Acessibilidade no Grande Hotel Termas de Araxá

Será que tem acessibilidade no Grande Hotel Termas de Araxá, este maravilhoso complexo de bem-estar e lazer localizado no Sul de Minas, que oferece banhos terapêuticos com as famosas águas medicinais? Foi minha terceira vez lá, e te conto os detalhes aqui!

 

Nota: Todas as fotos pertencem ao meu acervo, exceto quando indicado, e podem ser usadas apenas com autorização formal.

 

Grande Hotel – Parte de trás (fotos: acervo Laura Martins)

 

Estive em Araxá em maio [2023] para palestrar no XVI Encontro de Mulheres Cooperativistas, promovido pelo Sistema Ocemg. Foi uma experiência incrível falar para 300 mulheres que estão na luta, trabalhando segundo o modelo do cooperativismo.

Como o evento ocorreu no Grande Hotel Termas de Araxá, foi uma excelente oportunidade de retornar ao local, onde eu havia estado 20 anos antes! Esses dois primeiros passeios ocorreram em uma época em que eu ainda usava órtese e muletas para me locomover, recorrendo à cadeira de rodas apenas para deslocamentos de longa distância. Então, necessariamente minha perspectiva foi diferente.

Além disso, recentemente o hotel passou por uma reformulação completa, e eu não via a hora de checar até que ponto a acessibilidade avançou. Na época em que estive lá, pode-se dizer que não havia nenhuma…

Vem comigo checar ?

 

Dica sensacional:

Não é fácil encontrar bons restaurantes em beira de estrada, ainda mais acessibilidade. Mas nós encontramos!

Então, a dica é o restaurante Barril, com entrada acessível, banheiro adaptado, rampinhas internas. Para melhorar, lanches deliciosos com bom preço. Deixei um vídeo curtinho no Youtube ( aqui ) e avaliação no Google Maps ( aqui).

 

Palestra que fiz durante o Encontro de Mulheres – Foto: Sistema Ocemg

 

Patrimônio histórico tombado pode ser acessível?

 

Se você acompanha o Cadeira Voadora, já sabe que o tombamento não impede que a acessibilidade aconteça, mas dificulta bastante, pois exige um projeto bem fundamentado, indicando que o patrimônio não sofrerá danos nem perda de identidade. O processo para autorização do Iphan leva tempo e demanda persistência de quem propõe as alterações.

O Grande Hotel faz parte do Complexo Hidrotermal e Hoteleiro do Barreiro de Araxá, que foi tombado em 1989.

O Conjunto é formado por um lago ao redor do qual estão as Termas (1944) e o Grande Hotel (1945), cujo projeto foi coordenado por Luiz Signorelli; os parques e jardins (1944), que tiveram a concepção de Burle Marx, e a Fonte Andrade Júnior (1947), criada por Francisco Bologna.

Mesmo com o tombamento, e certamente devido à persistência dos gestores, foi possível realizar intervenções para a acessibilidade, como você verá neste texto.

 

Vista aérea do Barreiro de Araxá, com o hotel ao centro. [Foto de Gabriel-Boieras]

Expectativa X realidade

 

Começando pelo fim, quero te dizer que a acessibilidade avançou no Grande Hotel Termas de Araxá.

Mas minha expectativa era que a entrada principal tivesse recebido plataforma elevatória, ou pelo menos uma rampa móvel. Entretanto, não foi o que aconteceu, e isso me deixou frustrada.

Por outro lado, eu seria injusta se não mostrasse os avanços, porque eles de fato ocorreram.

Mas, se você me conhece, sabe que eu não sairia de lá sem deixar sugestões para que a acessibilidade avance. Então,  conversei com o gerente-geral e a gerente de relacionamento, compartilhando ideias simples, mas que podem fazer a diferença para nós. Ambos foram receptivos e me ouviram atentamente, se comprometendo a fazer mudanças progressivas.

Sim, só fiquei 24 horas no local, mas acho que a visita foi produtiva.

Segue comigo?

 

Diferenciais do Grande Hotel

 

Nas minhas duas primeiras vezes no Grande Hotel, não resta dúvida de que ele estava em decadência, apesar de conservar a beleza sob os estragos do tempo. Ao longo dos anos, após ter fechado as portas, reaberto, e ter sido administrado por empresas diferentes, ele se transformou em resort, por obra do Grupo Tauá. Mas não parou por aí…

 

Esta sou eu assentada em uma das imensas janelas do Grande Hotel, 20 anos atrás.

 

Evidentemente, essa não era a vocação do local, com sua construção imponente, seus móveis históricos e sua fonte de águas radioativas. Sim, felizmente “caiu a ficha”, e a administração optou por resgatar e renovar o passado. Agora, temos um empreendimento voltado para o bem-estar, com novas equipes, novo cardápio, novo enxoval e intervenções para a acessibilidade. Enfim, novos tempos.

