Acessibilidade na Costa do Sauipe

William, cadeirante e leitor do blog, compartilha conosco um relato super detalhado sobre acessibilidade na Costa do Sauipe. Vamos com ele?

Para os cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida que curtem sol, praia, piscina e belas paisagens, o complexo de lazer Costa do Sauipe é uma boa opção (Imagem cedida pela gerência do hotel ao Trip Advisor)

Para os cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, o complexo de lazer Costa do Sauipe é uma boa opção (Foto: site do hotel)

 

 

Por William Dias Gomes*

 

Resolvi elaborar este post como forma de ajudar o maior número possível de pessoas com alguma deficiência que queiram conhecer a Costa do Sauipe. Por isso, tentarei ser o mais detalhista possível para que os leitores possam, de alguma maneira, se identificar com todo o processo da viagem.

Minha esposa e eu adoramos viajar, e nestas férias teríamos a companhia dos meu pais. Então decidimos que o nosso destino teria que ser um lugar tranquilo, mas que ao mesmo tempo tivesse atividade e diversão para todos. Optamos por um resort, mas com a condição de que fosse all inclusive, e foi aí que surgiu a ideia de conhecermos a Costa do Sauipe, até porque já tínhamos boas recomendações do lugar por parte de um casal de amigos que foi no ano anterior e porque verificamos que o local era acessível para cadeirantes.

 

Viagem aérea

 

Local definido, compramos as passagens aéreas pela Gol. No momento da compra de passagens aéreas, mesmo que você informe necessitar de atendimento especial por ser usuário de cadeira de rodas, quando chega a etapa de marcação do assento, os das primeiras fileiras possuem taxas extras por serem mais espaçosos. No entanto, você cadeirante não precisa pagar por eles.

Eu marquei os assentos mais próximo da entrada e que não tinham custo adicional. Após concretizar a compra da passagem aérea, entrei em contato com a central de atendimento da Gol e informei que sou cadeirante e necessitaria de assento próximo da entrada da aeronave (conforme determina o art. 33º da Resolução 280/13, da Anac) e não tive problemas. Meu assento e o da minha esposa foram remarcados para a fileira 2 sem nenhum custo, inclusive foi aberto um protocolo para informar que eu era um passageiro cadeirante.

Vale lembrar que a Azul também adota este procedimento via contato telefônico e, embora eu não tenha voado de Tam ultimamente, o site da empresa possui aviso de que as poltronas das primeiras fileiras são destinadas a passageiros com necessidades especiais e, caso algum passageiro tenha realizado a compra daqueles assentos, terá o valor ressarcido e o assento deverá ser cedido ao cadeirante (clique aqui para informações detalhadas). Essa informação é muito importante pois não se trata de um favor, mas sim de um direito.

 

Transfer

 

Passagens compradas, hora de contratar o transfer para nos levar do aeroporto de Salvador até a Costa do Sauipe, uma vez que a distância entre os dois pontos é de aproximadamente 75 km. Entrei em contato com a central de atendimento da Costa do Sauipe para que me fosse recomendado uma empresa de transporte até o local, e me foi recomendada a empresa Grou.

Entrei em contato com a Grou para saber como era o veículo que realizaria o transfer e fui informado que poderia ser uma van ou até mesmo um micro-ônibus, dependendo da quantidade de passageiros no dia e horário da nossa chegada. Perguntei se os veículos eram adaptados para cadeirantes e a resposta foi negativa, mas informaram que possuíam o transfer privativo, que era um carro maior, para levar malas e cadeira de rodas, e o custo era R$ 12 a mais por pessoa em relação ao transfer tradicional. Como éramos 4 pessoas, o serviço foi contratado, e não tivemos problemas algum.

 

Rumo à Costa do Sauipe

 

Passagens compradas, transfer contratado, verifiquei com o resort se eles possuíam cadeira de banho, e a resposta foi afirmativa. Deixaram esta observação anotada na minha reserva.

