No primeiro post da série sobre intercâmbio, contei que o intercâmbio para cadeirantes precisa ser planejado cuidadosamente. E contei também que passei por algumas etapas até escolher pousar na cidade de Newcastle upon Tyne, que fica no nordeste da Inglaterra. Mas por que eu escolhi ir para lá? E seria uma boa para vc também?
Quando a cidade me foi apresentada pela agência, imediatamente recorri ao Google para conhecê-la. A princípio, não encontrei quase nenhuma informação em português; poucos brasileiros haviam ido à cidade e escrito a respeito. Isso não era algo ruim a princípio, porque indicava que eu iria encontrar poucos brasileiros por lá. Para quem faz intercâmbio, esse fato pode até ser positivo, pois “obriga” a pessoa a se comunicar exclusivamente na língua que está sendo aprendida.
Enquanto lia os posts, em português e inglês, notava um ponto em comum: as pessoas haviam gostado muito da cidade, apontando-a como um “boa surpresa”. Enfim, decidi ir mesmo para lá, e não me arrependi. Agora, ao fazer o post, me bate aquela saudade das três boas semanas que passei na cidade…
Quer saber, então, por que escolher Newcastle para seu intercâmbio? Te apresento 7 razões!
1 – Newcastle é pequena, mas bastante desenvolvida
Para uma pessoa com mobilidade reduzida que ficará longe de casa por pelo menos três semanas (o tempo mínimo para um programa de intercâmbio*), e provavelmente sozinha, me parece interessante que a escolha recaia sobre uma cidade menor. Isso pode significar menos tempo no trânsito, mais simplicidade para se locomover, mais segurança, menos poluição, menos estresse, maior possibilidade de fazer contato com nativos.
Mas é bom que a cidade seja próspera, e Newcastle é. No caso, isso significa acesso a boas escolas, boas opções culturais (teatro, cinema, música), bons restaurantes, excelente comércio e até um estádio de futebol no centro da cidade!
*Correção em 1º/11: o tempo mínimo são 2 semanas.
2 – O povo é amigável
Esta foi uma das principais razões para eu ter escolhido a cidade: todo mundo se referia ao fato de o povo ser gentil. Não era mentira: de modo geral, os geordies (como são chamados os habitantes dessa região) são simpáticos, bem-humorados, leves e cooperativos. O sotaque é que não é fácil, mas, como estão acostumados a conviver com estrangeiros, procuram se fazer compreendidos.
3 – A cidade é charmosa
Newcastle tem pelo menos duas áreas dignas de sua total atenção: o City Center e o Quayside (pronuncia-se kisaide).
A área central tem prédios históricos, alguns medievais. Estão bem-cuidados e tornam as ruas um charme! Como algumas delas são estreitas e fazem curva, a perspectiva rende belas vistas – e, portanto, belas fotografias. Há catedrais bonitas e até mesmo um castelo, que deu nome à cidade. E o melhor: muitas construções têm acessibilidade para cadeirantes, mesmo sendo medievais.
O Quayside é a área que fica à margem do Rio Tyne. É agradável, com restaurantes e cafeterias que ficam bastante movimentados, particularmente se o sol der as caras (lembre-se de que fui no outono!). Há belas pontes cortando o rio e levando as pessoas de Newcastle a Gateshead, que fica do outro lado, a poucos passos.
A ponte mais famosa, cartão postal da cidade, é a Millenium Bridge. Além de ter um desenho lindíssimo, ela faz um tilt – ou seja, gira como se fosse um olho piscando, para deixar os barcos passarem. Tive a oportunidade de assistir ao tilt do terraço do Baltic, um museu de arte contemporânea às margens do rio. É um espetáculo que não deve ser perdido! Até porque é a única ponte no mundo que faz esse movimento (veja fotos e vídeos abaixo)…
4 – A cidade não para
Você pode ter seus momentos de sossego também, caso seja isso que vc queira; não se preocupe. Mas Newcastle não vai te deixar na mão caso aprecie movimento.