Sem dúvida, o local merecia isso.

Por tudo isso, antes de falar sobre a acessibilidade, vou te mostrar o que o hotel tem de bom.

 

Gastronomia

Sem dúvida, mesmo no bufê (há também restaurante a la carte), a variedade, a qualidade dos ingredientes e a preparação dos pratos são marcantes.

Tudo que comi mostrava esmero, tudo impecável, da salada à sobremesa.

Como tenho intolerância a glúten e a lactose, descobri que na equipe há até mesmo uma nutricionista, que veio até minha mesa explicar os itens disponíveis e o que poderia ser preparado para mim.

Me ganharam.

 

Área de lazer

Em torno do lago, há uma imensa área verde, que permite uma longa caminhada, com a atração adicional da Fonte Dona Beja e das ruínas do Hotel Rádio. No hotel, há piscinas bastante convidativas.

 

Arquitetura, mobiliário, adornos

É um tanto quanto mágico estar num local que foi palco de eventos históricos e guarda suas marcas.

Não só a arquitetura e o paisagismo são belos, mas também os mobiliários e os adornos. Sem dúvida, é difícil saber em que prestar atenção.

O melhor mesmo é ter tempo de percorrer os longos corredores observando os tesouros, ou mesmo se misturar ao tour que acontece por lá. Procure se informar!

 

Termas

Desta vez, não tive tempo de me deliciar com um banho de imersão ou uma massagem, mas já havia feito isso nas vezes anteriores.

Mesmo diante do limite de tempo, consegui percorrer os corredores para fazer fotos, o que acabou descansando minha mente, por causa do silêncio. Uma energia tão boa que não dá vontade de sair de lá.

 

Equipe

Os funcionários e funcionárias são excepcionais, demonstrando que receberam excelente treinamento, certamente capaz de aprimorar as habilidades que já possuíam, mas duvido que seria possível criá-las.

Posso resumir assim: simpatia sem afetação, cooperação sem tirar nossa autonomia.

É, galerinha, confesso que sinto saudades de ser tão bem tratada… hahaha

 

Para finalizarmos esta parte, é preciso destacar a manutenção do espaço. Tudo estava bem cuidado e limpo.

 

 

Acessibilidade no Grande Hotel Termas de Araxá

 

Sim, finalmente vamos falar sobre este assunto! Eba!

Mesmo tendo permanecido no hotel apenas de um dia para o outro, minha resenha trará muita informação para você se guiar num futuro passeio até o local! Vambora!

 

Acessibilidade nas áreas comuns

 

Como disse acima, não há acessibilidade na entrada principal, que tem 3 ou 4 degraus. Por isso, subi carregada pelos mensageiros, mas havia a opção de entrar pelas termas, onde há uma rampa.

Porém, devido ao fato de o edifício ser imenso, com corredores muito longos, preferi escalar os degraus.

O balcão de atendimento é alto, mas o atendimento pode ocorrer fora dele. E, a partir desse momento, teremos autonomia, porque há uma rampa segura para ter acesso ao hall do elevador. Ele parece estar com a inclinação um pouco acima da norma, mas, mesmo assim, consegui subir sozinha.

O elevador é antigo, mas certamente passa por manutenções periódicas, porque estava funcionando perfeitamente.

 

 

Corredores

 

A maioria tem revestimento de pedra e está impecável. Para os apartamentos, há carpete ou tapete, não me lembro muito bem. Para acesso de cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, há rampas aonde quer que você vá.

No trajeto do restaurante para as termas, porém, a rampa é mais íngreme, inviabilizando que a pessoa suba sem ajuda. Porém, sempre há funcionárias e funcionários nas imediações, que podem dar uma força.

Nas sugestões que fiz em conversa com o gerente-geral, destaquei essa mudança como prioritária, por causa do risco de queda.

 

 

Restaurante

 

Como você deve ter percebido, espaço é algo que não falta no Grande Hotel, e no restaurante não é diferente.

No bufê, é possível alcançar a maioria dos pratos, mas não é necessário se preocupar quanto aos que estão um pouco mais altos, porque os funcionários estão atentos para ajudar qualquer pessoa. Acessibilidade atitudinal é algo que não falta aqui.

 

 

Piscina

 

Sem dúvida, me surpreendi quando o gerente me contou que a piscina tinha acessibilidade – e que acessibilidade, gente!

Para começar, há rampa em todo o trajeto que vai do interior do hotel até entrar na água.

Para efetivamente entrar na água, é possível optar por uma rampa, que te deixará em uma parte em que a borda da piscina está na altura da cadeira de rodas. Daí, é só fazer a transferência.

