Consultoria de imagem: futilidade ou autocuidado?

Consultoria de imagem: o que é isso, de fato, e como pode ajudar as pessoas com deficiência, especialmente se forem cadeirantes? Fiz esta entrevista com a consultora Cris Alves, porque há muito o que te contar! Vem logo!

Eu e Cris, num bate-papo descontraído e rico!

 

Será que a consultoria de imagem serve para alterar a forma como nos apresentamos, a fim de mostrar ao mundo algo que não somos? Ou não é bem assim?

O trabalho com a imagem ainda é bastante desconhecido do grande público. Então, como tudo que não se conhece bem, é alvo de preconceitos.

Mas o que tem a ver essa área com a questão das pessoas com deficiência? Por qual razão o Cadeira Voadora traz esse tema? Já vou te contar!

 

Faça o favor de ficar escondido

 

Houve um tempo em que as pessoas com deficiência eram vistas como “defeituosas” e ficavam escondidas em suas casas. Felizmente, esta fase vem ficando para trás, e hoje compreendemos que precisamos de visibilidade para sermos tratados como cidadãos.

Percebe-se que é incômodo para a sociedade dos “normais” lidar com essa “invasão” das diferenças. Mesmo assim, estamos ocupando cada vez mais espaços, e concluímos que quem é visível também quer ser bonito.

Se a beleza exterior muitas vezes é considerada futilidade, e por isso costuma ser banida das rodas cultas, para as pessoas com deficiência o acesso a ela foi ainda mais negado.

Por exemplo, a princípio não havia diversificação das cadeiras de rodas, das órteses e próteses. Tudo se resumia a mais do mesmo, com cara de hospital.

Demorou muito para que o mercado oferecesse sapatos confortáveis e seguros mas também bonitos; cadeiras de rodas customizáveis, para a adequação postural mas também estilosas e com cores fashion; órteses e próteses bonitas, que não envergonham ninguém, muito pelo contrário: se transformaram em acessórios com design.

Agora, a moda inclusiva está a caminho de se consolidar. Tudo isso tem o importante papel de ajudar a fortalecer a autoestima das pessoas com deficiência.

Precisamos ter em mente que não seremos nós mesmos a negar a nós o direito de nos sentir belos, sensuais, elegantes e charmosos.

Me deixa feliz presenciar o final da era dos cadeirantes vestidos com mulambos. Cada um pode vestir o que quiser, é claro, mas, pelo menos, que sejam mulambos criativos, não?

 

Quem é Cris Alves

 

Sou fã da Cris, pela sua competência e pelo carinho com que exerce seu trabalho

Quem é leitor frequente do blog já conhece a Cris, pois ela me assessorou neste post, sobre mistura de colares e lenços. Há algum tempo, recorri a ela para fazer uma consultoria de imagem, porque desejava me conhecer mais profundamente, a fim de conquistar a melhor versão de mim mesma.

Ela é extraordinariamente talentosa. Seu trabalho se revelou, para mim, como um profundo exercício de autodescoberta, que me emocionou e ensinou a expressar qualidades minhas que não conhecia.

Com ela aprendi a realçar pontos fortes, conheci as cores que combinam com meu tom de pele e iluminam minha face, aprendi truques de maquiagem e até qual tipo de sapato é o mais adequado para que eu não fique “achatada” na cadeira de rodas.

Por tudo isso, ela está aqui mais uma vez, disposta a percorrer esse caminho conosco. Agora, nos concede uma entrevista explicando por qual razão a consultoria de imagem pode ser um instrumento importante nas mãos das pessoas com deficiência.

Na minha visão, é algo empoderador. Vamos ver o que vocês acham.

Dividi a entrevista em três partes, para que não gerasse um post muito longo. Nós conversamos bastante, e eu não queria deixar nada de fora.

Vamos, agora, ao que interessa?

 

Entrevista | Parte 1

 

Laura | A aparência influencia de fato na forma como as pessoas nos percebem? Existe mesmo uma dicotomia entre aparência e essência?

Cris Alves | Eu penso que precisamos ter equilíbrio em tudo: na alimentação, na espiritualidade, nas horas que dedicamos ao trabalho e ao descanso. Com relação à imagem também: é preciso haver equilíbrio entre o que a gente é (o nosso interior) e o exterior.

Vivemos em um mundo dinâmico, no qual as informações são bombardeadas na nossa cara o tempo todo, e as pessoas estão se acostumando a pensar cada vez mais rápido. Nossos contatos acabam ficando também muito dinâmicos. Infelizmente, assim podemos perder a oportunidade de demonstrar essa essência – que cativa tanto e da qual fazemos tanta questão –, por causa dos “ruídos” que a gente emite.