Tudo pronto para o grande dia. A viagem foi tranquila com relação ao atendimento por parte da Gol e, ao chegarmos em Salvador, no desembarque já havia um funcionário da Grou nos aguardando, mesmo a loja sendo bem em frente ao portão de desembarque e de fácil visualização. Nos foi disponibilizado um Doblò, e não tivemos problemas com alocação das malas e cadeiras de rodas.

Enfim, Costa do Sauipe!

O resort é enorme e composto de  4 alas (Água, Terra, Mar e Sol), mas não sabíamos em qual delas seríamos hospedados. Quando chegamos, apenas duas estavam funcionando (alas Terra e Mar). O motorista se informou na ala Mar, e descobrimos que nossa reserva estava na ala Terra.

Ao desembarcarmos do carro, nos deparamos com um enorme hall. Neste momento, os mensageiros já se posicionaram com carrinho para recolher as malas do carro, enquanto nos dirigíamos à recepção. Check-in efetuado, partimos para conhecer nossos quartos.

A ala Terra possui quatro andares, dois acima da recepção e um abaixo, e possui quatro elevadores. Nosso quarto era no mesmo andar da recepção e próximo a dois elevadores. O quarto é amplo, possui piso frio, uma cama king size e outra “de viúvo”, armários, uma boa sacada e um bom espaço para se locomover com a cadeira.

 

Quarto

Neste conjunto de fotos, vemos os móveis, a área de circulação e o piso de cerâmica

 

O banheiro também é amplo, com vaso sanitário elevado, barras de apoio, e a área da ducha possui uma bancada de concreto. O melhor: a cadeira de banho já estava me esperando!!!

Aqui destaco dois pontos negativos, mas que não interferem na estadia. O modelo da cadeira de banho era um pouco alto em relação ao solo, mas acabei me acostumando, e área da ducha não possui cortinas, então, toda vez que eu tomava banho, molhava o banheiro todo. Tentei solicitar um rodo para que eu mesmo puxasse a água do banheiro, mas fui informado que o hotel não disponibiliza o equipamento e que sempre que eu precisasse, era só solicitar o serviço de camareira pra secar o banheiro. Solicitei todos os dias e fui atendido rapidamente.

 

Nas fotos do banheiro, podemos observar o vaso sanitário sem abertura frontal, as barras de segurança, pia que permite aproximação frontal da cadeira de rodas. Também observamos a ducha de banho, as barras de segurança ao lado do banco de alvenaria e a cadeira de banho, para quem não quer utilizar o banco.

Nas fotos do banheiro, podemos observar o vaso sanitário sem abertura frontal, as barras de segurança, pia que permite aproximação frontal da cadeira de rodas. Também observamos a ducha de banho, as barras de segurança ao lado do banco de alvenaria e a cadeira de banho, para quem não quer utilizar o banco.

 

 

Área do hotel

 

No hall da recepção, está localizado o bar do hotel e há alguns sofás para descanso. No entanto, para chegar ao balcão do bar há dois degraus, o que inviabiliza a chegada do cadeirante, então você sempre vai depender de alguém para buscar bebidas ou gesticular para ser visto pelo bartender. Também há uma área um pouco elevada onde há outras poltronas, e o acesso se dá por rampas de pouca inclinação.

 

Aqui, temos uma composição com quatro fotos mostrando o degrau do bar da ala Terra, a área com o sofá, também com degrau, e a rampa de acesso a outras poltronas

Aqui, temos uma composição com quatro fotos mostrando o degrau do bar da ala Terra, a área com o sofá, também com degrau, e a rampa de acesso a outras poltronas

 

O restaurante da ala Terra fica no 1º andar, o mesmo andar que dá acesso às piscinas e à praia. O restaurante é bem amplo, fácil de se locomover, e o buffet possui boa altura para que o cadeirante possa se servir.

