A pouco menos de um mês do Dia das Mães, que tal uma reflexão sobre maternidade e mulher com deficiência? Gerar um filho não é a única forma de vivenciar a experiência de ser mãe, não é verdade? Por isso, no texto de hoje, Fatine Oliveira fala de um amor muito especial: o da tia.
Nem todas as mulheres querem ser mães
Antes de ser tia considerava crianças um desafio, talvez pelos constantes olhares curiosos, indiscretos, como a infância costuma ser. Não tive o desejo de ser mãe, não do modo convencional, mas me sentia atraída pela ideia de adoção. Ah, os devaneios da juventude, rs. Após ver um documentário que relatava a condição das meninas nascidas e abandonadas na China, alimentei fortemente o desejo de adotar uma chinesinha.
A vida se encarregou de mudar meus planos, e, ao invés de olhinhos puxados, vieram olhinhos verdes e um riso fofo pelas manhãs. Minha sobrinha, Juliana, foi meu primeiro contato com bebês e o início de uma completa mudança de olhar sobre o que é criar e educar uma criança.
Crianças são papel em branco?
Juju sempre foi muito fofa e obediente. Nasceu quando eu tinha 15 anos, por isso costumava brincar muito com ela, que respondia minhas traquinagens com aquele encantamento no olhar. Me acompanhava quando fazia maquiagem e, desde pequena, se mostrou interessada em se cuidar. Amava quando passava delicadamente um brilho em sua pequena boca com dentes faltando e saía feliz para mostrar aos avós o quanto estava bonita.
Seu crescimento se deu paralelamente ao meu amadurecimento pessoal. Estava enfrentando uma depressão na época, então muita coisa se perdeu neste processo. Mas pude viver sua infância e ver como é interessante acompanhar o desenvolvimento de uma pessoa.
Com o nascimento do meu sobrinho, essa percepção foi mais impactante ainda. Já com meus vinte e poucos anos, trabalhando e terminando uma faculdade, tive condições de avaliar melhor esse processo de crescimento.
Rodrigo já nasceu sabendo o que não queria, e sempre buscou de alguma maneira fazer todos “se dobrarem” às suas vontades, rs.
Com poucos meses já segurou sua mamadeira sozinho, e naquele dia soube que teria personalidade forte. Se comigo sua irmã aprendeu sobre maquiagem, ele parece nutrir a mesma paixão que tenho por Star Wars. Posso dizer que “a força acordou nele”, rsrs.
Foi então que percebi quão enganados estamos ao considerar que crianças são um papel em branco quando nascem. E tudo aquilo que pensei sobre a infância não representava nem metade da realidade.
A doce descoberta do mundo
É lindo observar o primeiro olhar de um pequeno; tudo vira novidade, porque de fato é novidade. Tudo é doloroso, gera aquele choro largado, cheio de sofrimento, porque realmente é uma dor muito grande. São diversas emoções imensas, puras e livres das moralidades e regras sociais. Contudo, nem por isso a criança deixa de ter personalidade.
Desde pequenos temos traços que representam bem o modo como iremos lidar com o mundo. Há crianças mais quietas, outras questionadoras, curiosas e algumas podem até ser “maldosas”.
Cabe a nós, adultos, conduzir seus passos para que possam crescer de forma saudável e tornar-se boas pessoas. Ensinar o caminho das pedras, porém sabendo o momento de deixá-los seguir a jornada sozinhos para aprenderem com seus erros. Precisamos impor limites para entenderem que a vida não é sempre do modo que ansiamos. E não ter tudo na mão é importante, pois nem todo desejo será bom para nós.
Com certeza, não há receitas para educar uma criança. Vamos errar pela falta ou pelo excesso, mas jamais devemos deixar de tentar. O mundo tem urgência por mudanças, e elas começam com a visão que alimentamos em nossos pequenos.
Que seja um novo mundo de respeito às diferenças e ao amor. Afinal, como bem cantaram os Beatles: All we need is love (todos precisamos de amor).
Para saber mais
Outros textos de Fatine no Cadeira Voadora
Site de Fatine Oliveira | Disbuga