Lene e Carlos lutam para oferecer ao João uma educação de qualidade, mas esbarram em desafios impostos por editoras de livros didáticos. Leia o texto e compreenda a situação.
Por Laura Martins
Como sempre digo, nossa luta segue enquanto houver uma só criança com deficiência sem acesso a educação de qualidade e em igualdade de condições. Por isso, compartilho com vocês o desafio que os amigos Carlos e Lene estão enfrentando. Eles se empenham em oferecer um atendimento educacional adequado para o filho, João, que teve paralisia cerebral, porém estão esbarrando no descaso das editoras de livros. Segue texto que o Carlos publicou em seu perfil no Facebook esta semana.
Como não fazer inclusão
“A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, Lei 9394, deixa claro que a educação especial significa, entre outras coisas: adaptar, coordenar e estruturar os processos pedagógicos a cada pessoa que está inserida neste ambiente de forma que ela possa vivenciar cada etapa da educação com o máximo de igualdade com aqueles que não vivem a educação especial.
Pois bem, junto com a escola, decidimos utilizar este ano o formato livro digital para o João. Estamos entrando em contato com as editoras para ter acesso (comprar) os livros nesse formato, já que os livreiros não têm esse produto para venda.
As editoras que precisei contatar são de difícil acesso. Os atendentes estão costumeiramente ocupados, e boa parte deles não sabe nada, absolutamente nada sobre os livros acessíveis.
Até agora só consegui ter acesso ao material de uma editora. As outras 4 ainda estão me enrolando. As aulas do João começaram no dia 5 de fevereiro.
Não vou citar aquilo que está escrito na Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, não vou citar aquilo que está escrito no Tratado de Marraquexe, não vou citar aquilo que está escrito na Lei Brasileira de Inclusão. Essas leis são muito mais contundentes, mas o descaso geral das editoras é demonstrado pelo não exercício concreto de uma lei publicada faz 22 anos.
Para vocês terem noção do nível de picaretagem que está expressa no cotidiano das editoras, publico o e-mail que recebi agora. Obrigado, Editora #FTD, por demonstrar como não fazer inclusão.”
E-mail recebido por Carlos (transcrito de acordo com o original, que está na imagem):
Prezada Carlos
Agradecemos o seu contato e pedimos desculpas pela demora.
Devido ao trabalho realizado para o PNLD o nosso Editorial deixou em Stand By, todas as solicitações de Materiais para Alunos com Baixa Visão ou com Necessidades Especiais.
Informamos que este trabalho é executado pelos Editoriais da FTD Educação, no qual estavam totalmente focados para a entrega do PNLD.
Ressaltamos a importância do PNLD para a Educação no Brasil.
As solicitações irão começar a serem processadas/enviadas na primeira quinzena de Março/2018.
Contamos com a compreensão de todos.
Atenciosamente, Central FTD de Relacionamento
Estratégia de marketing
É lamentável que isso seja tudo que uma “central de relacionamento” possa oferecer ao seu cliente: uma resposta padronizada, que nem mesmo mostra preocupação quanto a acertar o gênero do destinatário (“Prezada Carlos”).
Senhores editores, o mínimo que nós, clientes, precisamos é atenção. Estou certa de que poderiam dar mais que isso, oferecendo também empatia. Lamentavelmente, não foi o que ocorreu.
É preciso que todos estejam envolvidos para que a inclusão aconteça. Não estamos pedindo favor, e nem mesmo pleiteando o cumprimento da lei (é um absurdo ter que pedir que cumpram a lei, concordam?). Estamos esperançosos de que compreendam que fazer inclusão é demonstrar inteligência, cuidar do futuro planetário.
Se não conseguirmos focar na inclusão por todas essas razões, podemos nos lembrar de um dado importante. Muitas empresas investiram na conservação da natureza a fim de demonstrar responsabilidade social. Esta foi uma estratégia de marketing que mostrou resultados: as pessoas tendem a adquirir os produtos de organizações comprometidas socialmente. Num futuro próximo, creio que o mesmo acontecerá com as que apoiarem a inclusão. Aliás, corrijo: já está acontecendo.
Por que não aderir?
O que podemos fazer?
Talvez o Carlos e a Lene optem por judicializar. Mas será que poderíamos ajudar nesta causa?
Não a eles, mas a todas as pessoas que merecem uma educação de qualidade e contam com a atenção das instituições envolvidas.
Minha sugestão: compartilhem a postagem nas redes sociais marcando a #FTD. Quem sabe ela resolve fazer a diferença?
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