Yoga para cadeirantes

Como costuma acontecer em outras situações, não é fácil encontrar salas acessíveis para que nós, cadeirantes, possamos praticar yoga. É lamentável, porque acabamos optando por não praticar ou por contratar um professor domiciliar, o que tem a inconveniência de termos de abrir mão do contato com colegas. Vamos conversar sobre isso? Bora comigo!

[Post publicado originalmente em maio de 2018 e atualizado em março de 20224]

Laura está assentada no chão, realizando uma postura de yoga. Atrás dela, está sua cadeira de rodas.

Até que eu chegasse a realizar esta e outras posturas, foi preciso persistência. Mas os próprios resultados nos incentivam a prosseguir.

 

Quem pode praticar yoga?

 

Laura está assentada de costas para a câmera. Está assentada no gramado, em uma praça, com as pernas cruzadas, em postura de yoga.

Praticando yoga em uma praça silenciosa e arborizada

Yoga é para todos, independentemente de a pessoa conseguir, ou não, fazer as posturas próprias da prática. O importante é que ela atinja os objetivos que deseja alcançar, com a atividade física ou com a prática em sua totalidade.

Vale lembrar o provérbio oriental: “O dedo aponta a Lua. O ignorante olha o dedo; o sábio vê a Lua”. Ou seja, o objetivo da aula é levar o aprendiz a fazer os movimentos de forma impecável, ou atingir os objetivos relativos às posturas?

Sem dúvida, é preciso lembrar que yoga não é somente movimento ou postura.

Além disso, o que você pode alcançar ou não, caberá a você descobrir, baseado no conhecimento do próprio corpo, nas recomendações do médico ou do fisioterapeuta, no bate-papo com o professor e nas tentativas que vier a fazer.

Provavelmente conseguirá avançar um pouco a cada dia, como acontece comigo.

 

Yoga acessível

 

“Se você tem um corpo e uma mente, se você respira, o yoga é para você”

 

Assim se expressou Jivana Heymam, proprietário do Yoga Center Santa Bárbara, na Califórnia, Estados Unidos, e fundador do Acessible Yoga.

Independentemente de quem você seja e das suas limitações, e ainda que não tenha acesso a um professor que tenha prática com pessoas com deficiência, sempre é possível encontrar uma maneira de se beneficiar com a prática do yoga.

 

Professora Luciane Araújo

 

Luciane me contou que já fez yoga até mesmo com pacientes acamados, em hospitais

Comecei a praticar yoga há cerca de 30 anos, em uma sala no centro de Belo Horizonte, onde não havia acessibilidade. Porém, como à época eu usava órtese e muletas, e não cadeira de rodas, conseguia entrar em quase qualquer lugar e usar quase qualquer banheiro.

Nessa ocasião, a atitude da minha então professora Alcione Ramos (Gangadhara Saraswati), que não acreditava na necessidade de nada “especial” para que eu pudesse praticar, foi importante para conseguirmos realizar não só aulas bastante produtivas, mas até mesmo uma coreografia.

Fiquei muitos anos sem praticar, e, em 2018, encontrei condições de voltar. Mas a situação era outra, pois eu havia decidido utilizar exclusivamente cadeira de rodas para me locomover. Então, precisaria de um local com entrada plana e banheiro adaptado.

Depois de uma longa investigação, encontrei a sala da excelente professora Luciane Araujo, com quem pratiquei durante algum tempo.

 

Naturalmente inclusivo

 

Fiquei satisfeita com a postura dela de estar aberta a receber todas as pessoas. Afinal, o yoga é naturalmente inclusivo; os professores é que nem sempre são…

Fiz uma breve entrevista para que ela própria nos explicasse os benefícios que podemos alcançar com a prática. Está no fim deste post. Infelizmente, ela precisou mudar de endereço, e agora a sala não é acessível.

A seguir, vamos saber mais sobre a possibilidade de personalizar a prática para que atenda às peculiaridades de cada um?

 

Yoga personalizado

 

Basta um espaço e um tapete…

Assim, passei a fazer aulas domiciliares com Luciane e vi os resultados melhorarem sensivelmente. Afinal, dessa forma, a professora tinha condições de dedicar a mim toda a sua atenção e de personalizar os exercícios.

Infelizmente, precisei interromper a prática mais uma vez, por causa de agenda, mas com a intenção de retomá-la logo que possível.

Um tempo depois, pude retornar à prática, desta vez orientada pelo querido amigo Thiago Anicio, que é professor de yoga e meditação. As práticas, também domiciliares, trouxeram excelente resultado, e tudo de que precisei foi um tapete de yoga e algum espaço livre.

