Alguém postou no Facebook, recentemente, que empatia não se ensina. Ou a pessoa é empática ou não é. No meu modo de ver, se não é possível aprender empatia, também não o é aprender a incluir.
Não tenho afinidade com esse modo de pensar. Não me lembro de alguma coisa que não possa ser ensinada, desde que o indivíduo que se propõe a exercer o papel de educador trabalhe com as estratégias adequadas ao público que deseja alcançar.
Gosto de explicar sempre, especialmente em palestras e entrevistas, as razões pelas quais o Cadeira Voadora tem como principal foco as viagens. Isso está diretamente ligado ao meu desejo de trabalhar a empatia.
Viajar para ter mais poder sobre si mesmo
Poucas coisas na vida me trazem tanto aprendizado e prazer quanto viajar.
Por ter investido muito em viagens, adquiri experiência para planejar deslocamentos e passeios tendo em vista a acessibilidade. Num dado momento, cheguei à conclusão de que precisava compartilhar tudo com outras pessoas que tivessem alguma dificuldade de locomoção. Entendi que não seria útil as experiências ficarem restritas a mim e meia dúzia de conhecidos.
Através dos e-mails entusiasmados e dos comentários que recebia, pude observar que fazer turismo era empoderador para as pessoas com deficiência. Afinal, são inúmeras as habilidades trabalhadas no planejamento e na execução de uma viagem. E as avaliações pós-retorno são riquíssimas.
Os desafios pelos quais passamos, e as consequentes habilidades que desenvolvemos para lidar com eles, aprimoram a autoconfiança, assim como a confiança na capacidade que desconhecidos têm de ser empáticos.
Viajar para incluir
Viajar pode tornar nossa visão de mundo mais rica, ao constatar que o modo de vida de nossa “pequena aldeia” não foi reproduzido pelo planeta. O olhar sai do próprio umbigo para abranger o que está além. E assim aprendemos que o outro pode fazer tudo de forma bem diferente, e ainda assim produtiva. Ele é diferente, apenas, e não pior. Podemos então descobrir que a realidade pode ser dura para o ego, mas muito boa para desenvolver a empatia.
Deixar a segurança do lar, então, nos dá a chance de incluir inúmeras visões de mundo em nosso fichário interior, que vêm se somar às nossas. Aprendemos vivendo que outros jeitos de ser não são necessariamente ameaçadores. Pelo contrário, podem ser bastante enriquecedores.
É preciso ter pouca sensibilidade para retornar o mesmo, após receber os impactos que surgem tanto das novas paisagens quanto dos aspectos culturais, dos jeitos de ser, de comer e de viver.
Desconfio que o mundo seria mais inclusivo se as viagens de experiência fossem mais incentivadas, e não só aquelas que focam em compras e em rápidos percursos pelos principais pontos turísticos.
Mentores de viagem
Há alguns escritores que admiro por suas reflexões a respeito das viagens. Um deles é, como você já deve saber, Amyr Klink. É inacreditável quanto aprendemos sobre planejamento, atenção, senso prático, segurança, comportamento e muito mais lendo as obras dele ou assistindo às palestras. Eu o considero um mentor.
Mais recentemente, topei com as reflexões de uma pessoa que conhecia exclusivamente como fotógrafo e designer. Só agora tenho deparado com sua faceta de escritor, por causa das publicações no Instagram e no Facebook. Por tudo o que eu disse, certamente você perceberá a sintonia delas com o jeito Cadeira Voadora de ser.
Então, te deixo com imagem e mensagem de Andrei Polessi. A partir de agora, ambas estarão enriquecendo nossa reflexão aqui, no Cadeira Voadora. Fico feliz e grata por ele ter autorizado a reprodução.
Olhando além
Foto e texto: Andrei Polessi
“Quantos mundos existem fora do nosso mundo?
Quantas histórias de vida se escondem em cada vale, entre cada montanha?
Empatia e compaixão com realidades díspares das nossas nos fazem maiores na humanidade: mais inclusivos e conscientes de que o diferente não fere nossa individualidade e nossa essência.
Pelo contrário. O diferente é o que nos tempera.”
Para saber mais:
Andrei Polessi é amigo de longa data, pessoa cujo trabalho e reflexões sempre admirei.
É fotógrafo, diretor de arte, cofundador do Instituto Dharma. Viajou boa parte do mundo fotografando ou participando de expedições solidárias, o que, como se percebe em seus textos, aprimorou seu olhar.
Para acompanhar seu competente trabalho, clique nos links:
Querida Laura! Seus comentários são sempre enriquecedores!! Adoro seu olhar prático e crítico mas sempre carregado do positivismo de que faremos o melhor com as cores da inclusão !!!
Sandra, que saudade! Fiquei muito feliz com seu comentário.
Obrigada!
Laura, eu simplesmente adoro a originalidade de suas reflexões. Você sempre faz um esforço para agregar um ponto de vista novo, uma ideia nova diante as discussões em torno de “nossos” temas. Esse, em especial, achei que vc acertou na mosca nesse aspecto! Congrats e boas viagens
Puxa, Jairo, que bacana sua percepção; é muito raro as pessoas notarem isso. E, de fato, estou sempre na tentativa de trazer um ponto de vista que nos auxilie a pensar fora da caixa.
Obrigada pelo comentário!