O hotel possui pistas de caminhadas de cimento de fácil locomoção para uma cadeira de rodas. Uma dessas pistas leva do restaurante até a piscina, mas antes é preciso passar por uma ponte de madeira. A ponte fica no mesmo nível da pista da caminhada, no entanto havia algumas ripas soltas, o que provocava alguns trancos na cadeira.

A ala Terra possui um conjunto de três piscinas, nas quais a água de uma passa para outra. O desnível entre as piscinas é pouco, e existem rampas leves entre elas, portanto um cadeirante consegue rodar todo o ambiente.

Na área da piscina existem dois bares, um do lado de fora que possui uma rampa leve de acesso e outro dentro da piscina, o bar molhado. Neste não tem como chegar com a cadeira, somente a nado, e serve apenas bebidas. O bar fora das piscinas, além de bebidas, serve petiscos (bolinho de queijo, camarão, batata frita, costelinha de porco, hambúrguer, entre outros) o dia todo.

Depois da área da piscina vem a praia, e um cadeirante só chega lá se estiver disposto a se aventurar!

Digo isso porque o caminho até a primeira faixa de areia é pela pista de cimento, mas depois há uma pista de tijolos furados. Os furos são grandes e cheios de areia, então a roda da frente da cadeira cai em todo buraco. Tentei percorrer o caminho, mas não consegui andar 15m, mesmo com ajuda, então resolvi voltar. O resultado foi o desalinhamento dos garfos dianteiros da minha M3.

 

Estas duas fotos mostram as trilhas. A primeira dá acesso à praia. Depois, a pista é calçada com tijolos furados, cheios de areia, nos quais a roda da cadeira cai. Esta pista é inacessível.

Estas duas fotos mostram as trilhas. A primeira dá acesso à praia. Depois, a pista é calçada com tijolos furados, cheios de areia, nos quais a roda da cadeira cai. Esta pista é inacessível.

 

 

Vila Nova da Praia

 

Entre as alas Terra e Mar, fica a Vila Nova da Praia (a 300m da ala Terra). É um lugar que possui várias lojas de presentes, farmácia, Banco do Brasil, igreja e restaurantes. Algumas lojas são inacessíveis, porque possuem degrau.

No centro do local há um coreto, onde são realizados shows durante a noite. No restaurante mexicano estava acontecendo a balada, uma vez que o espaço destinado a esse fim na Costa do Sauipe,  na ala Água, estava fechado para reforma.

Aqui temos um problema de acesso, pois o restaurante mexicano possui dois degraus na porta de entrada, e a porta lateral possui um degrau um pouco elevado. Como eu não estava a fim de música alta nos ouvidos, optava por ficar nas mesinhas disponíveis do lado de fora. Quando precisa de alguma bebida, minha esposa se dirigia até o balcão e retirava para nós.

 

Na Vila, algumas lojas têm degrau.

Na Vila, algumas lojas têm degrau.

 

Observe que o piso da Vila tem calçamento de paralelepípedo

Observe que o piso da Vila tem calçamento de paralelepípedo

 

Nas duas fotos, você vê os degraus na porta do restaurante mexicano

Nas duas fotos, você vê os degraus na porta do restaurante mexicano

 

A Costa do Sauipe possui ônibus que percorre todo o complexo. Há ponto de ônibus na recepção de todas as alas, no entanto eles não são adaptados para cadeirantes. No primeiro dia, me disponibilizaram um carro para me levar até a Vila e aonde mais eu quisesse ir; era um Siena e a cadeira cabia tranquilamente no porta-malas. Mas depois do primeiro dia não precisei mais do carro, pois o caminho da ala Terra para a Vila é plano e tranquilo, embora tivesse que ser realizado pela rua, pois as calçadas não possuem guias rebaixadas.

Existe no local um lugar destinado às atividades aquáticas, denominado Náutica. Lá há atividades como pedalinho, pesca, tirolesa, caiaque, entre outras. Em um dos dias solicitei o carro, porque o local é longe das alas. A Náutica não é acessível para cadeirantes, pois a entrada possui apenas escadas. A rampa lateral que dá acesso ao lago é íngreme e termina numa faixa de areia. Os funcionários até queriam me ajudar a descer até o lago, mas preferi retornar ao hotel e não me aventurar nos esportes aquáticos.

