Acessibilidade em Mariana, MG

No post passado, você leu sobre a viagem de trem de Ouro Preto até Mariana. Agora, é a vez de conhecer um pouquinho da segunda cidade desse roteiro! Será que dá pra rodar por lá usando cadeira de rodas? Vou te contar agora!

 

Estou em frente à Igreja do Carmo, que tem acessibilidade zero. (Todas as fotos pertencem ao acervo do Cadeira Voadora)

 

Se ainda não leu sobre a viagem de trem e as atrações de Ouro Preto, é só clicar aqui ! Este post é a continuação dele, que terminou exatamente com nossa chegada à estação ferroviária de Mariana.

Não sei se você sabe, Mariana foi a primeira capital de Minas Gerais e é uma das cidades mais importantes do Circuito do Ouro.

Apesar de não ser famosa como sua vizinha Ouro Preto, asseguro que vale a pena conhecer seus sobrados, igrejas, a praça com coreto e chafariz, assim como as ruas históricas, repletas de belas construções e igrejas.

 

#DicaCadeiraVoadora

Não se esqueça de que, se optar pela viagem de trem, não haverá muito tempo para vasculhar a cidade. Afinal, o retorno é no mesmo dia.

Caso ache a cidade tão rica de atrações que queira retornar, o ideal, em minha opinião, seria fazer isso de automóvel e até pernoitar, caso encontre hotel com acessibilidade.

Apesar de a área histórica de Mariana ser pequena, seria preciso um tempo maior para percorrer igrejas e museus e também conhecer a Mina da Passagem. De qualquer forma, acompanhe neste post quanta coisa conseguimos conhecer em algumas horas…

 

A versão impressa deste mapa pode ser obtida no Terminal Turístico. Clique aqui para ter acesso à virtual.

 

É bonita, mas…

 

Ao clicar no vídeo abaixo, prepare-se para sentir uma vontade maluca de conhecer a cidade…

Porém, caso você seja cadeirante, não se anime demais, ou, pelo menos, não desconsidere as dificuldades. No fim deste texto, apresento vídeos que lhe darão uma ideia de quão longe Mariana está de oferecer dignidade às pessoas com deficiência.

E certamente não considero válida a justificativa de que isso ocorre porque se trata de patrimônio histórico tombado. Como já mostrei aqui, no Cadeira Voadora, inúmeras cidades, no Brasil e no exterior, demostram que é possível conciliar acessibilidade com preservação do patrimônio.

 

 

Acessibilidade em Mariana em detalhes

 

Estação ferroviária

 

Primeiramente, vou te apresentar a estação ferroviária, que já conta com intervenções para a acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida, e isso até me surpreendeu.

Havia rampa móvel para embarque/desembarque do trem. Embora fosse bastante íngreme, já considero avanço. No vagão histórico, encontrei um bom banheiro adaptado e espaço vago para a cadeira de rodas. E, na área externa, uma faixa com asfalto instalada sobre o calçamento de paralelepípedo facilitava imensamente o trajeto do local até a rua.

Dessa forma, não houve problemas para sair do local em direção à cidade.

 

Uma das faixas asfaltadas na estação ferroviária

Acesso ao vagão histórico sendo ajudada por funcionário com gentileza e competência

 

Circulação na cidade

 

Assim que chegamos, já nos preparamos para atravessar as ruas.

Apesar de termos encontrado passarelas elevadas para pedestres e rebaixamentos de calçada, infelizmente nada atendia às normas de acessibilidade. Mesmo assim, os rebaixamentos permitiram a passagem em segurança.

Então, atravessamos a avenida e subimos em direção ao Terminal Turístico. Ali, uma rampa íngreme podia ser usada por cadeirantes, mas, para ter acesso à sala onde estavam disponíveis mapas históricos da cidade, enfrentamos um degrau. O funcionário, muito gentil, nos passou informações sobre os pontos turísticos, bastante úteis.

 

Calçamento das ruas

 

Ao sair do Terminal Turístico, fomos em direção à Catedral da Sé, que estava em reforma. Então, passamos pela Rua Direita, que é histórica e abriga um rico casario.

Nessa rua, as calçadas são estreitas e estavam mal conservadas. Além disso, a rua é calçada com pé de moleque, ou seja, uma tragédia para quem usa cadeira de rodas, saltos, bengalas etc. Mesmo assim continuamos, ora pela calçada, ora pela rua.

A sorte foi que, como era domingo, o trânsito estava tranquilo.

 

Coreto e bandinha

 

Entramos à direita na Sé e seguimos rumo à Praça Gomes Freire. Já tínhamos sido informados que, aos domingos pela manhã, havia banda de música tocando ao lado do coreto. Assim que dobramos a esquina, já fomos contagiados pela alegria e pelo ritmo animado das canções! Eba!

Na praça havia uma entrada para pessoas com mobilidade reduzida no trajeto que estávamos fazendo, mas nenhuma facilidade para atravessar a rua.

Encontramos lá um ajuntamento de pessoas assistindo à contagiante banda, cujos membros eram desde crianças até idosos. Ficamos até terminar e então subimos a ladeira para conhecer as belas igrejas na Praça Minas Gerais.

