Dia do Orgasmo | Pessoa com deficiência pode ter orgasmo?

No dia 31 de julho, comemora-se o Dia do Orgasmo, data criada por sex-shops britânicas, em busca de aquecer a venda de produtos eróticos e incentivar o debate sobre prazer sexual feminino. Falar desse assunto pode dar margem a um papo instigante sobre a vida sexual das pessoas com deficiência. Afinal, se ainda tem muita gente que pensa que não fazemos sexo, quanto mais ter prazer… Mas, sim, nós p(h)odemos!

Alerta: Post contém texto, imagens e vídeo não recomendáveis para crianças. 

 

Dia do Orgasmo e pessoa com deficiência

Foto: Ava Sol [Unsplash]

A deficiência afeta o exercício da sexualidade?

 

Quando uma pessoa tem uma deficiência, especialmente se decorrente de lesão na medula, o organismo inteiro acaba sofrendo algum tipo de impacto.

Portanto, o sexo também será afetado, como tudo o que diz respeito às respostas que dependem dos neurônios, desde a sensação térmica até o controle de esfíncter, passando pela sensibilidade do corpo e pela excitação.

Entretanto, isso não significa que o prazer sexual deixará de existir, embora ele possa ser diferente de antes. A sexualidade é ampla e complexa, e não pode ser reduzida ao uso dos genitais e à sensibilidade tátil, que são coisas maravilhosas, mas não são a totalidade da experiência.

 

Onde se localiza o prazer?

 

Na verdade, a sexualidade envolve todo o organismo, inclusive o psíquico! Sendo assim, a excitação e o prazer são uma resposta à estimulação geral, e não somente dos genitais ou da pele.

Aliás, o desejo e a sensação de prazer são influenciados por inúmeros fatores, entre os quais as emoções, o ambiente, a história de vida, os estímulos visuais, olfativos e auditivos.

“O sexo começa e termina mesmo na cabeça. Sem a comunicação entre os neurônios, (…) seria impossível experimentar qualquer sensação, inclusive o orgasmo”,

explica reportagem do Universa Uol.

O prazer sexual está disponível para todos, embora nem sempre aconteça orgasmo. E tanto faz se você é pessoa com deficiência ou não, pois, digo novamente, é assim para todo mundo.

Sem dúvida, ter orgasmo é maravilhoso, mas o prazer não se resume nele. Se a vida é tão rica, por que será que alguns se empenham em limitá-la?

 

Dois dedos sendo introduzidos em uma fruta é algo capaz de provocar desejo sexual simplesmente por causa do que simboliza. Dá o que pensar, não? (Foto: Taras Chernus, Unsplash)

 

Mitos em torno do orgasmo

 

Em primeiro lugar, é fundamental compreendermos que não é obrigatório ter orgasmo para ter prazer

E que bom seria se estivéssemos mais ligados no nosso bem-estar e na nossa alegria do que naquilo que é considerado bom ou “normal”, concorda?

Quando ficamos neurados para ter uma determinada sensação, estamos descartando todas as outras, concorda? Milhões de coisas gostosas podem acontecer, mas estamos tão focados esperando “aquela”, que nem percebemos quanto podemos ser felizes com as que temos à disposição.

 

Qual é a forma certa?

 

Já parou para pensar que nossa forma cultural de encarar a sexualidade e o orgasmo não é a única? Seria muito útil procurarmos informações sobre sexo tântrico, por exemplo, para nos oferecermos outras visões de mundo…

Outro mito que precisamos rever é de que o orgasmo só acontece se a pessoa tiver movimentos e sensibilidade. Pelo que sei, essa visão está equivocada.

A revista “Mente e Cérebro” relata pesquisas que demonstraram que mulheres com tetraplegia resultante de lesão medular podem ter orgasmo. Além disso, artigos na internet, assim como em livros e revistas, relatam casos de pessoas que têm orgasmo sem terem tido relações sexuais.

Curioso, no mínimo. Vale se informar!

 

A afeição é algo individual, assim como o prazer. (Foto: Sharon Mccutcheon, Unsplash)

Varinha de condão made in China

 

Para ser honesta, não vejo muita importância nessas informações, só compartilhei para tranquilizar quem pode precisar delas.

No meu modo de ver, o importante é cada um de nós estar bem consigo mesmo, vivendo uma vida com significado.

