocolates…

 

Dicas para se dar bem no trânsito

 

♥ Antes de mais nada, saiba que os motoristas respeitam o sinal de trânsito. Mas atenção: quando ele abre para o pedestre, os carros que estão fazendo conversão podem prosseguir. Por causa disso, preste muita atenção ao atravessar. Em geral, esses motoristas param para os pedestres, principalmente se forem cadeirantes, desde que eles o vejam, é claro.

♦ De modo geral, as calçadas estão em bom estado, mas algumas têm uma leve inclinação.

♠ Há rebaixamentos em grande parte das vias, principalmente em Midtown (a parte mais central da ilha). Quando não os há, o meio-fio costuma ser baixo.

♣ Os novaiorquinos, de modo geral, dão espaço para o cadeirante assim que o veem, seja na calçada ou para entrar em algum local. Ninguém atrapalhará a sua circulação.

♦ Talvez você já saiba que é comum, nos Estados Unidos, as pessoas acionarem a justiça, quando acham que outra pessoa é responsável por algum acidente que sofreram. Por exemplo, se uma pessoa ajuda outra, e esta cai e se machuca, poderá recorrer à justiça. Talvez esta seja uma das razões pelas quais não é comum as pessoas oferecerem auxílio e até parecerem indiferentes… Apesar disso, fui bastante ajudada por lá, quando precisei.

♥ Outra dica: se há placa ou material informativo nos locais, leia tudo e evite perguntar, pois as pessoas não terão boa vontade de explicar o que já está explícito.

 

Acessibilidade em Nova York

 

Laura mostra o botão que deve ser acionado para que a porta se abra. Ele tem o tamanho de sua mão.

No Lincoln Center, abri a porta acionando este mega botão 

Nesta parte, deixarei algumas informações para você se aventurar com mais segurança pela cidade. Entretanto, minha intenção não é te deixar com medo de passear, somente te fazer alguns alertas, combinado?

 

♥ Nem todas as lojas são acessíveis para cadeirantes, mas as grandes redes são, incluindo provador e toalete. Visite, então, H&M, Zara, Century 21, Duane Read e por aí vai.

♦ Dificilmente encontrei em NY uma loja com portas que se abrem sozinhas, como estamos acostumados no Brasil. Surpreendentemente, a maioria tinha portas giratórias e, ao lado, uma porta que se abria do modo convencional. Mas estas portas eram incrivelmente pesadas! Para ser sincera, não compreendo a razão de ser assim, em uma cidade tão acessível.

Contudo, praticamente todas as vezes que me aproximei de uma porta dessas, alguém se antecipou e a abriu para mim. Além disso, em alguns estabelecimentos, havia um botão ao lado da porta. Quando era acionado, a porta se abria sozinha.

♣ Há muitos restaurantes que não são acessíveis. Há, por exemplo, os que se localizam em sobrados, com uma pequena escada para o andar de cima ou para o subsolo. Mas há muitos acessíveis (talvez a maioria? Acho que dependerá da região). Além disso, “diners”, cafeterias e redes de fast-food são acessíveis. Você poderá, por exemplo, recorrer ao Starbucks quando quiser descansar um pouco, usar wi-fi gratuito ou utilizar o banheiro. Vários deles têm toaletes acessíveis.

♠ Caso opte por locar cadeira motorizada, deixo aqui uma dica de endereço. O ideal, na verdade, é fazer a locação com antecedência, ainda no Brasil, porque eles não têm muitos itens à disposição.

 

Impossível não curtir os passeios

 

Para finalizar, saiba que você pode atravessar o Rio Hudson usando o barco que chamam de ferry. Eu fiz a travessia e adorei!

Bem, pessoal, por hoje é só, mas ainda há muitas histórias para contar sobre Nova York.

A seguir, no Para saber mais, deixo links para meus outros posts, além de posts de outros blogs, com o fim de te deixar bem informado(a) o suficiente para amenizar todas as chances de perrengue.

Até a próxima!

Laura

 

Cadeirantes têm acesso ao ferry

 

Para saber mais

 

De cadeira de rodas em Nova York | Top of the Rock | Post de Laura Martins (contém links para todos os posts sobre NY)

Guia para acessibilidade nos pontos turísticos | Publicação super completa da prefeitura de NY

Entenda a lógica da numeração das ruas

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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