Acessibilidade não é só para cadeirantes | Intérprete de Libras

 

Guilherme Ramiro foi um dos intérpretes de Libras presentes no debate do TRE-MG do qual participei, em 2019.

 

Você já esteve em algum evento em que havia intérprete de Libras?

Quando se fala em acessibilidade, a maioria associa a palavra às ações voltadas para os cadeirantes. Mas não podemos nos esquecer dos vários outros segmentos de pessoas com deficiência, que também ficam à margem dos acontecimentos sociais, porque muitas vezes não disponibilizamos formas de incluí-los.

Este post foi publicado originalmente em setembro de 2019, mês em que participei de alguns eventos com intérprete, por isso tive a ideia postar a respeito. Agora, em abril de 2020, atualizo o post e o recompartilho nas redes sociais!

 

Excelência na interpretação

 

Um dos eventos em que estive em setembro de 2019 foi o #festivalsomoscomunidade, em Belo Horizonte, em que dois profissionais se revezaram na tarefa de traduzir/interpretar as falas e as músicas para o público. A acessibilidade foi orquestrada pelo David Cesar, que é cadeirante, e merece os parabéns pelo trabalho que realizou, integrando a equipe da Coreto Cultural.

Na mesa-redonda do TRE-MG, da qual participei no mesmo mês, também havia dois intérpretes se revezando, e ambos trabalharam com muita competência.

Libras é uma língua, e não uma linguagem. Tem suas especificidades, e uma delas é que, de modo geral, não se traduz cada letra de uma palavra, nem cada palavra de uma frase, mas sim os conceitos. Está mais para interpretação que para tradução, portanto.

Em todos os vídeos que gravo nos eventos, faço questão de registrar a atuação do intérprete, para mostrá-la como parte do show/da fala.  Observar sua atuação, expressão visual e corporal e capacidade de se comunicar pode nos ensinar muito.

 

Carla Rosa interpretando canção

 

Guilherme Ramiro interpretando canção

 

 

Todo surdo usa Libras?

 

É preciso lembrar que nem todos os surdos se comunicam usando Libras, pois alguns são oralizados, ou seja, aprenderam o português, comunicam-se falando e às vezes usam tecnologia para ouvir.

Independentemente desse fato, é importante que o intérprete esteja presente em eventos e também em instituições. Já parou para pensar como um surdo não oralizado faz quando precisa de atendimento médico de emergência ou de recorrer a um órgão público para resolver algum problema?

E como ele faz para se comunicar em um evento, proferindo palestra ou interpelando o orador, se não houver quem interprete sua fala para nós? Ficaremos sem sua contribuição, que é única?

 

Ademar Alves é arquiteto. A intérprete leva até nós o conhecimento que ele compartilha em sua apresentação:

 

 

Formação do intérprete de Libras

 

Aprender Libras para utilizar na comunicação é tão complexo quanto aprender qualquer língua, afinal não bastam alguns meses de aulas para que consigamos nos comunicar com eficiência.

Contudo, além do conhecimento da língua e da cultura surda, é preciso que a pessoa tenha bom conhecimento geral e habilidades para se expressar com todo o seu corpo.

Precisamos cobrar das instituições que tenham em seus quadros alguém com capacitação, para que possa ser acionado em caso de necessidade, ainda que seja virtualmente.

A demanda tem aumentado, e hoje muitas escolas oferecem capacitação em Língua Brasileira de Sinais. Procure se informar!

 

Intérpretes nas redes sociais

 

A intérprete Anne Magalhães é ativa no Instagram, onde posta vídeos em que interpreta canções que vão do hip hop ao blues, passando pelo jazz de Nina Simone. Seus seguidores não se limitam aos surdos, até porque as interpretações são sensíveis e belas, o que faz delas uma forma de arte.

Mariana Lima também tem o Instagram movimentado e tem estado presente em muitos shows, como nos de Alok e Anitta, por exemplo.

Em Belo Horizonte, Guilherme Ramiro tem participado de inúmeras apresentações artísticas. Durante nosso movimentado Carnaval, esteve nos palcos levando aos surdos a possibilidade de ser incluídos na folia.

No Para Saber Mais, abaixo, te informo os endereços desses intérpretes e compartilho uma reportagem do Estadão para que possam conhecer o trabalho da Anne.

 

Vamos dançar?

 

Para finalizar este post, reproduzo um vídeo do Guilherme junto com a Pabllo Vittar, assim como um trechinho da reportagem de Anne Magalhães e um vídeo com ela. Espero que curtam!! São dois estilos musicais diferentes, mas duas interpretações que contagiam.

 

Anne Magalhães diz que nem tudo em seus vídeos depende da língua dos sinais para gerar emoções. Mexer as pernas e os quadris, por exemplo, é uma forma de demonstrar ritmo e ajudar na compreensão da mensagem. “Música vai além do som. A maneira como eu interpreto é muito próxima da criação de poesia para surdos. Ou seja, eu me distancio dos sinais formais de vez em quando para criar cenas visuais”, explica.

 

 

[*Todas as fotos e vídeos pertencem ao meu acervo, exceto os vídeos de Anne Magalhães e de Guilherme Ramiro]

 

Para saber mais:

 

 Anne Magalhães

Mariana Lima

Guilherme Ramiro

Importância do intérprete de Libras

Surdos e ouvintes: o papel do intérprete de Libras

Conheça Anne, a mulher que interpreta pop e hip-hop em Libras para surdos: ‘Música vai além do som’

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

2 Comments

  1. Guilherme Ramiro Rodrigues

    Gratidão por registar aqui sua experiência como pessoa com deficiência que não se preocupa somente com sua causa, interessente ver seu reconhecimento para comigo e meus colegas. Quando se escuta com os olhos o mundo passa ter mais cor e o som vem com o mover.

    • Guilherme, seu comentário me deixou comovida, de verdade!

      Embora o Cadeira Voadora seja focado nos cadeirantes, quando penso em inclusão entendo que ela é para todos, ou não é inclusão. Parece óbvio, né?

      Mas o fato é que está longe de ser óbvio, tendo em vista que muitos só se preocupam com a própria causa, se esquecendo de tantos segmentos excluídos, e não só o das pessoas com deficiência.

      Parece que eu já trouxe na genética a capacidade de me colocar no lugar do outro, e a vivência como pessoa da categoria dos excluídos aprimorou essa habilidade.

      Além de tudo, é como vc falou, de forma tão pertinente: “Quando se escuta com os olhos o mundo passa ter mais cor”.

      Toda vez que a gente procura ver o mundo com os olhos do outro, calçar os sapatos do outro, e há tantas formas de dizer isso, O MUNDO FICA MUITO MAIS RICO.
      Isso também é viajar!!!!

      O trabalho do intérprete de Libras sempre me chamou a atenção, mesmo que eu não tenha aprendido essa língua. Mas fico atenta aos gestos, às expressões — e aprendo muito. Não sobre Libras. Sobre capacidade de se comunicar, sobre habilidades a serem desenvolvidas para que a comunicação seja eficiente. E fico admirada com a plasticidade dos gestos de alguns intérpretes, entre os quais vc.

      Um gde beijo e muito grata pelo feedback!

Comments are closed