A partir da quinta-feira, a população cresce bastante: começam a chegar turistas em busca de boas compras (o preço das roupas na cidade é considerado muito bom, com relação ao restante da Inglaterra e a alguns países da Europa) e em busca de balada.
A vida noturna local é famosa em toda a Grã-Bretanha e além, graças a sua animada população estudantil. Por isso, atrai um sem-número de turistas (alguns vão para despedidas de solteiro e também para se casarem lá). Há muitos clubes noturnos, cassinos, bares – e até mesmo uma construção, tipo um shopping, chamado Gate, que concentra esse tipo de diversão. Além disso, há um quarteirão, chamado Bigg Market, que também concentra clubes e bares barulhentos. Apesar da bebedeira – o povo bebe muito mesmo! – não há brigas, nem violência.
Em dia de jogo, a cidade também fica cheia. O povo inglês adora futebol, e os estádios ficam lotados, ainda que a partida envolva times da segunda-divisão.
5 – Tudo que você precisa está à mão
O centro da cidade concentra tanto diversão quanto educação, alimentação e compras. Eu saía da escola, rodava um pouquinho e já estava em um dos inúmeros restaurantes disponíveis. Perto da escola também havia um mercado de frutas e verduras, assim como farmácias e shoppings com lojas que vendem de tudo.
6 – A cidade é razoavelmente acessível para cadeirantes
A prova disso é que, pelo menos no centro, você vê cadeirantes e pessoas em scooter o tempo todo!
Na área central, praticamente não se vê calçada sem rebaixamento. Além disso, os passeios, em geral, estão em boas condições. No Quayside, a situação é um pouco mais complicada, pois há ruas muito íngremes e alguns becos. Mas é possível passear ao longo do rio com calçadas em boas condições e rebaixamentos.
Muitas vezes, apesar de a rua ser íngreme, os passeios não têm degraus, coisa que é comum no Brasil e inviabiliza a circulação sobre rodas. Andei de scooter nessas ruas, sem problemas. Mas, em outros pontos, é uma colina mesmo, e há escadas… No próximo post, indicarei nos mapas quais são as ruas acessíveis.
Há banheiros acessíveis em excelentes condições nos shoppings e museus (alguns têm até mesmo guinchos para transferir a pessoa). Mas em alguns locais eles ficam trancados, sendo abertos por chave ou cartão magnético, que você terá de solicitar (nos próximos posts indicarei onde eles se localizam).
Não usei o transporte público, mas os sites oficiais (informarei os links no próximo post) nos informam que o metrô é totalmente acessível, assim como 70% da frota de ônibus. Os ônibus da rota Quaylink têm 100% da frota acessível.
As pessoas são atentas e gentis, tanto nas ruas quanto dentro das lojas, e não esbarram em pessoas com deficiência, nem em idosos. E, no centro da cidade, é comum os motoristas pararem para qualquer pessoa atravessar a rua. Mas tudo muda nos fins de semana, quando chegam os turistas… =(
7 – O custo de vida não é alto
Isso é muito importante, especialmente para nós, brasileiros, numa época em que a libra está valendo R$ 6,50 (câmbio de 30/10/2015). Num cálculo superficial, concluí que Newcastle é pelo menos 30% mais barata que Londres. E, ao contrário do que acontece nos EUA, no Reino Unido as gorjetas não são obrigatórias, e os impostos já estão embutidos nos preços.
Clique aqui para se informar sobre o custo de vida na cidade e fazer uma comparação com o local onde vc mora.
Passeios obrigatórios:
1 – Rode ao longo do Quayside. A região é plana, bonita, charmosa, tem restaurantes e cafeterias às margens (mas apenas alguns acessíveis) e muita gente circulando. É animado e alegre. Aos domingos, acontece uma feirinha de artesanato e comidas.
