Thiago Helton e a beleza para além da aparência

 

 

Na foto, Thiago Helton está com o pai.

Na foto, Thiago Helton está com o pai.

 

A imagem de uma pessoa em cadeira de rodas, durante muitos anos, esteve longe de ser relacionada à beleza e à sensualidade. A pessoa era vista como inválida, e poucas conseguiam escapar ao estereótipo de coitadinhas ou seres humanos dignos de pena.

Não faz tanto tempo assim que pessoas com deficiência, já de posse de uma autoestima mais trabalhada, se sentiram fortes o suficiente para se mostrar. E se mostraram belas em sua singularidade, realçando seus pontos fortes e deixando de dar valor àqueles aspectos que não favoreciam a própria beleza. Aliás, como qualquer pessoa, não?

Se mostraram também charmosas, sensuais e elegantes. O que essas pessoas têm em comum é que investem em autocuidado. Se tratam com zelo e carinho, e não necessariamente têm padrão econômico mais alto para comprar roupas de grife ou recorrer a procedimentos estéticos. Afinal, para ser belo, o dinheiro pode ajudar, mas está longe de ser o que definirá a beleza. Fosse assim, e não haveria pessoas ricas feias – nem pessoas belas sem dinheiro…

Há alguns meses, publiquei no blog um texto sobre a beleza da pessoa em cadeira de rodas (clique aqui para ler), e desde então venho insistindo no assunto. Isso porque, ainda hoje, muitos cadeirantes são negligentes com a própria aparência e descuidados com o próprio corpo – sim, como muitas pessoas que não têm nenhuma deficiência. No pacote, está uma postura que inclui ombros caídos, expressão carrancuda ou triste, às vezes roupas que não combinam com a pessoa, cabelo mal-cuidado e por aí vai.

Acho que a própria pessoa tende a ficar com pena de si mesma ao se ver no espelho com uma aparência dessas… Além disso, essa postura não é colaboradora quando se trata de conquistar um emprego ou interagir socialmente.

O fato é que estar na cadeira de rodas, usar órteses ou próteses não é sinônimo de perda de qualidades estéticas. Não necessariamente. Para provar isso, está conosco hoje Thiago Helton. Vamos ouvir o que ele tem a dizer sobre o tema?

 

Na foto, Thiago Helton está acompanhado de Jéssica, o amor da vida dele <3

 

 

Entrevista | Thiago Helton Ribeiro

 

Seja qual for a ocasião, Thiago se apresenta de forma impecável. A roupa pode ser casual, nas ocasiões informais, ou alinhada, nos momentos que pedem solenidade, mas o que não muda é o esmero. Nota-se também cuidado com os cabelos, que estão sempre arrumados – ou desarrumados com estilo, com um corte moderno. O sorriso se faz presente, assim como os olhos vivos e interessados no interlocutor.

Em dezembro, Thiago se formará em Direito, pela PUC Minas. Atualmente é o apresentador do programa Faça Parte, que trata do universo da pessoa com deficiência e é produzido e transmitido pela Record Minas.

 

Cadeira Voadora | Thiago, para você, beleza é futilidade? Você se ocupa com sua aparência, no sentido de pensar na roupa que vai usar ou no corte de cabelo, por exemplo? Você acha importante estar bem vestido, ser elegante?

Thiago | Bom, futilidade nos remete à insignificância, e a palavra “beleza”, independentemente da intensidade de interpretação, penso não ser insignificante. Afinal de contas, simples cuidados pessoais com a aparência de qualquer pessoa já demonstram que a beleza tem alguma importância

Gosto de me sentir bem em todos os aspectos, e com o “Thiago exterior” não é diferente. Penso que as pessoas se tornam mais agradáveis quando se sentem bem consigo mesmas. Então eu tenho o cuidado de estar apresentável, gosto de manter um corte de cabelo legal e estar bem-vestido dentro do meu estilo de vida e também de acordo com cada momento ou ocasião.

 

Além de advogado, Thiago é apresentador do programa Faça Parte, transmitido pela TV Record Minas.