Mas, como já sabemos, o yoga pode ser realizado por qualquer pessoa, em qualquer lugar. Para isso, porém, não há como abrir mão de um professor competente, que não tenha a mente engessada.

 

Entrevista com Luciane Araújo

 

Esta entrevista foi feita em 2018, logo após nossa aula de yoga, na sala da professora. Então, não repare minha voz “pastosa” e a expressão sonolenta, ok? Culpa da prática… rs

Espero que gostem!

 

 

 

Para saber mais:

 

Reportagem sobre o yoga, contendo entrevista comigo e com o professor Thiago. Assista a partir do ponto que selecionei:

 

 

♥ Instagram de Rodrigo Souza, professor de yoga e cadeirante

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♦ Yoga para Todos: Prática com cadeira

♣ Accessible Yoga (EUA)

 

Documentário

 

Por acaso, em 2018 descobri, no canal Philos, da Net (Now), o documentário “Como a ioga salvou a minha vida” (Un souffle de liberté). Segue uma breve sinopse:

Após um acidente e uma delicada cirurgia de coluna, Stéphane Haskell fica paraplégico. Na busca por ficar livre da dor e resgatar sua independência, seu reencontro com Carolina, professora de yoga, vai mudar sua vida. Ela o inicia na prática e o ajuda a se reapropriar de seu corpo e a enxergar além.

Apesar da dor, ele se recupera pouco a pouco, e acaba por partir em uma busca pessoal. É assim que vai ao encontro de pessoas que o yoga pôde auxiliar, se abrindo a um mundo novo, em busca da cura da alma e do corpo.

 

 

Ele nos leva a diferentes países – EUA, Quênia, Índia – e a diferentes ambientes – prisão, colégio, centro médico – a fim de descortinar realidades que foram impactadas pela prática do yoga. Não se trata de milagre, nem de remédio para todos os males ou todas as pessoas. Mas de descobrir que um sopro de liberdade pode estar mais perto de nós do que pensamos.

 

Infelizmente, o filme não está mais disponível no streamming, em nenhum provedor que eu tenha consultado. Encontrei apenas a versão original, em francês.

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

6 Comments

  1. Ana Cristina De Mattos

    Olá! Tenho uma pergunta para te fazer. Se não houvesse encontrado essa sala maravilhosa, teria interesse em uma plataforma que tivesse disponível yoga na cadeira?

    • Acho que o app seria útil, mas eu sempre optaria por procurar outra sala ou por professor que me atendesse em domicílio.
      Não estou fazendo mais yoga nesta sala, porque a professora se mudou para outra, onde não há banheiro adaptado.

  2. Samira Figueiredo Tavares

    Olá Laura, tudo bem?
    Encontrei sua postagem ao procurar por referencias de yoga para pessoas com deficiência em contexto escolar. Estou finalizando minha segunda formação em yoga e trabalho no setor de educação especial no município de Natal (antes era professora do AEE), então quero poder conhecer mais de práticas de yoga inclusivas. Por enquanto não estou encontrando muitas referencias… o documentário em francês foi desativado, infelizmente.

    De toda forma, agradeço sua postagem e gostaria de conversar mais com você se for de seu interesse.

    saudações

  3. Oi, achei bacana a matéria mas fiquei com dúvidas, não consigo ficar no chão e nem descer sozinha da cadeira neste caso como uma pessoa com mobilidade reduzida pode praticar Yôga. Procurei até na internet e não achei nada. Tenho dor crônica e isso poderia me ajudar nesse processo. O documentário mostra uma pessoa com condições de fazer os exercícios.

    • Ei, Carol!

      Como eu disse no post, cada um definirá seus objetivos junto com o instrutor, assim como o que é possível fazer e o que não é.

      Se vc tem um corpo e se vc respira, então pode praticar, nós já sabemos, né? Na cama, na cadeira de rodas ou no tapetinho.

      O instrutor, os colegas ou mesmo um acompanhante podem auxiliar a descer da cadeira, se for o caso.

      No que se refere a mim, consigo descer sozinha, mas não subir. Os colegas me auxiliam. E consigo ficar sentada/deitada no tapetinho e fazer dos movimentos, ainda que alguns precisem ser adaptados. Não tem problema: o importante é atingir o objetivo proposto para aquele movimento. Isso será explicado pelo instrutor.

      A parte do relaxamento pode ser feita por qualquer que possa acompanhar a fala do instrutor.

      Eu também tenho dor crônica, e essa é uma das razões para que eu faça. A outra é ficar centrada e focada.

      Tente! Talvez vc chegue à conclusão de que será mais simples do que pensa.

      Grande abraço!

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