4 dias em São Paulo | Parte 2

Esta é a segunda parte do roteiro São Paulo em 4 dias, que montamos em nossa última ida à cidade, em abril de 2022. Na 1ª parte, passeamos pela exposição imersiva Van Gogh e pelo SampaSky (confira aqui). Agora, teremos um passeio pelo Bairro da Liberdade, com almoço, visita à exposição do fotógrafo Sebastião Salgado no Sesc Pompeia, passeio na Av. Paulista e, finalmente, fim de tarde no Vista Restaurante. E aí, como será a acessibilidade nesses lugares? Conto agora!

Fim de tarde com a amiga Andrea e seu marido Ricardo no Vista Restaurante. Sensacional!

 

No post anterior, tivemos dois dias de atividades, a quinta e a sexta. Na sequência, publiquei um post exclusivamente sobre o SampaSky, porque achei necessário dar detalhes sobre os desafios com a acessibilidade no local.

Agora, temos o sábado e o domingo à nossa disposição, pois definimos que pegaríamos o voo de volta apenas na segunda-feira. Assim, poderíamos passear sem pressa pela Av. Paulista, que, aos domingos, fica fechada ao trânsito de automóveis. E assim foi feito.

Simbora!

 

3º dia | Sábado

 

Painel instagramável na Mobilty SP. Bonito, né?

Manutenção da cadeira de rodas

 

Como expliquei no 1º post desta série, costumo aproveitar a ida a São Paulo para fazer uma revisão na cadeira de rodas. Então, cheguei à loja Mobility no horário em que abriu e fiquei aguardando a regulagem e substituição de algumas peças. Foi bem rápido, porque o técnico Hélio é muito experiente.

Aproveitei a espera para consultar o Bruno, proprietário, sobre almofadas adequadas no meu caso. Para minha alegria, ele confirmou que a minha estava super adequada e não havia, portanto, necessidade de substituição. Oba!

A loja é confortável e tem sanitário totalmente acessível, inclusive com trocador, que, na verdade, é uma maca.

 

Liberdade, aqui vamos nós

 

Saindo da loja, pegamos um Uber em direção à feirinha que acontece no fim de semana, na Praça da Liberdade.

A única coisa que eu conhecia no Bairro da Liberdade é o Cine Joia, onde estive uma vez, com minha amiga Ida, para assistir a um show da cantora Speranza Spalding. Então, tecnicamente, eu não conhecia o bairro, não é mesmo? Marta já o conhecia, mas ficou feliz por retornar.

 

Escolhendo um quimono na feirinha (foto: Marta Alencar)

Não é o Japão

 

Apesar da forte influência japonesa, a Liberdade também recebeu imigrantes chineses, coreanos e tailandeses. Além disso, a cultura afro também faz parte da história do bairro. Então, não vá esperando encontrar o Japão em SP… rs

Mesmo que a acessibilidade seja precária, sou da opinião de que vale a pena visitar, seja por causa da cultura, seja pela gastronomia. Aliás, é preciso lembrar que o passeio pode render boas compras, até mesmo para completar aquela coleção de mangás que você adora!

 

Acessibilidade na praça

 

A praça é pequenina, com leve inclinação em uma das faces. Como estava acontecendo um evento paralelo, o lay-out da feira havia mudado um pouco, segundo nos informaram. Por isso, não terei condições de informar exatamente onde ficam as barracas com artesanato, roupas, alimentos e por aí vai.

Não tínhamos muito tempo disponível, porque ainda queríamos almoçar calmamente num restaurante típico e, depois, ir para o outro lado da cidade, visitar a exposição do Sebastião Salgado.

Por isso, descemos do carro na Av. da Liberdade, demos uma rápida olhada nas poucas barracas que estavam na praça (em boa parte tomada pelo outro evento) e entramos à direita na Rua Galvão Bueno.

Essa rua concentra grande número de barracas, mas é preciso chegar cedo se quisermos ver alguma coisa, porque o espaço para circulação, à direita e à esquerda da rua, é bastante estreito.