2 – Atravesse a Millenium Bridge. Ela permite exclusivamente o trânsito de pessoas e ciclistas, e há alguns bancos no percurso, que convidam a uma parada para contemplação. Admire a vista. Durante a noite, as belas curvas e linhas da ponte ficam iluminadas, e as cores vão mudando…
“Uma caminhada pelo Quayside sempre começa ou termina na mais nova das sete pontes da cidade – a Gateshead Millennium Bridge, inaugurada em 2001. Esta ponte é única em todos os sentidos da palavra. A estrutura incomum consiste de dois arcos de aço ligados por cabos inclinados para possibilitar que os navios passem por baixo. A nova ponte também tem o apelido de Blinking Eye (Olho Piscante), pois parece um grande olho que se abre e fecha, quando os navios passam.”
Também é possível atravessar de cadeira de rodas a Swing Bridge e a High Level Bridge.
3 – Após atravessar a Millenium, vá ao Baltic Centre for Contemporary Art e admire a vista panorâmica que se tem do observatório (5º andar) e do terraço (4º andar). Vá no horário do tilt e aproveite para ver a Millenium girar (ver foto acima). É lindo.
4 – Se ainda estiver com ânimo, após o Baltic vá até o Sage, que recebe apresentações musicais de todos os estilos, tanto locais quanto nacionais e internacionais. É um prédio contemporâneo que impressiona. Totalmente acessível, pode ser alcançado de cadeira de rodas ou scooter. Ao lado do Sage, há uma bela construção que já foi uma igreja e hoje é um centro cultural. Acessível.
5 – Visite o castelo (Newcastle Castle), cuja construção, recém-restaurada, data dos anos 1200. No dia em que fomos, acontecia um evento em homenagem a Tolkien, que escreveu O senhor dos anéis. O clima era mágico e festivo, com aquelas pessoas vestidas de hobbits!
A construção tem algumas salas acessíveis a cadeiras de rodas, assim como banheiro acessível. O elevador é panorâmico.
6 – Grey Street: uma das mais belas e interessantes ruas de Newcastle. É íngreme, mas vc pode subi-la ou descê-la de scooter (os passeios estão em bom estado e têm rebaixamento do lado direito de quem sobe do Quayside em direção ao centro; do lado esquerdo, não há rebaixamento em todas as esquinas). Também é possível rodar com cadeira manual, desde que vc disponha de um “empurrador” com braços fortes.
Ela começa próximo à Tyne Bridge e vai até o centro da cidade. Ao longo da rua, há majestosos edifícios, e no fim dela está a estátua de Charles Grey (1764-1845), “o homem que é mais conhecido como earl (conde) e mais famoso por seu chá favorito que por ter sido primeiro ministro do Reino Unido”, conforme nos conta o guia virtual da KLM.
É realmente bela, e vale o passeio. Fiz este percurso pelo menos umas 6 vezes, e nunca me cansei.
7 – Visite o St James Park, estádio e solo sagrado do Newcastle United Football Club. No dia em que fomos, estava fechado; só visitei a loja. No outro dia, acontecia uma importante partida, mas não tínhamos adquirido ingresso. Vá mesmo que não goste de futebol, pois é um programa cultural.
8 – Visite as catedrais, independentemente de ser religioso ou não, pois são muito bonitas. Visitei duas (St Nicholas Cathedral e St Andrew), ambas acessíveis para cadeirantes. Não é maravilhoso que edifícios medievais sejam acessíveis, incluindo o banheiro? Acho isso digno de nota. A bonita St Andrew é anglicana e fica próxima à escola onde estudei; é um oásis no meio do burburinho do City Centre.
Bem, Newcastle continuará no próximo post, quando falarei sobre onde comer, comprar e ir ao banheiro. Também contarei os problemas, claro, senão não estaria sendo honesta. Afinal, nenhum lugar é perfeito, e vc precisa de todas as informações antes de decidir para onde ir, não é mesmo?
Haverá ainda um outro post sobre a cidade, no qual falarei sobre a escola, o hotel, o aeroporto e a companhia aérea. E, por fim, farei um post sobre Londres. Até mais!
Para saber mais:
Newcastle no blog Dri Everywhere
Newcastle no blog Esvaziando a Mochila
Guia Lonely Planet (em inglês)
Por que escolher Newcastle para estudar no Reino Unido | Viva Mundo
Millenium Bridge fazendo o tilt | time lapse (acelerado)
Millenium Bridge fazendo o tilt | tempo real