 

Equipe atenciosa

 

Um ponto importante que quero destacar foi a atenção que a equipe de funcionários deu à minha cadeira de rodas. Na noite do segundo dia de viagem, o parafuso da minha roda dianteira se soltou; quando me dei conta estava andando sem a roda e não sabia onde a havia perdido. O pessoal da recepção me ajudou a procurá-la, avisando inclusive o motorista do ônibus para que ficasse atento caso a encontrasse no caminho da Vila para a ala Terra. Acabei encontrando a roda na entrada da recepção, mas não o parafuso. O chefe de manutenção foi chamado, levou a minha cadeira e em 15min a trouxe de volta com a roda instalada. O reparo foi muito bem feito, durou a viagem toda e não tive mais problemas. Salvaram a minha viagem. rsrsrsrs

Bom, diante deste relato, quero dizer que a Costa do Sauipe é um ótimo lugar para um cadeirante passar suas férias tranqüilas. Embora existam pontos a serem melhorados, como o bar do hall da recepção, que não possui acesso, o complexo oferece boa estrutura para que um cadeirante não encontre dificuldades de acessibilidade, seja em relação ao quarto ou em relação ao complexo, mas, caso haja algum imprevisto, os funcionários estão sempre solícitos e dispostos a auxiliar no que for preciso.

 

Para saber mais:

 

Costa do Sauipe para cadeirantes | Relato da Célia no endereço antigo do Cadeira Voadora

Site da Costa do Sauipe

Tudo sobre a Costa do Sauipe | blog Viaje na Viagem

 

 

About William Dias Gomes

William Dias Gomes é casado, trabalha no Banco Central em São Paulo e é cadeirante desde 2002, devido a um acidente de carro. Seus posts são detalhados e trazem muitas fotos!

6 Comments

  1. Maria Aparecida Matielo

    Como não há acesso à praia, deixo de conhecer o Costa do Sauípe. Uma pena, mas adoro o mar. mariamatielo@uol.com.br

  2. Gostaria de saber se neste complexos existe a possibilidade de um cadeirante entrar e sair das piscinas sozinho, pelo relato não ficou claro.Amo entrar na água seja na piscina ou mar e pelo relato do William não deu nem para ele se molhar em nenhum dos dois, uma pena ir tão longe e não poder se refrescar. Ou será que entendi errado?

    • Ei, Valerí!

      Esta dúvida surgiu na postagem que fiz no Facebook do blog, e ela está respondida lá, caso queira dar uma olhada.

      William explicou que não tem elevador na piscina, mas que ele utilizava uma espreguiçadeira para fazer as transferências. Ela a posicionava perto da borda, fazia a transferência da cadeira de rodas para a espreguiçadeira, e daí para a piscina. Retornava da mesma maneira.

      No meu caso, consigo me transferir da cadeira diretamente para o solo, mas não consigo retornar. Então, quando fiquei hospedada no Iberostar, eu pedia ao salva-vidas para me auxiliar a voltar para a cadeira de rodas.

      Acho que precisamos fazer um movimento e solicitar a esses resorts que instalem o elevador. Vamos planejar algo assim?

  3. Relato completo e importante para a tomada de decisão. A minha visita, embora estivesse em meus planos, a Costa do Sauipe não vai ter ahahhaha… A observação do caminho até a praia ser ruim é fundamental e avalio que a empresa já deveria ter uma solução, pois é algo simples a ser feito. Continuo procurando!

    • Você tem razão, Jairo. Há muito que os cadeirantes vêm reclamando desse caminho até a praia. Já deu tempo de a administração providenciar algo melhor, e ela ainda não fez isso… Vai perder hóspedes.

      Grata pelo comentário!

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