E não me refiro só à imagem do trabalho, escolhida para demonstrar competência, credibilidade. Estou falando mesmo do contato pessoal, entre amigos, de trazer as pessoas para perto de você. A gente pode cercar esses ruídos, eliminá-los, para mostrar de fato quem a gente é. Então, não se trata de forjar uma imagem.

Vou me usar como exemplo. Eu tinha um ruído na imagem que me incomodava muito. As pessoas me achavam triste, frágil, por conta dos meus olhos caídos. Mas eu sei que tenho um lado forte, e gostaria que as pessoas o percebessem… Porém, como os olhos são uma parte muito expressiva do rosto, pois comunicam as emoções, eles falavam tão mais alto que meu outro lado não aparecia. Não que eu não goste de ser uma pessoa sensível, ou que me incomode com o formato deles. Eu gosto. Mas me incomoda a interpretação que as pessoas fazem disso.

 

Um olhar para si mesmo

 

Cris (continuando) | A gente tem que pensar: Quem eu sou? Isso está claro para mim? Vejo que os que tendem a pensar que cuidar da imagem seja futilidade são pessoas que se preocupam muito com o interior, com conhecimento e a capacidade intelectual. Mas até esse potencial intelectual pode ficar prejudicado por algum ruído na imagem. Não são universos distintos.

Temos a questão do dinamismo, muito estímulo visual, muita informação a nosso alcance, e de repente a gente se encontra perdido na conformidade, por não parar para pensar nisso, não se dedicar.

E outra: olhar pra gente mesmo é muito complicado. Ou a gente não consegue enxergar as coisas, ou enxerga muito. Um pequeno desvio da proporção, e sentimos isso como algo gigantesco. A gente se cobra muito, não se enxerga do jeito que é.

Com o cuidado com a imagem, podemos ter ganhos que não são mensurados. Por exemplo: uma promoção no trabalho, um retorno financeiro, mas o primeiro deles é com a gente mesmo: enxergar e projetar aquilo que somos…

 

Mostrando nossas qualidades

 

Cris, fico pensando nos meus ganhos quando fiz a consultoria com você. Enxerguei o que eu não sabia sobre mim. Foi muito gratificante.

São as potencialidades. E a virtude, que a gente teima em não visualizar. A gente pensa que não pode se achar isso ou aquilo, porque pode se transformar numa pessoa muito esnobe ou afastar o outro. Não, a gente tem que tirar partido das qualidades!

Então, acho que o primeiro ganho é para a gente mesmo. Quando a gente se enxerga, consegue projetar autoconfiança, atitude, abertura.

Por que isso é importante? Porque a gente pisa no chão que é nosso.

 

Muita gente pensa que cuidar da imagem é falsear o que somos…

Infelizmente, a consultoria de imagem é malvista hoje em dia porque as pessoas tentam se encaixar num padrão. Mas não cabe julgamento de valor. Não existe só aquela imagem refinada, clássica, elegante. Cada um na sua praia. Tem um estilo criativo, mais moderno, ousado? Original, artístico, casual, esportivo? Onde está a minha zona de conforto?

Tem um limite do que é adequado dependendo do ambiente onde você está. Pode ser que no local não seja aceita uma calça rasgada, um decote, então por que usar?

Em resumo: é adequação é si mesmo e depois aos ambientes.

 

Aparência e infantilização da pessoa com deficiência

 

A entrevista não termina aqui, felizmente! Logo, logo, postarei mais uma parte.

Nela, perguntei à Cris sobre a imagem adequada para buscar emprego e até sobre a infantilização dos cadeirantes. Será que a aparência de fragilidade pode ser minimizada com a ajuda da consultoria de imagem?

Enquanto esperamos, me contem se gostaram do tema e se o acham importante!

A ideia é tratar do autocuidado no sentido amplo, afinal a gente “não quer só comida”. Estar mais feliz com a aparência pode, e deve, fazer parte de nossos sonhos.

[Post publicado em 2018 e editado em out de 2021]

 

Para saber mais:

 

Incentivar o crescimento pessoal. Elevar o sentimento de pertencimento que cada um pode ter sobre si próprio. Promover o bem-estar.

Foram esses desejos que levaram Cris Alves à consultoria de imagem. Ela chegou a desenvolver um método próprio, que chamou de Persoona.

Ela também oferece cursos, mentorias e palestras.

Conheça seu trabalho:

http://www.crisalves.com.br/

http://persoona.com.br/

Instagram: @persoona.crisalves

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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