Thiago é palestrante e apresentador do programa Faça Parte, transmitido pela TV Record Minas.

 

Em sua opinião, a cadeira de rodas afeta negativamente a imagem da pessoa, tornando-a menos bela ou menos atraente?

Não. Eu não penso dessa forma. E ainda que pensasse assim, eu estaria limitando o belo ou o atraente, que, além de serem questões bem subjetivas, são conceitos que já existem muito antes de uma cadeira de rodas.

Mas esse reflexo negativo infelizmente pode afetar algumas pessoas em razão dos parâmetros de beleza que elas mesmas tomam para si. Eu tenho colegas que usam cadeira de rodas e que acabam se estigmatizando como não atraentes ou não belos, pelo simples fato de terem adotado, às vezes até de forma inconsciente, alguns padrões fixados pela mídia e pela sociedade de um modo geral. Mas, vamos refletir, grosso modo: será que alguém considerado bonito ou atraente perderia sua beleza pelo simples fato de estar sentado ou em pé?

 

Após o acidente que sofreu, que deixou como sequela a paraplegia, como lidou com as mudanças em sua aparência?

No meu caso a sequela foi de tetraplegia incompleta. Um pouco mais complicado, pois, além de algumas mudanças físicas, vieram limitações a serem superadas, como o simples ato de segurar um pente e conseguir ajeitar o cabelo sozinho, por exemplo. Como tudo mudou na minha vida após o acidente, eu tive que me adaptar à nova realidade, e com a minha aparência não foi diferente.

Hoje eu me cuido normalmente, gosto de manter a barba feita, cabelo bem-cortado e penteado, gosto de estar bem-vestido e apresentável. Isso não mudou na minha vida; antes do meu acidente, aos 20 anos de idade, eu já era assim. A diferença é que agora levo mais tempo para fazer algumas coisas e preciso de uma ajudinha para outras. Mas nada que me impeça de lidar com a minha aparência da forma natural possível.

 

Na hora de optar por uma peça de roupa, que fatores você leva em consideração: a facilidade de vestir a roupa, a sintonia com seu humor ou com seu gosto pessoal, a beleza?

Bom, eu não tenho tantos critérios assim para me vestir. A facilidade é um ponto dos mais importantes, até porque, em várias peças de roupas, um tetra com a lesão mais alta como a minha acaba dependendo do auxílio de alguém para se vestir por completo. Mas gosto de manter o meu estilo de vestir.

 

Como se pode notar, a cadeira de rodas não afetou a elegância e o charme que Thiago demonstra, nas fotografias e pessoalmente. Nota-se nele uma autoestima fortalecida.

Como se pode notar, a cadeira de rodas não afetou a elegância e o charme que Thiago demonstra, nas fotografias e pessoalmente. Nota-se nele uma autoestima fortalecida.

 

 

As pessoas costumam elogiar sua aparência? Ou você nota olhares de pena ou de rejeição?

Até que eu costumo ser elogiado, mas talvez mais pelo meu jeito de ser do que pela aparência, embora eu seja muito bem resolvido quanto a isso. Modéstia à parte, eu me acho uma pessoa bonita e apresentável. Infelizmente, quando chego a algum lugar novo, às vezes noto um olhar diferente e já até ouvi um: “Que pena, tão bonito e na cadeira de rodas”. Fazer o quê, ossos do ofício. Minha namorada não pensa assim… rs Mas, como eu disse, quando nos sentimos bem, por dentro e por fora, querendo ou não, nos tornamos pessoas mais agradáveis em qualquer circunstância.

 

Na foto, Thiago aparece acompanhado de sua mãe.

Na foto, Thiago aparece acompanhado de sua mãe.

 

 

Para saber mais

 

Fanpage do programa Faça Parte

A beleza, a autoestima e a cadeira de rodas

Roupas adequadas para quem usa cadeira de rodas

Looks de viagem para  a mulher cadeirante

Fotografia como instrumento de inclusão

 

 

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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