Sandra Irala: a arquitetura acessível colocada em prática

Numa de minhas idas a São Paulo, conheci pessoalmente a arquiteta Sandra Irala, que tem focado seu trabalho na arquitetura acessível. Vem comigo para saber mais!

 

Em 2018, poucos dias antes de uma viagem a São Paulo, encontrei no blog um comentário da arquiteta Sandra Irala, que até então eu não conhecia.

Vou colar a mensagem aqui, para que possam compreender a razão de eu ter ficado interessada em me encontrar com ele, o que ocorreu alguns dias depois.

 

Querida Laura,


estoy muy feliz por haber encontrado de casualidad este blog… (aunque casualidades no existen!!!).
Soy arquitecta y designer de interiores. Siempre trato de pensar en ambientes accesibles, independientemente de haber una persona con Necesidades Especiales. Nunca se sabe si puede haber una visita, si puede haber un axidente, si futuramente pueda existir una situacion diferente… Eso es lo que trato de incluir en mis proyectos y de transmitir a mis clientes.
Por esa razon, buscando alguna silla de ruedas para estar en el agua (para tomar banho), me depare con este su blog. Me encanté con el nombre “cadeira voadora”!!! Excelente!!! Creo que es una sintesis de su personalidad y de la vida inquieta que lleva!!! Felicitaciones!!! Ud es un ejemplo de vida!!! Voy a seguirla, y quisiera que cuando tenga alguna inquietud o interés, por favor, comuniquese conmigo!! Será un plazer poder ayudar!!!


Sandra Irala

 

Pensando em ambientes acessíveis

 

Sandra é argentina, mas fala bem o português, porque vive no Brasil há mais de 20 anos. Apesar disso, deixou a mensagem em espanhol, e, como amo a língua, estabeleceu-se uma conexão imediata entre nós.

Conforme ela própria explicou, ao fazer projetos pensa em todos os ambientes como acessíveis, mesmo que não haja uma pessoa com deficiência utilizando o local.

Embora para nós, pessoas com deficiência, tal atitude possa ser vista como natural, e até mesmo óbvia, ela ainda é, infelizmente, revolucionária. Afinal, quantos arquitetos você conhece que agem dessa maneira?

Sem dúvida, é necessário pensar nas visitas, ou em um possível acidente, na chegada de um bebê ou no processo de envelhecimento. E, como você viu, ela procura transmitir essa ideia a todos os clientes. 

Na verdade, fiquei pensando em como seria se mais e mais pessoas seguissem essa conduta… O paraíso na Terra, concorda?

 

Arquitetura e inclusão


Após minha chegada a SP, fomos tomar um café. Ao longo da tarde, ela me contou inúmeras histórias acerca de sua experiência com a acessibilidade.

Assim, fiquei sabendo que conseguiu convencer o dono de uma cervejaria a tornar o local acessível. Quando ele encomendou o projeto de reforma, ela tocou no assunto “acessibilidade”, pois não havia nada previsto. Como vocês já devem estar imaginando, a desculpa foi a de sempre, ou seja, “Nenhum cadeirante vem aqui”.

Contudo, a arquiteta não desistiu: “Mas, quando vier, seu estabelecimento será conhecido como aquele que atende a TODOS os clientes da melhor maneira possível”. Como resultado, o proprietário decidiu investir na acessibilidade, e agora alguns cadeirantes já frequentam o local.

Atualmente, Sandra está reformando uma residência a pedido de um casal. Será toda acessível, porque é onde eles pretendem viver quando idosos. Na verdade, foi pesquisando para encontrar uma cadeira de banho que lhes atendesse que ela encontrou o Cadeira Voadora.

 

A arquitetura não pode abrir mão de projetar ambientes para todas as pessoas

 

Boa escuta é fundamental

 

Para Sandra, está muito claro que seu papel, com qualquer cliente, é escutar suas demandas com toda a atenção e usar as técnicas disponíveis, a fim de materializá-las. Ela não é “estrela”, e seu objetivo é que a obra atenda à necessidade do cliente.

Na verdade, seu site já deixa claro que projetar um espaço bem sucedido, seja para reforma ou construção, depende da sensibilidade do profissional, a fim de captar até mesmo as necessidades que o cliente não consegue manifestar.

Certamente, para isso é necessário empatia, oferecendo as orientações técnicas necessárias, mas tornando realidade, da melhor forma, o sonho do cliente.

 

Aproveitamos a ida ao Octavio Café para conferir a acessibilidade

 

Não abra mão de um bom arquiteto

 

Para concluir, se você vai construir ou reformar, contrate um arquiteto que conheça não só a norma de acessibilidade mas também entenda de design universal. Sem dúvida, sabemos quanto é necessário que todos os ambientes acolham a diversidade de pessoas. 

Acredito que deixar de contratar um bom arquiteto, para economizar, é um barato que pode sair caro. Certamente, em nosso país muita gente não tem como pagar por esse serviço. Contudo, creio que se deve fazer o possível para custear pelo menos uma consultoria.

No mais, fiquem de olho nos bons arquitetos, para aprender com eles. Nas redes sociais, há vários que disponibilizam excelentes informações, gratuitamente. 

Ah! Abaixo, deixo o link para a live que fiz com Sandra Irala, em que conversamos sobre móveis adaptáveis. Você vai gostar, tenho certeza!

[Publicado em 30 de ago de 2018 e atualizado em 04/2022]

 

Para saber mais

 

Instagram de Sandra Irala

A acessibilidade ainda é uma exceção em projetos de arquitetura?

Arquitetura e acessibilidade em hotéis

 

Projetando móveis adaptáveis | Laura Martins entrevista a arquiteta Sandra Irala

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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