Violência contra a mulher com deficiência

Kátia Ferraz Ferreira (presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência e coordenadora da Rede Mineira de Tecnologia Assistiva) Foto: Pollyanna Maliniak/ALMG

Kátia Ferraz (presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência) esteve presente no Ciclo de Debates promovido pelo Legislativo mineiro
Foto: Pollyanna Maliniak/ALMG

 

A violência contra as mulheres com deficiência foi um dos temas discutidos no dia 3 de março, no Ciclo de Debates Dia Internacional da Mulher – Mulheres contra a Violência: Autonomia, Reconhecimento e Participação, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Estive presente ao evento, fazendo uma intervenção de contextualização antes da fala de Kátia Ferraz, presidente do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Neste post, trago para vc a reflexão que apresentei e os links para que possa se informar melhor sobre o assunto.

Em 8 de março celebramos o Dia Internacional da Mulher. Sem dúvida, temos avançado na conquista de direitos, mas há muitas razões para continuar lutando, e uma delas é a violência que nos atinge.

E a mulher com deficiência está duplamente exposta à violência, por ser mulher e por ter uma limitação física, sensorial ou intelectual, o que a torna mais vulnerável e com menor condição de se defender. É preciso lembrar que a violência tem maior intensidade quando há desigualdade de condições entre vítima e agressor.

Pesquisas apontam que cerca de 40% de mulheres com deficiência no mundo é vítima de violência. E seus agressores, como acontece entre a população idosa, estão principalmente entre familiares e cuidadores, o que é profundamente lamentável. Sabemos de caso de mulheres tetraplégicas ou com deficiência intelectual que são estupradas por aqueles que são encarregados de cuidar delas. A situação só é descoberta quando uma gravidez acontece.

 

Ciclo de debates promovido pelo Legislativo mineiro Foto: Pollyanna Maliniak/ALMG

Ciclo de debates promovido pelo Legislativo mineiro
Foto: Pollyanna Maliniak/ALMG

 

Também estive presente ao debate, fazendo uma intervenção de contextualização. Foto: Pollyanna Maliniak/ALMG

Também estive presente ao debate, fazendo uma intervenção de contextualização.
Foto: Pollyanna Maliniak/ALMG

 

Indiferença no sistema de saúde

 

Mas, como todos sabemos, a violência não se resume à agressão física.

“Negar ou restringir o acesso a direitos básicos e a fazer suas próprias escolhas é uma das formas mais comuns de desrespeito às pessoas com deficiência.”

(Folder do Encontro Regional sobre Violência contra Pessoas com Deficiência)

 

Penso que uma das graves formas de violência que ainda atinge as mulheres com deficiência no Brasil é a invisibilidade. Ou seja: em muitas circunstâncias, somos tratadas com indiferença; é como se fôssemos invisíveis. Sendo irônica, no sistema de saúde isso fica muito visível. Quer ver?

Quando uma usuária de cadeira de rodas, por exemplo, precisa fazer um acompanhamento preventivo de câncer de colo do útero, ou câncer de mama, as clínicas e consultórios, de forma geral, não oferecem acessibilidade. Ainda há poucos mamógrafos adaptados, e desconheço consultório ginecológico, em Belo Horizonte, cuja maca tenha altura regulável. Em sua cidade é diferente?

Essa circunstância retira da mulher a autonomia. Já parou para pensar? Ela tem de abrir mão da privacidade e recorrer a acompanhantes para fazer uma simples consulta ginecológica, pois precisará ser carregada para ter acesso à maca. Quantas vezes já deixei de ir a determinada clínica ou consultório por não dispor de acompanhante nos horários oferecidos, e a recepcionista me responder que o consultório não dispõe de acessibilidade nem de pessoas para auxiliar? Mas quantas mulheres cadeirantes, em nosso país, teriam condições de recorrer a uma clínica que seja acessível? Quantas clínicas e consultórios do SUS são acessíveis?

Tudo leva a crer que o sistema de saúde (público ou privado) tem nos tratado como se não tivéssemos corpo, como se não ficássemos doentes, não engravidássemos. Isso, apesar dos avanços, incontestáveis, uma vez que a lei obriga edifícios de uso público a serem acessíveis. Mas ainda há muita maquiagem ocultando problemas.

E quanto ao pré-natal? Como é que uma mulher surda se comunica com o recepcionista, a enfermeira, o médico? Será que eles conhecem a linguagem de sinais?

Tais situações são constrangedoras e constituem, de fato, focos de violência que são inaceitáveis em nossa cultura e que precisamos urgentemente resolver.

Atualmente, diversas instituições cumprem o papel de empoderar mulheres para que estejam menos vulneráveis às múltiplas situações de violência. A informação exerce um importante papel: conhecendo nossos direitos, nos fortalecemos para lutar por eles. Mas precisamos nos unir, para que nossa luta tenha mais força. A pessoa com deficiência avançou na conquista de direitos, mas há um longo caminho a percorrer.

 

Não serei o poeta de um mundo caduco / Também não cantarei o mundo futuro / Estou preso à vida e olho meus companheiros / Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças / Entre eles, considero a enorme realidade / O presente é tão grande, não nos afastemos / Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Mãos Dadas | Carlos Drummond de Andrade

 

Para saber mais:

 

Assembleia discute violência contra mulher com deficiência

Consciência para frear violência – reportagem de 4 minutos com entrevista minha, entre outras, sobre a questão da violência contra a mulher.

Programa Estadual de Prevenção e Combate à Violência contra Pessoas com Deficiência (SP)

 

A violência fica mais intensa quando há desigualdade de forças entre vítima e agressor. Isso fica claro nesta imagem, concorda? (Tirinha da Turma da Mônica - Maurício de Souza Produções)

A violência fica mais intensa quando há desigualdade de forças entre vítima e agressor. Isso fica claro nesta imagem, concorda?
(Tirinha da Turma da Mônica – Maurício de Souza Produções)

 

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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