Ao mesmo tempo, a rua tem uma inclinação para a direita, provavelmente para escoar água da chuva. E, para piorar, não dá pra circular no passeio desse lado, porque o revestimento não está em boas condições, além de não haver rampinhas.

Do lado esquerdo, é um pouco melhor, mas não espere grande coisa.

 

Universo paralelo

 

Só para ilustrar, achei que havia entrado num anime do Naruto, tal a quantidade de crianças vestidas com roupas que remetiam à Aldeia da Folha… Também havia outros cosplays, mas em menor proporção. Sem dúvida, havia muita alegria e diversão por lá!

Pra não dizer que não comprei nada, parei para escolher um lindo quimono rosa e lilás.

Em praticamente todo o trajeto, tive a ajuda da minha amiga Marta, que empurrou a cadeira de rodas, pois eu não daria conta sozinha. A região do viaduto Cidade de Osaka é mais plana, mas já não tem tanto movimento.

No retorno, passamos em algumas lojas, então foi possível notar que algumas têm entrada acessível com rampinha, outras têm degrau baixo, e outras só são possíveis com guindaste…

 

Almoço-raiz

 

Após fazer compras na loja de cosméticos Ikesaki, que tem vários andares, escolhemos, no Google Maps, um restaurante com avaliações positivas. Como nesse local não aceitavam nenhum tipo de pagamento, a não ser em espécie, nos dirigimos a um que fica ao lado, também com boas avaliações. Te apresento ao Rei dos Reis.

Para ser honesta, não há acessibilidade, pois já somos recebidos com um alto degrau na porta. Porém, foi possível subir com ajuda. Além disso, o local é estreito e comprido, e não há muitas mesas. Por isso, a opção foi dividi-la com um simpático casal com criança, que havia chegado antes.

Mas agora vem a parte boa, pode acreditar. Para nossa alegria, a comida era farta, gostosa e barata, considerando-se que um prato dá até para 4 pessoas. Felizmente, o casal nos avisou antes, pois, do contrário, teria sobrado bastante, mesmo tudo estando delicioso.

Pelo que observamos, são os proprietários que atendem os clientes. E, curiosamente, mesmo o restaurante sendo muito antigo, não falam quase nada de português, a não ser um rapaz. Ainda assim, foi possível nos comunicarmos, porque, no cardápio, há fotos de todos os pratos. E, quando havia alguma dúvida, recorríamos ao tal rapaz ou ao casal super simpático! rs

 

3 fotos mostrando a mesa do Rei dos Reis, um dos pratos - e eu

 

Sebastião Salgado no Sesc Pompeia

 

Anote aí o que vou dizer.

Você pode perder qualquer outra exposição em cartaz, em São Paulo, neste momento. Porém, esta não.

Em primeiro lugar, a mostra é de Sebastião Salgado, lenda viva da fotografia documental em preto e branco. Com quase 80 anos, recebeu todos os prêmios possíveis e tem reconhecimento mundial, merecidamente.

Em segundo lugar, a curadoria é da produtora Lélia Wanick Salgado, sua esposa, que fez um trabalho notável. São 205 imagens hipnotizantes, fruto de 7 anos de trabalho do artista na Amazônia brasileira. Como se não bastasse, a trilha sonora foi composta por Jean Michel Jarre, grande nome da música eletrônica. Na verdade, você se sente penetrando na floresta, com sons da natureza, vozes, gritos de animais, etc.

Para resumir, Lélia conseguiu um resultado grandioso!

A exposição está no Sesc Pompeia, que é uma atração à parte. É realmente lindo, tem entrada acessível para a Área de Convivência, onde está a mostra, e o banheiro acessível está em frente, na “pracinha” (saiba que é acessível DE VERDADE).

E você acredita que tudo isso é grátis?

 

Sebastião Salgado mostrando por que é mestre, e Sesc Pompeia dando show de acessibilidade

 

4º dia | Domingo

 

Manhã e tarde

 

Certamente, um passeio na Av. Paulista, na manhã de domingo, é um programa que deve constar no seu planejamento. Afinal, é preciso aproveitar o fato de ela estar fechada ao trânsito de automóveis, então é possível andar com tranquilidade.