Ou, então, vá direito à cadeira-elevador, se transfira e prepare-se para deixar seu corpo fluir… Ao redor, muitas confortáveis espreguiçadeiras convidam ao repouso e à contemplação do entorno.

Clicando aqui, você pode assistir a um vídeo curtinho em que te mostro a cadeira-elevador.

 

 

Termas

 

Que tal um banho em águas minerais?

No atendimento das Termas, duas simpáticas moças estão em uma larga mesa, em altura adequada, à nossa disposição para explicar tudo!

Na verdade, já fiquei feliz por não ser atendida em um alto balcão. Depois, fiquei ainda mais feliz porque o atendimento foi objetivo e claro. Elas sabiam dar todas as informações, com muita transparência e eficiência.

De cadeira de rodas, conseguimos chegar a todos os ambientes, mas não tive tempo de experimentar nenhuma terapia, então fico devendo informações a respeito. Mas, pelo que me informei, não há acessibilidade para as banheiras e macas.

Uma certeza eu tive: só de rodar por lá me senti mais relaxada.

 

 

Acessibilidade quarto/banheiro

 

O quarto em fiquei ficava a uma rodada de um outro elevador, que nos deixa próximos ao restaurante, o que achei ótimo.

A porta é aberta com cartão magnético e dá para uma antessala. Ao lado está o quarto com três camas, sendo uma de casal e duas de solteiro, muito confortáveis, porém mais altas do que a cadeira de rodas. Para diminuir a altura, removi o pillow e até mesmo o edredon. Juro que baixou uns 5cm.

Tem TV, frigobar, escrivaninha e suporte para a mala, tudo ao alcance de pessoas em cadeira de rodas. Havia pouco espaço entre as camas, e só consegui ter acesso à primeira porta do guarda-roupas, que não tem rebaixamento do suporte para roupas.

Agora, vamos passear no banheiro? Sim, é passeio, porque ele é imenso.

 

 

Banheiro

 

No amplo banheiro, a porta se abre para fora e tem barra de apoio, o que facilita bastante o acionamento.

Não há dificuldade para acesso ao lavatório, porque nada obstrui a parte de baixo, de modo que é tranquilo encaixar a cadeira de rodas.

Para alcançar o secador de cabelos e a prateleira com amenities (cosméticos em miniatura disponibilizados pelo hotel), é bem fácil, porque estão numa altura adequada. Por outro lado, não é possível se olhar no espelho, que está muito alto.

Também é alta a prateleira com toalhas, por isso pedi que elas fossem colocadas em algum lugar mais baixo. Ao lado do vaso sanitário, tem duchinha higiênica e barras de apoio.

 

Espaço para banho

 

Duchinha de mão para banho com gatilho para acionamento (Google Images)

No espaço para banho, tem fechamento de blindex somente até a metade, o que nos permite entrar com a cadeira de rodas e, ao mesmo tempo, evita que o restante do espaço fique alagado. No piso, um bom caimento da água faz com que seja escoada rapidamente.

Para o banho, a água é aquecida por caldeira, o que faz com que demore um pouco para atingir uma temperatura confortável, mas valeu a pena esperar, porque ficou uma delícia.

O assento de banho é preso à parede e articulado, um pouco distante do chuveiro, de modo que tive que me inclinar para a frente a fim de lavar a cabeça. Caso não ache essa opção segura, você pode usar a duchinha de mão, mas ela só funciona quando mantemos o gatilho acionado.

A prateleira para os produtos de higiene fica em uma altura confortável, mas atrás da banqueta, o que pode inviabilizar o uso por parte de quem tem dificuldades com equilíbrio. Nas sugestões que deixei ao hotel, esta é das mais fáceis de corrigir…

Apesar disso, tomei um banho restaurador – e sem alagar o espaço!

Se embrulhe numa das felpudas toalha para se enxugar sem pressa e curtir o momento…

 

Vale a pena?

 

Nestas alturas, você já deve ter formado uma ideia do que significa se hospedar no Grande Hotel, certo? Espero que deixe um comentário me contando se acha que as condições atuais de acessibilidade lhe trarão o conforto necessário para eleger este destino.

No meu modo de ver, vale super a pena se hospedar lá, apesar de alguns desafios. Além disso, quero acreditar que, sendo relativamente simples resolver alguns deles, a competente equipe se encarregará de nos livrar de boa parte das dificuldades.

Se você optar por fazer uma reserva, lembre-se de verificar se já há alguma novidade nesse aspecto, mas não se intimide. Como a equipe é cheia de méritos, certamente soluções serão criadas para que o seu período de férias seja memorável.

E, claro, não deixe voltar aqui para nos contar a experiência.

Grande beijo, galerinha!

Laura Martins 

 

Tirei esta foto faz uns 20 anos…

 

 

Para saber mais:

 

Arquitetura do Grande Hotel

Estância hidromineral Barreiro de Araxá

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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