Sexualidade da pessoa com deficiência | Encarando estereótipos

A sexualidade permanece sendo um tabu, e dizem até que falamos muito mais de sexo do que o praticamos.

Em se tratando da pessoa com deficiência, a tendência é que a sociedade nos infantilize e até nos considere anjos. Vamos combinar: nem criança nem anjo transam, né? Anjo nem tem sexo…

Sem dúvida, esta situação é motivo de incômodo e constrangimento para muitos de nós. Então, o que está a nosso alcance fazer para mudar isso?

 

Um homem e uma mulher se beijam. Ele está à direita, assentado na cadeira de rodas. Ela está ajoelhada à esquerda, segurando duas rodas de cadeira, sendo uma de cada lado.

(Foto: Rasso Bruckert)

 

Construções culturais


Como sabemos, a vivência da sexualidade, assim como a visão que se tem da pessoa com deficiência não passam de construção social. Cada sociedade lida com a sexualidade à sua maneira, da mesma forma que cada uma se relaciona com a questão da deficiência ao seu modo.

Em nosso país, como em tantos, a sexualidade da pessoa com deficiência reúne dois temas carregados de preconceitos e distorções.

Ainda que isso nos incomode, e com razão, certamente não se muda uma cultura de um dia para o outro. Ao contrário disso, é preciso empenho para a desconstrução de formas de pensar.

Porém, penso que há algo que podemos fazer já, e que só depende de nós.

Certamente, está a nosso alcance começar por encarar nossos próprios tabus, medos e preconceitos. Afinal, quem é que não os tem?

E, então, estaremos iniciando esse trabalho de desconstrução por meio de mudanças pessoais, buscando ser quem somos, abrindo mão dos padrões e estereótipos.

Este é o meu convite!

 

Andrew Morrison-Gurza, da Deliciously Disabled, quer que as pessoas falem sobre a sexualidade das pessoas com deficiência

 

Alguns padrões nos relacionamentos

 

Sem dúvida, um dos padrões comuns em relacionamentos íntimos é a crença de que o parceiro tem de adivinhar nossos gostos, jeitos e preferências. Nas relações vividas pelas pessoas com deficiência não é diferente.

Dessa forma, colocamos a responsabilidade por nosso prazer nas mãos da outra pessoa, esperando que ela faça por nós o que cabe, na verdade, a nós. Não é difícil imaginar como isso causa sofrimento e desentendimentos.

Porém, se queremos uma vida com independência e autonomia, isso precisa estar presente também nas relações amorosas. Afinal, elas não são um reino à parte.

 

Como fazer?

 

Antes de mais nada, é difícil para a maioria se libertar de padrões aprendidos. Sendo assim, conversar com o parceiro ou a parceira, descobrir juntos o que faz bem para ambos é algo que, em grande parte dos relacionamentos, precisará ser aprendido.

Então, cabe àquele que for mais consciente dar o primeiro passo, concorda?

Penso que vale a gente se fazer perguntas, se tocar, se olhar no espelho para descobrir o que dá prazer. E, assim, de forma a se responsabilizar por si mesmo/a, poder comunicar ao outro quem somos e o que descobrimos sobre nós.

Tudo isso, certamente, abrindo mão do medo e da vergonha de não estarmos dentro dos padrões.

Diz pra mim: quem é que está dentro dos padrões?

 

Que tal dar uma banana para os padrões?

Perguntando a si mesmo/a

 

Só para ilustrar, seguem algumas sugestões para que cada um de nós possa se fazer perguntas. Aliás, não é preciso que a gente se pressione por respostas, mas que vá respondendo à medida que progredir na auto-observação…

♥ O que eu gosto, o que é possível para mim? Onde está escrito que tenho de fazer do jeito que os outros fazem? Que falta de criatividade, não?

♥ Qual é meu jeito de sentir? Onde gosto de ser tocado? O que me dá prazer?

Quem de nós sabe responder a essas perguntas? Acredito que não muitos…

Todo ser humano é capaz de ter prazer, embora cada qual tenha seu jeito de encontrá-lo.

Qual é o seu modo, e qual é o modo do outro? Acredite: desde que seja respeitoso com seu parceiro ou sua parceira, não haverá nada de mal com seu próprio jeito.

 

Sempre presente

 

Tudo o que fazemos no mundo é por intermédio do corpo, certo? Nem pense em dizer que pensamos sem usar o corpo, porque o cérebro também é parte dele.

Por mais desafiador que seja, precisamos estar bem com o corpo para que nossa sexualidade seja vivida de modo satisfatório.

Ter satisfação sexual tem tudo a ver com autocuidado, autoaceitação e autoamor.

E você, o que pensa a respeito? Deixe aí nos comentários!

E que cada um de nós possa ser feliz como é!

Um abraço apertado,

Laura

 

Viver a sexualidade com prazer pode ser uma questão de cada qual encontrar o seu jeito (Imagem extraída daqui)

 

Para saber mais:


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Posts do Cadeira Voadora sobre sexualidade e amor

Valentine’s Day, sexo e afetividade da pessoa com deficiência | Youtube Cadeira Voadora

New Mobility | Lista para artigos sobre sexo e pessoas com deficiência (em inglês)

Delicious Disabled Consulting

Yes, we fuck! (Conteúdo para adultos, com cenas de sexo. Trailer de documentário sobre a vida sexual da pessoa com deficiência)

Livro As Sessões

 

Trailer no Youtube

 

As Sessões

 

 

Livro “As sessões”

 

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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