Palestra sobre acessibilidade no turismo | Colégio Logosófico

 

No dia 26 de abril, estive no Colégio Logosófico, em Belo Horizonte (Unidade do Bairro Funcionários), fazendo palestra sobre acessibilidade no turismo para 74 alunos (duas turmas) do 6º ano de Geografia. Uma iniciativa louvável, que espero seja copiada por outros colégios. Vou contar pra vocês em detalhes!

 

Uma professora engajada, uma escola com mente aberta, alunos entusiasmados e uma Cadeira Voadora: só pode dar coisa boa!

 

Era uma vez um e-mail na caixa de entrada

 

Passo apertada para dar conta de responder as mensagens que me chegam. Se eu não for disciplinada, não faço mais nada. Então, reservo um horário para isso e não o ultrapasso, o que faz com que às vezes algumas demorem a ser respondidas…

Mas não pensei duas vezes quando vi o e-mail simpático da professora Suki. Ela, que leciona Geografia no Colégio Logosófico, se apresentou e contou que trabalha com acessibilidade nas escolas em que leciona. Acrescentou que uma aluna do 6°ano, enquanto pesquisava o tema, descobriu meu blog e compartilhou com ela.

Ao dar uma olhada nas postagens, resolveu entrar em contato e me convidar para falar aos alunos sobre acessibilidade. Confesso: gostei tanto da ideia de falar para um público dessa idade que não pensei duas vezes: passei o pedido na frente de todos os outros. Me certifiquei de que haveria um mínimo de acessibilidade na escola e agendamos a data.

 

Na foto, a professora Suki está à minha direita.

 

Abordagem do tema

 

Embora eu me interesse por muitos temas, a acessibilidade no turismo é um dos meus preferidos; sempre trato do assunto em textos, palestras, entrevistas. Ainda assim, fiquei pensando na forma de abordá-lo, tendo em vista a idade da garotada.

Levei fotos e vídeos para começar o bate-papo mostrando o que é possível para um cadeirante viver quando encontra respeito por suas peculiaridades. Feito isso, falei de acessibilidade, inclusão, empoderamento, e foi então que vi que estavam muito bem-informados! Isso porque a Suki já estava trabalhando esse conteúdo. Fiquei refletindo sobre quanto a professora está fazendo um trabalho que certamente vai gerar excelentes frutos.

 

Investimento na nova geração

 

Falei um pouco dos desafios que encontro tanto nas viagens quanto aqui, onde moro, e como lido com eles. Expliquei quanto é importante usar criatividade, planejamento, contar com a ajuda de muita gente, mas também se envolver nas demandas do segmento das pessoas com deficiência e lutar por transformações sociais.

Também falei das cidades mais preparadas para receber pessoas com deficiência e de como esse fato faz com que encontremos inúmeros cadeirantes por suas ruas.

Os garotos ultrapassaram minha expectativa. Participaram com perguntas inteligentes e contribuíram com a própria experiência. Tenho fé nas crianças; são elas que vão mudar o mundo. A maioria dos adultos mostra cansaço e desencanto. Por isso, precisamos investir nos talentos delas com todo o empenho.

 

Empoderamento: o que viajar tem a ver com isso?

 

“Empoderar” é um verbo que significa dar ou conceder poder a alguém, ou a si próprio (empoderar-se).

Costumamos ter uma ideia um pouco distorcida do que significa “poder”. É preciso ter em mente que estar ocupando uma função de poder não significa que a pessoa o detenha. Por isso, trabalhei com os garotos a ideia de que poder tem a ver com a capacidade de tomar decisões adequadas e a autonomia para fazer isso.

Empoderar não é oferecer a alguém algo pronto, porque, se a pessoa estiver frágil, isso não terá utilidade. No meu modo de ver, para empoderar é preciso auxiliar a curar feridas, desenvolver competências, investir em ações que ajudem a pessoa a adquirir os meios de lutar por seus direitos.

Acredito que é empoderador promover a acessibilidade no turismo e oferecer ferramentas para pessoas com deficiência viajarem cada vez mais. Isso porque viajar dá acesso a novos olhares, observações, modos de ser e viver, o que abre cabeças, retira viseiras, mexe com preconceitos.

Ao viajar, testamos limites e até podemos ultrapassá-los. Tomamos decisões que nos fortalecem. Lidamos com imprevistos, desafios, desrespeito, o que nos motiva a exercer direitos e colocar um basta nos abusos. Cada vez que uma pessoa com deficiência põe a cara pra fora e roda o bairro ou o mundo, o lugar por onde ela passa tenderá a se tornar mais acessível. O Cadeira Voadora quer empoderá-la para lutar por isso.

 

 

Crianças, unam-se!

 

A parte final do encontro se destinou às perguntas dos alunos. Eles me propuseram questões importantes, e procurei dar respostas que fizessem pensar, para que a intervenção não se encerrasse ali.

Postarei abaixo pequenos vídeos mostrando algumas dessas perguntas, para que possam ter ideia de como foi.

No final, ao agradecer e me despedir, incentivei as crianças a jamais deixarem que o conhecimento que adquirirem fique sem utilidade. E sugeri que, se acharem pertinente e se tiverem algo a compartilhar, criem um blog e comecem essa interação com a comunidade.

 

Num dos slides, falei sobre a missão do Cadeira Voadora

 

Gratidão é memória do coração

 

Não posso deixar de agradecer à Camila, a aluna que descobriu meu blog; à professora Suki, pelo trabalho que tem feito e pelo convite; à coordenadora Daniella, pelo apoio para que o evento acontecesse; e à escola, por incentivar esse gênero de atividade.

Espero que a turma transforme as informações em sabedoria para caminhar durante os anos que tiverem pela frente. Se 10% desses garotos, em sua futura profissão, ou em sua ação no mundo, colocarem em prática uma parte do que foi falado, teremos, sem dúvida, uma pequena contribuição para que o mundo melhore.

E espero também que professores e escolas convidem pessoas com deficiência para falar sobre acessibilidade e inclusão para seus alunos. Não é razoável continuar formando indivíduos que não se interessam pelo outro, não sabem o que é inclusão,  não sabem se colocar em lugar que não o seu e do seu grupo. É preciso pensar no futuro da humanidade, e não apenas em aprovação no Enem ou sucesso financeiro, concordam?

 

Nos 30 minutos finais, os alunos tiveram a oportunidade de apresentar perguntas

 

Clique aqui para conhecer o blog da professora Suki e o trabalho que ela desenvolve com os alunos do 6º ano de Geografia.

Abaixo, vocês vão encontrar alguns pequenos vídeos com respostas que ofereci para as questões que os garotos me apresentaram.

 

Laura Martins é idealizadora e editora do blog Cadeira Voadora. Ele foi criado em 2011 para espalhar reflexões sobre o universo da pessoa com deficiência e compartilhar informações sobre viagens.

Sua esperança é ajudar as pessoas com deficiência a confiar nas próprias asas – ou buscar, aqui, uma asa pra chamar de sua. Sua crença é que isso é empoderador, especialmente porque a proposta é voar juntos.

Deixe um comentário ou envie um e-mail para fazendoacadeiravoadora@gmail.com

 

Vídeos com trechos de respostas a alguns questionamentos dos alunos

 

 

 

 

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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