Note que, além do bem-conservado casario do séc. XVIII que circunda a praça, há também restaurantes, lanchonetes e confeitarias. Entretanto, não vimos nenhum com acesso para cadeirantes. Como assim, gente?

 

Foto da Praça Gomes Freire, tirada da janela de um dos restaurantes. Observe o casario no entorno.

Foto da Praça Gomes Freire, tirada da janela de um dos restaurantes. Observe o casario no entorno.

 

Difícil pra qualquer pessoa

 

Como vocês já devem ter imaginado, não foi simples subir a ladeira. Confesso que eu já estava querendo desistir, mas o Leo insistiu, e acabamos chegando ao topo.

Não raras vezes pessoas nos ofereceram ajuda, e aceitamos uma força para subir a escadaria da Igreja do Carmo, cuja acessibilidade era zero.

Almoçamos na Praça Gomes Freire, apesar da ausência de bons restaurantes e de acessibilidade. Considere, então, tomar apenas um lanche e deixar para almoçar em Ouro Preto. 😉

Após o almoço, ao retornar à estação, passamos pela lateral da Praça da Sé e descemos escolhendo os caminhos mais acessíveis. Achamos que, desse jeito, foi muito mais fácil do que passar pela Rua Direita.

Assim, alcançamos facilmente a estação ferroviária.

 

O casario é lindo, mas as ladeiras são cruéis.

O casario é lindo, mas as ladeiras são difíceis. Considere circular de automóvel.

Subimos a pé esta ladeira em direção ao conjunto arquitetônico da Praça Minas Gerais. Difícil, mas imperdível.

Subimos a pé esta ladeira em direção ao conjunto arquitetônico da Praça Minas Gerais.

Estas pedras calçam as ruas desta região da cidade. Como vc vê, representam dificuldade para qualquer pessoa.

Estas pedras calçam as ruas desta região da cidade e representam dificuldade para qualquer pessoa.

 

 

Outras atrações

 

Sem nenhuma dúvida, Mariana é uma cidade que deve ser conhecida, pelo seu riquíssimo valor histórico e artístico.

Além do que citei, há muito mais para ver, como o Museu da Música, ou ouvir um concerto de órgão na Catedral da Sé.

Um passeio instigante é visitar a Mina da Passagem, no distrito de Passagem de Mariana. Quem gosta de compras, tem doces e quitandas mineiras à disposição, além de artesanato e pedras preciosas.

Neste site, clique na aba Guia de Viagem, e depois em Roteiros Sugeridos para saber mais.

 

Acessibilidade precária

 

Lamentavelmente, Mariana parece acordar lentamente para as necessidades e os direitos das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, apesar das imposições legais e das ações de grupos locais.

Se for de automóvel, preste atenção aos parquímetros e às regras de estacionamento, a fim de não levar multas.

Caso se interesse por conhecer melhor o problema da falta de acessibilidade local, sugiro fortemente que assista aos dois vídeos a seguir.

O curta (IN)Confidências apresenta as dificuldades causadas pela quase ausência de acessibilidade no patrimônio histórico e cultural de Ouro Preto e Mariana. Estabelece um diálogo entre adaptação, preservação e conservação dos bens tombados. Tem 16 minutos de duração e está muito bem produzido, levando em consideração não somente pessoas com deficiência física, mas também com deficiências sensoriais.

 

 

O documentário Cadeirantes em Mariana é mais longo: tem 25 minutos. É resultado do Projeto de Extensão “Acessibilidade e Multimídia: Conscientização da população sobre as questões de acessibilidade através dos processos audiovisuais” e foi realizado em 2014 e 2015, por meio de uma parceria entre a Universidade Federal de Ouro Preto e a Associação Marianense de Acessibilidade (AMAC).

Os protagonistas do vídeo se colocaram no lugar de cadeirantes e percorreram as calçadas, ruas e prédios públicos no centro de Mariana por um dia, vivenciando na pele os desafios que cadeirantes enfrentam. O intuito é sensibilizar e provocar a opinião pública acerca de questões relacionadas à acessibilidade. Foi exibido em escolas do município e divulgado na internet, com o intuito de instaurar um debate para políticas de acessibilidade, além de denunciar o descaso dos órgãos públicos e privados em relação às questões da acessibilidade e de locomoção, que são direitos garantidos por lei federal.

 

Vale a pena?

 

Apesar das dificuldades, creio que vale a pena conhecer Mariana.

Creio que essa situação não chega a ser impedimento para seu passeio, mas acho que dificulta muito se você usa cadeira de rodas manual e não dispõe de ajudante animado e com braços fortes. Contudo, a comunidade de Mariana é simpática e prestativa e nos auxiliou o quanto pôde.

Porém, considere que cada caso é um caso. Talvez, pelos vídeos e fotos, já seja possível chegar a uma conclusão se essa cidade te oferecerá a segurança e o conforto que precisa.

Afinal, como sempre digo, a gente viaja para ter prazer, não pra passar perrengue!

Um beijo,

Laura

 

Para saber mais

 

Site oficial de turismo de Mariana

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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