Como um cadeirante faz para carregar mala sozinho?

Não é à toa que denominamos de “mala” – ou até de “mala sem alça” – aquela pessoa chata ou inconveniente, cuja presença é incômoda. É que lidar com bagagem é complicado mesmo, para qualquer pessoa.

Mas como fazemos nós, cadeirantes, quando viajamos sozinhos? Aí, a mala pode se transformar num grande problema…

É sobre isso que vamos falar hoje, respondendo a uma pergunta que uma leitora deixou nos stories do Instagram:

“Como carregar a mala da entrada do aeroporto até o guichê da companhia aérea? Como unir duas malas e puxá-las sem auxílio?”

 

 

 

Viajar leve

 

Carregar mala é uma necessidade, mas nem por isso deixa de ser um estorvo.

♦ Para começar, a bagagem exige atenção constante, para não ser esquecida em nenhum lugar e para protegê-la de roubo.

♦ Depois, temos que considerar o peso… Apesar das inovações para que ficasse mais fácil transportá-la, como rodinhas que permitem um giro de 360º, ainda assim pode ser difícil enfrentar aeroportos, metrô, Uber, etc., com um item pesado e, pior ainda, grande.

♦ Por fim, as companhias aéreas estão cobrando para despachar qualquer bagagem, e algumas cobram até pela mala de bordo.

 

Que tal abrir mão do peso?

 

Viajo com frequência há anos, mas já cometi o erro de levar mala grande e pesada, o que ocorreu em minha primeira viagem ao exterior. Com o passar dos anos, mais experiente, fui me planejando para levar só o imprescindível.

Dessa forma, na maioria das vezes consigo levar apenas uma mala pequena (que as companhias aéreas têm oferecido para despachar gratuitamente), uma mochila com itens que não podem ir na mala despachada, pelo risco de extravio, e uma bolsa a tiracolo com documentos, celular e remédios que posso precisar durante o voo. O agasalho vai no corpo.

E assim tenho viajado mais leve, literalmente e metaforicamente.

 

A gente já tem que se preocupar com tanta coisa no aeroporto, como balcões acessíveis mas desativados… Que tal reduzir o peso da bagagem para ter menos um problema? (Foto: acervo Laura Martins)

 

 

Como transportar a mala quando estamos sozinhos?

 

Cada um precisará descobrir o melhor jeito de fazer isso, de acordo com as próprias habilidades e limitações. O que é bom para um cadeirante pode não ser para outro.

Porém, como procurei demonstrar acima, o melhor a fazer é levar o mínimo de coisas que você puder. A não ser que esteja indo para um lugar perdido no mapa, o mais provável é que possa adquirir alguns itens no destino, se forem necessários, como fraldas, por exemplo. E nada como aprender a fazer mala para conseguir milagres!

Tá, você resolveu carregar peso, apesar de eu tentar convencê-lo do contrário? Então, vamos às possibilidades de sucesso nessa empreitada!

 

Levando tralha anexada à cadeira

 

A gente pode dar uma de malabarista e transportar a mala sozinho, mas não é fácil, nem seguro, na minha opinião. Acho que isso deve ser feito só em último caso, e pelo menor trajeto possível.

Você pode criar um mecanismo para anexar a mala à parte de trás da cadeira, ou à parte da frente, mas nunca se esqueça da segurança: a sua, a da cadeira e a da mala.

Afinal, a cadeira pode tombar com o peso, você pode se machucar e o equipamento sair esfolado. E, se a mala estiver na parte de trás, há risco de roubo, porque você não estará de olho nela.

Eu faço assim: puxo a alça de mão retrátil, deixo a mala na vertical e vou empurrando com uma das mãos, devagarzinho, enquanto toco a cadeira com a outra. Isso funciona se não houver desníveis no local. Uma outra forma é colocá-la na frente da cadeira e ir empurrando com os pedais. Bem, ela cai às vezes… hahaha

É comum desconhecidos me ajudarem a levar a mala até o guichê da companhia aérea, mas não há como contar com isso, e ainda há o risco de roubo. O ideal é que um conhecido possa pelo menos nos acompanhar até o guichê.

Mas calma: descobri um equipamento que cumpre a função. Veja a seguir.

 

Nesta imagem, podemos ver um bom tipo de mala de bordo. Coloquei uma seta para indicar a alça retrátil.

 

Disponível no mercado

 

Descobri um equipamento fabricado na Escócia, que foi pensado com a finalidade de trazer independência para o cadeirante, de forma que ele possa conduzir sozinho a bagagem. Não sei se é vendido no Brasil, mas, se você descobrir, nos conte.

No site do produto, encontramos  mochilas com rodinhas, de diversos tamanhos, que podem ser anexadas uma à outra. As rodinhas rolam em todas as direções, assim como transpõem obstáculos (segundo o site).

Mas encontramos também uma barra traseira que prende a bolsa à cadeira, embora eu não saiba dizer se pode ser adaptada a uma mala comum. Trata-se de um adaptador que fica embaixo da almofada do assento e sai da parte de trás da cadeira.

Dê uma olhada neste vídeo que encontrei no Instagram, mostrando como o produto funciona:

 

Minhas conclusões

 

No Instagram do produto, há fotos de cadeirantes fazendo a utilização, mas isso não é o suficiente para concluir que funciona bem, porque se adaptar a um equipamento depende de muitos fatores.

Se achar que vale a pena adquirir um, ou mesmo mandar fabricar algo similar, não se esqueça de nos contar se teve sucesso!

Mas vamos combinar: já existem desafios demais em um aeroporto, não queira mais um. Carregue menos bagagem, pois o mínimo que pode acontecer é ficar mais pesado tocar a cadeira e aumentar a possibilidade de dores e problemas musculares. É preciso que cada um decida se vale a pena ter mais independência a esse preço.

 

Observei que alguns cadeirantes que utilizam as mochilas e o adaptador também usam itens para facilitar os deslocamentos com a cadeira. Por exemplo, esta moça usa o aro Natural Fit e o motor Smart Drive. (Imagem retirada do Facebook do produto)

 

Dicas para escolher a mala

 

Mala não é um detalhe, como muita gente tende a pensar. Invista dinheiro em uma que atenda a estes critérios:

♦ Resistência. Ela não pode quebrar na primeira viagem, não é mesmo?

♦ Deve ter no mínimo 4 rodinhas e giro de 360°, para facilitar os deslocamentos. Isso faz total diferença!

♦ Evite mala grande, para facilitar transporte e deslocamentos.

♦ Compre uma mala que venha com o cadeado TSA.

 

Este é um print da tela do site Phoenix, mostrando mochilas e barras de fixação. Aqui.

 

Para saber mais:

 

Como planejar uma viagem acessível

Todos os posts sobre viagem aérea no Cadeira Voadora

 

 

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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