Sabe do que mais? Vou adorar se ficar sabendo que você deu uma banana para os padrões sexuais (aliás, para todos os padrões).

Conheça seus gostos, toque seu corpo, não espere que o parceiro use bola de cristal conectada no wi-fi ou alguma varinha de condão fabricada na China.

O que dá prazer é totalmente individual. Lembra-se do filme Intocáveis? Vou te dar uma ajudinha, a seguir.

 

Zonas erógenas, cadê vocês?

 

Em Intocáveis, o personagem principal, Philippe, é tetraplégico e não move nem sente nada do pescoço para baixo. Suas zonas erógenas são as orelhas, e seu prazer está concentrado nesta parte do corpo.

Mas não só…

De forma instigante, o filme nos mostra a relação que ele constrói com uma mulher através de cartas em que falam dos assuntos preferidos de ambos. Assim, eles movimentam o tesão, a vontade de um conhecer o outro.

Certamente, muitos de nós já observaram como podemos mobilizar a atração sexual e apimentar o relacionamento usando fantasias, fala, velas aromáticas, roupas sensuais, massagens, gestos e muito mais! Da mesma forma, o prazer!

O importante é que cada um de nós se conheça o suficiente para saber a melhor forma de viver a própria sexualidade, e também que conheça o parceiro a ponto de saber o que lhe dá prazer, incluindo as palavras que serão pronunciadas durante o tempo em que estarão juntos…

 

Na famosa cena, as orelhas de Phillippe são massageadas

 

Conhecendo o seu jeito…

 

Porém, pode ser que, para você, seja importante ter orgasmo. Evidentemente, não há mal nenhum nisso.

Então, pesquise sobre o assunto, consulte profissionais competentes, conheça melhor seu corpo e descubra o que é possível e o que é bom para si.

Segundo explica Celso Marzano, urologista, sexólogo e terapeuta sexual, para o portal Terra:

“Sexo é um aprendizado constante. Cada relação é diferente, e não é porque você não sentiu determinada coisa até hoje que isso não possa acontecer amanhã”.

 

Birgit, que está no colo de outra pessoa, é contundente: “Quatro rodas embaixo da bunda não excluem a sensação corporal, a beleza e o erotismo, não é?” (Bela foto de Rasso Bruckert)

O papel do parceiro ou da parceira

 

Ainda que a responsabilidade pelo nosso prazer caiba a nós, sem dúvida atingi-lo pode ser mais fácil ou mais difícil dependendo do parceiro ou da parceira. Afinal, um vai movimentar o desejo e o prazer no outro, não é verdade?

Então, podemos concluir que, se com um não foi possível, isso não significa que a dificuldade esteja com você. Portanto, não perca a esperança…

 

Não espere estar pronto/a…

 

Evidentemente, não é preciso ser especialista em nada para ter uma experiência sexual significativa e prazerosa.

O que é preciso, isto sim, é escolher um parceiro ou parceira com quem a gente se sinta bem, em quem a gente confie, pois esses fatores são fundamentais para haver entrega.

Assim, relaxamos, e o prazer acontece naturalmente.

O professor de filosofia Mario Sergio Cortella se saiu com esta, em um de seus livros:

Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não pronta e vai se fazendo.

Então, meu recado final é: não espere estar pronto ou pronta. Comece já!

 

 

Para saber mais:

 

Posts sobre sexualidade e amor neste blog

Cadeirante pode ter vida sexual ativa | G1

 

O que é orgasmo? | Sexo sem Dúvida

Matérias interessantes sobre o Dia do Orgasmo

A ditadura do orgasmo feminino | Portal IG

Por que não consigo ter um orgasmo | Huffpostbrasil

Documentário Netflix sobre orgasmo

 

Instagram da psicóloga Aline Mayumi Kimura [excelentes vídeos e textos sobre sexualidade da pessoa com deficiência]

Janela da Patty [Instagram da Patrícia, que é cadeirante, psicóloga e tem textos e vídeos sobre o assunto]

Instagram da fisioterapeuta pélvica Mônica Lopes [tem conteúdo também sobre a sexualidade da pessoa com deficiência]

 

Clipe da cantora Flaira Ferro exibe rostos de mulheres durante orgasmo

 

 

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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