Montanha para Todos torna acessíveis os passeios na natureza

Juliana Tozzi e Guilherme Cordeiro estiveram em Belo Horizonte em 18/11/2016 para lançar em terras mineiras o projeto Montanha para Todos, que promove a inclusão de pessoas com deficiência no montanhismo. Eu estive lá e vou contar tudo pra vocês!

Estou com Juliana, na palestra que ela e Guilherme, do Montanha para Todos, realizaram em Belo Horizonte. (As fotos pertencem ao meu acervo, exceto quando indicado)

Atualizado em 22/01/2020

O Montanha para Todos traz em seu DNA uma história de amor. Do amor de Guilherme por Juliana, de Juliana pela vida e pelas trilhas e de várias pessoas que estão apoiando o projeto. Elas se unem ao casal para materializar cadeiras adaptadas capazes de transportar pessoas que amam estar em contato com a natureza, mas não conseguiam se aventurar pelas trilhas por causa da deficiência ou da mobilidade reduzida.

É esta história que eu conto pra vocês agora.

No meio do caminho tinha uma doença rara

O casal Juliana e Guilherme se preparava para ter seu primeiro filho, ambos jovens que amavam o montanhismo, mas deram uma pausa nos projetos para viver esta outra aventura. Juliana, pouco antes, havia tido câncer de mama e se encontrava recuperada. Porém, no segundo mês de gestação, começou a notar perda de movimentos. Felizmente, a gestação pôde prosseguir, e hoje Benjamim já os acompanha nas viagens. Mas Juliana, após realizar diversos exames, recebeu o diagnóstico de que tinha adquirido uma doença rara sem perspectiva de cura.

Guilherme, então, decidiu que sua parceira não iria abrir mão dos esportes que tanto amava. Foi assim que desenvolveu uma cadeira adaptada, capaz de transportar a esposa aonde ela bem entendesse. Para isso, bastariam determinação, adaptações e, como eles fazem questão de frisar, amigos, que estão presentes em todas as horas e auxiliam não só montanha acima – e abaixo –, mas a viabilizar todo o projeto.

Essa história eles têm contado em palestras e reportagens, de forma leve e terna, com a energia que demonstra que o amor pode transportar montanhas, ou melhor, pode te transportar até as montanhas. 😉

Mais de 26 cadeiras no Brasil

E assim nasceu a Julietti, a cadeira que vem sendo aperfeiçoada dia a dia: agora ela já tem encosto e assento removíveis, por exemplo, e até cinto de segurança.

Mas eles decidiram que não apenas Juliana teria acesso ao montanhismo. Resolveram fazer mais cadeiras e doá-las, a fim de promover uma revolução no montanhismo, transformando-o em um ambiente mais inclusivo. Assim ficou decretado que todas as pessoas poderão realizar trekking, desde que levem pelo menos dois amigos para empurrar/puxar a Julietti, que é, na verdade, uma liteira moderna.

O projeto cresceu, ganhando muitos apoiadores, e hoje eles viajam para contar essa história e levar cadeiras pra todo canto. Minas Gerais ficou com a quarta cadeira, e no site deles constam 26, mas ainda não foi incluída a do Parque do Ibitipoca…

Montanhismo acessível no mundo

Quem se interessa por turismo, certamente já constatou que há cadeiras off-road semelhantes à Julietti em outras partes do mundo. Existe uma francesa, denominada Joëlette, que, segundo o site Lisboa (In)Acessível, tem esse nome graças a seu inventor  “Joël Claudel, guia de montanha que pretendia continuar a levar a passear o seu sobrinho Stéphane, com uma doença muscular degenerativa”.

Também já vi, em fotos, equipamentos semelhante sendo usados no Equador, em Machu Picchu e na Andaluzia. Você pode conferir informações a respeito aqui , aqui e aqui.

O site da cadeira francesa Joëlette é interessante e bem-feito, portanto merece sua visita. Clique aqui para acessar (disponível em cinco idiomas) e ver outros tipos de cadeira, inclusive um modelo para neve.

Em Minas Gerais, um grupo chamado Trilhas Inclusivas já realiza caminhadas à Serra do Cipó. Eles não utilizam cadeiras adaptadas, mas se adaptam para conduzir as pessoas, que utilizam o próprio equipamento, seja cadeira de rodas, muletas e por aí vai.

Caminhada realizada pelo grupo Trilhas Inclusivas no Parque Nacional da Serra do Cipó. (Foto: Marta Alencar)

Cadeira adaptada transporta pessoa com deficiência em Machu Picchu. (Imagem retirada do site Peru Tours)

A fome com a vontade de comer

Algo que sempre me chamou a atenção nas pessoas sonhadoras é que muitas delas não têm disciplina e determinação para materializar seus sonhos. Pude perceber, porém, que isso não acontece com o casal Juliana-Guilherme: os olhos brilham o tempo todo, o sorriso está sempre presente, mas os pés estão na terra, ainda que plantados nas montanhas mais altas.

Juliana e Guilherme em palestra realizada em Belo Horizonte

Guilherme demonstra que tem ampla capacidade de planejamento (ele é engenheiro), e Juliana dá banho de determinação e capacidade de se adaptar às constantes mudanças exigidas por sua nova condição física.

Nada de lamúrias e de vitimização. Com seu jeito calmo e lúcido, o casal mostra que valeu a pena promover uma virada na própria vida para valorizar o que têm de mais precioso: o momento presente.

Resta um aprendizado importante: se não é possível estender rampas e elevadores nas montanhas ou em outros lugares até então inacessíveis, que seja criado um jeito de levar até lá pessoas que estejam impossibilitadas de fazer isso do modo convencional.

Antes da palestra, Guilherme monta a cadeira Julietti para mostrá-la ao público presente.

Para saber mais:

Site Montanha para Todos

Reportagem sobre o casal no Fantástico

Site da cadeira francesa Joëlette

Machu Picchu com cadeira de rodas

Andaluzia para cadeirantes (vídeo)

Monte Saint Michel (França): subindo a abadia com a Joëlette (em francês)

Juliana e Guilherme na Serra do Lopo

Neste vídeo, conheça a Joëlette francesa