No dia 22/10/2019, estive no Minas Trend, que é o maior salão de negócios de moda da América Latina, a fim de divulgar este grande momento da moda para o público com deficiência, que ainda não tem presença forte nesta área de negócios.
Mas há pessoas com deficiência fazendo moda, assim como pessoas com e sem deficiência fazendo moda considerada inclusiva. Será que haveria algum representante lá?
Como acessar o evento?
A 25ª edição do Minas Trend teve lugar no Expominas, em Belo Horizonte, com acesso limitado a compradores e empresários de moda, mas houve eventos paralelos abertos ao público, como palestras, por sinal muito interessantes. Fui acompanhada por Marta Alencar, e comparecemos como influenciadoras digitais (imprensa).
Outra possibilidade é entrar como convidado de algum expositor ou de marca que vai apresentar um desfile.
Pode-se ir de metrô, Uber, táxi ou mesmo com automóvel próprio, pois há estacionamento para pessoas com deficiência. Ele está interligado, através de rebaixamentos, à entrada do edifício, portanto não haverá problemas de mobilidade.
Porém, achei o valor da diária alto: R$50,00. Como não é um local aonde se vai para ficar um curto período de tempo, será necessário avaliar se vale a pena ir de automóvel.
Como é a acessibilidade?
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Examinamos tudo: os espaços de exposição, a circulação, os banheiros. Vamos verificar os detalhes?
No Expominas
O Expominas tem a tradição de receber grandes eventos e já conta com itens de acessibilidade.
As vagas demarcadas para pessoas com deficiência ficam próximas à entrada, como de fato deve ser. Só precisaremos transpor alguns rebaixamentos de calçada (uns dois, se não me engano).
Para o prédio, há uma rampa com bastante desnível à esquerda do pórtico de entrada, que dá acesso ao segundo piso, mas a entrada para o terceiro piso é plana. Os elevadores têm um tamanho suficiente para caber uma scooter.
Só visitei um banheiro, que deixou a desejar, por causa de um pequeno ressalto na entrada e do espaço exíguo na cabine adaptada. Mas eles existem, em mais de um andar, e o que visitei estava bem limpo.
No mais, é preciso saber que as distâncias são imensas, então, se você usa muletas, considere utilizar uma cadeira de rodas ou scooter nessa ocasião.
No Minas Trend
O balcão de credenciamento do Minas Trend era muito alto, sem nenhuma parte rebaixada.
A inscrição poderia ter sido feita on-line, com antecedência, mas nos distraímos e não fizemos. Então, foi necessário fazer na entrada, e vimos que não havia atenção à prioridade. Foi necessário explicar à moça que estava dando informações, na lateral do balcão, que ela é lei no Brasil.
Por outro lado, fiquei feliz em perceber a facilidade para entrar nos estandes, tendo em vista que era tudo plano. Nenhum tipo de ressalto, em nenhum deles. E grande parte havia espaço interno de circulação, além de balcões rebaixados, vitrines ao alcance do olhar e mesas que permitem aproximação do cadeirante. Ponto muito positivo!!
Não visitamos o espaço gastronômico, somente a lanchonete do primeiro piso, que tinha mesas que permitiam aproximação frontal e balcão com altura média.
O principal ponto negativo, na minha visão, foi o espaço para desfiles. Com certeza, ninguém esperava uma cadeirante ali, então me posicionei na extremidade, perto dos fotógrafos. Era um excelente local, se formos considerar que todas as modelos param ali, a fim de ser fotografadas, mas saí com o pescoço e a coluna tortos… Da próxima vez, chegarei com antecedência, para “negociar” um lugar mais confortável.
E a moda inclusiva?
Não encontrei expositor que se dedicasse à moda inclusiva, no sentido estrito, mas havia muitos que fazem uma moda com propósito e zelo. Afinal, o Minas Trend não é um fast-fashion, com peças que saem em fornadas, mas um lugar que reúne quem se dedica a trabalhar de modo mais artesanal, atento à qualidade, tentando escapar das exigências do mercado de consumo.
Escolhi mostrar as roupas da estilista Valéria Duarte Ricardo, da marca Valéria D. Valéria, que já é minha conhecida, pois desfilei suas peças na Virada Cultura, este ano.
Suas coleções são sempre inspiradas em algo significativo para ela, como a história do jazz e do blues, os campos de algodão, as aldeias africanas e agora o Egito antigo. Outra particularidade é que ela usa tecidos leves, muitas vezes com elasticidade e algumas vezes com aberturas que tornam o vestir e o ajuste facilitados.
Como se não bastasse, Valéria está super aberta a transformar a peça para que uma pessoa com particularidades no corpo possa vesti-la! Vamos ver a entrevista?
Bem antes da lei de cotas
Uma das boas surpresas do Minas Trend foi conhecer a empresária Heliana Lages, que trabalha com bijuterias que são verdadeiras jóias tecidas com fios de metal. Ela emprega duas pessoas com deficiência, e uma delas há quase 30 anos, portanto bem antes da lei de cotas. E essa pessoa sempre exerceu as atividades no próprio domicílio, o que continua sendo vanguarda.
Que Heliana possa inspirar outros empresários a perceber que a pessoa com deficiência é como qualquer outra, basta que o setor de recursos humanos saiba colocá-la na função adequada, com bem-estar, conforto e segurança. Acompanhe nossa conversa!
Por que você não estava lá?
Saímos do Minas Trend com uma vontade imensa de ver as pessoas com deficiência lá, criando e comercializando moda, e empregando outras pessoas com deficiência.
O mais importante é ter em mente que nós também podemos estar no Minas Trend fazendo negócios, evidentemente se o trabalho tiver a qualidade que o mercado exige.
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Espero que quem estiver lendo se sinta estimulado a sair da invisibilidade, porque, vamos combinar, sabemos que tem gente boa com deficiência fazendo moda… Se precisar de ajuda, procure os empresários e os professores de moda que investem em diversidade e em inclusão no sentido amplo. E simplesmente ouse!
Para saber mais:
Mary Arantes assina direção artística do Minas Trend
Valéria D’ Valéria | Instagram
Heliana Lages | Acessórios em crochê tecidos no metal
Norb | roupas que não têm gênero
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