Nos poucos mais de 2km de extensão, encontramos apresentações artísticas, galerias de arte, museus, mirante, restaurantes, cafeterias, shoppings e duas grandes livrarias.

Para um roteiro mais detalhado, já publiquei um post a respeito. O título é 9 dicas para se divertir na Avenida Paulista, que você pode ler aqui.

 

Itaú Cultural: acessibilidade

 

Desta vez, foi possível circular ainda mais tranquilamente, porque a avenida não estava cheia. Fizemos uma pausa maior no Itaú Cultural, para conferir a exposição do artista plástico Tunga.

A entrada é gratuita, e é tudo acessível, desde a porta até o banheiro, passando pelos elevadores. Além disso, oferece acessibilidade também para pessoas cegas e surdas.

Acessibilidade no Itaú Cultural

 

No Itaú Cultural, encontramos audiodescrição, lencinhos com álcool 70 p/ tocar nas obras, mapa tátil, libras

Casa das Rosas e exposição no Itaú Cultural

 

Fim de tarde

 

Para fechar o domingo com chave de ouro, aceitei o convite dos amigos Andrea e Rick para assistir ao pôr do sol do terraço do Restaurante/Bar Vista Ibirapuera.

Em frente ao parque do Ibirapuera, no último andar do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, está uma das mais lindas vistas da cidade!

A partir dos terraços do bar, tem-se 360 graus de parque, edifícios e luzes se acendendo! Infelizmente, estava nublado, e não vimos o pôr do sol. Porém, não tenha dúvida, valeu a pena!

 

 

Acessibilidade no Vista

 

Infelizmente, o parapeito é alto, o que prejudica um pouco a visão de quem usa cadeira de rodas. Sem dúvida, o ideal é que fosse de vidro, então esperamos que algum dia seja feita essa alteração.

Uma vez no ambiente interno do bar, é possível continuar usufruindo a vista. Porém, uma bola-fora. Lamentavelmente, o projeto de design escolheu balcão e banquetas altas, completamente inacessíveis, tanto para cadeirantes, como para pessoas com baixa estatura e até mesmo pessoas obesas.

Mas não se preocupe, porque Andrea me mostrou como resolver a parada. Ao sermos recepcionados, ela simplesmente solicitou que trouxessem uma mesa do restaurante para o bar. E, assim, tivemos um fim de tarde delicioso, degustando bruschettas com polvo e drinks deliciosos.

Os valores cobrados não são baixos, mas, sem dúvida, a vista não tem preço. Se desejar, você pode entrar, degustá-la e “vazar”…

Além disso, tem vaga reservada no estacionamento, entrada plana, elevador e banheiro adaptado. Para você ter uma ideia melhor, fizemos um vídeo mostrando tudo! É só clicar abaixo.

 

 

Um passeio possível para todos!

 

SP é muito mais que arranha-céus. Vá conhecê-la! (Foto: Laura Martins)

Muitas vezes, pessoas com deficiência deixam de viajar, tanto por falta de acessibilidade quanto por falta de dinheiro. Sem dúvida, viagens podem sair bem mais caras para nós, por causa das nossas singularidades e da falta de acesso.

Porém, é perfeitamente possível fazer uma viagem curta, deliciosa, para uma das capitais brasileiras não consideradas turísticas. Nelas, é comum que as tarifas caiam no final de semana, tanto as de hotel quanto as de viagem aérea. Sendo assim, aproveite esta dica e planeje!

Além de São Paulo, outras entram nesta categoria, como Belo Horizonte e Curitiba, cidades cheias de atrativos e com acessibilidade crescente.

Por que não?

Me despeço por aqui! E você já sabe: deixe dúvidas e sugestões nos comentários!

 

Bjo grande,

Laura

 

Para Saber Mais

 

25 coisas imperdíveis pra fazer na Liberdade

Exposição de Sebastião Salgado | Sesc Pompeia

Viagem e Turismo | Exposição de Sebastião Salgado

Destaques sobre esta viagem, no Instagram Cadeira Voadora

 


 

Ainda não tem o livro de Laura Martins,
“Como planejar uma viagem com acessibilidade”?
É só clicar aqui para baixar!

 

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.