Museu de Território Caminhos Drummondianos, em Itabira, MG

Tive a feliz oportunidade de conhecer o Museu de Território Caminhos Drummondianos há alguns anos, e agora vou contar tudo aqui. Assim, você poderá avaliar a viabilidade de conhecê-lo tendo alguma deficiência. Vamos ver como é a acessibilidade? Ah, também te indico hotel, ok?

Este é um programa instigante para os fãs do grande poeta Carlos Drummond de Andrade, mas não só. Todos que se interessam pelo turismo cultural gostarão da experiência.

 

Escultura Fazendeiro do Ar, do artista itabirano Genin, está presente nos Caminhos Drummondianos (Todas as fotos pertencem ao meu acervo, exceto a de Drummond, a seguir)

 

Drummond e eu nascemos em Itabira

 

“Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira.”

Estes versos do poema Confidência do itabirano, de Carlos Drummond de Andrade, servem também para mim. Ele nasceu em Itabira, em 1902. Eu nasci em 1966, e deixei a cidade com 5 anos, em busca de socorro médico em Belo Horizonte, onde ainda vivo.

Em 2012, minha mãe estava completando 70 anos e fazia questão de comemorar nessa cidade, cercada dos irmãos, sobrinhos, primos, amigos e afilhados queridos, que permanecem vivendo lá.

Aproveitei a viagem para conhecer os Caminhos Drummondianos, do qual a maioria de vocês provavelmente ainda não ouvir falar.

Não seja por isso, pois vou te contar tudo com detalhes. Vamos logo?

 

Drummond é um dos maiores poetas brasileiros. Irônico, lírico, perspicaz, profundo.

 

O que é um museu de território?

 

Amo arte e cultura, por isso sempre visito museus que reúnem algum acervo digno de nota. Mas, para o senso comum, museu é “lugar de coisa velha”, o que é uma perspectiva lamentável.

Na verdade, o museu é um guardião de registros históricos, culturais e artísticos, não necessariamente antigos, e a proposta é exibir objetos relevantes, com os quais muitas vezes o visitante pode interagir.

museu de território não é um museu tradicional. Ele é criado em determinada região e segue uma lógica específica de visitação, podendo ser planejado de acordo com fatores históricos ou geográficos.

Agora, vamos conhecer o museu de território dedicado ao poeta Drummond, que foi instalado nos lugares por onde ele passou!

 

Foto contém áreas do Memorial CDA

Memorial Carlos Drummond de Andrade: Pico do Amor, entrada do Memorial e primeiro salão

 

Museu de Território Caminhos Drummondianos

 

Estive no Museu em 2012, portanto vale a pena confirmar todas as informações por telefone ou e-mail antes de pegar estrada, combinado? Este post estava no antigo endereço do blog, porém ainda não havia tido oportunidade de transferi-lo para cá…

Após falar dos locais que visitei, ainda compartilharei com você informações sobre a cidade e o hotel onde fiquei hospedada.

Os Caminhos Drummondianos formam um museu de território que registra a relação entre Drummond e a cidade de Itabira, onde nasceu e viveu por muitos anos.

Para você entender melhor como funciona, foram espalhadas, pela cidade, placas de ferro contendo poemas do ilustre itabirano. Cada um deles nos revela um local, uma personalidade ou um fato que fez parte da vida do poeta em sua cidade natal.

Para mim, um passeio desses não tem preço, pois é acesso a Memória com maiúscula. Afinal, além de termos acesso a um rico acervo, tanto ele quanto as narrativas chegam até nós com poesia, sensibilidade e criatividade.

 

Sinta a presença do poeta por lá

 

Se pensarmos bem, quantos lugares já visitamos e voltamos sem conhecer a história por falta de uma iniciativa desse tipo? Não seriam mais ricos nossos passeios, caso houvesse registros como estes?

Sou suspeita para falar do que se refere a Drummond, porque me identifiquei com o poeta desde que me entendo por gente. Agora, que tenho uma compreensão mais madura da vida, ela faz ainda mais sentido para mim.

Por essa razão, me emocionei percorrendo os vários locais, principalmente a Fazenda do Pontal e o Memorial Carlos Drummond de Andrade, que são os que você verá aqui.

Para ser honesta, senti bastante a presença do poeta por lá.

E, felizmente, é um passeio barato, pois as atrações são todas gratuitas. Nossos gastos se limitam a transporte, hospedagem e refeições.

Mas preciso te contar que este foi um presente que ganhei dos meus tios Lourdes e Cleverson. Eles me convidaram a ir e, com o maior carinho e a maior disposição do mundo, percorreram vários pontos do caminho comigo e minha amiga Sônia, que também se emocionou com o passeio.

Vamos conhecer os passos que visitamos?

 

Nós com o Menino Drummond e detalhes da casa e do madeirame, na Fazenda do Pontal

 

Fazenda do Pontal

 

A antiga fazenda pertenceu ao pai de Carlos Drummond de Andrade e inspirou o poema Infância.

Conta o site Viva Itabira que ela foi demolida pela empresa Vale na década de 1970 para a construção de uma barragem de rejeito de minério. Mais tarde, foi reconstituída no bairro Campestre, utilizando-se parte do material original guardado por três décadas, ou seja, janelas, portas, parte do assoalho e do forro.

Seguindo um projeto de reconstituição que teve acompanhamento do IEPHA MG, o imóvel tem pilares e vigas de estrutura metálica, além de parte do madeirame original. Foi instalada rampa, assim como elevador, para acesso de pessoas com deficiência. Porém, quando estive lá, ele estava desativado.

Ainda que seja uma reconstrução, tive uma gostosa sensação de voltar no tempo. Entretanto, infelizmente, havia traços de descuido em toda a área. Entre outras, encontramos uma televisão moderna sobre os móveis de época, e havia arames no Drummonzinho, para impedir que visitantes pendurassem as crianças as crianças na escultura a fim de tira fotos… Dá para acreditar?

Não havia folder, livro histórico à venda, nenhum cartão. Além disso, a moça que nos recebeu foi atenciosa e simpática, mas percebemos que não lhe tinha sido dado treinamento para oferecer informações.

Mesmo assim, valeu a visita. Até porque a escultura do menino Drummond, do artista itabirano Genin, é cativante, e nem é preciso subir nela para tirar foto… hahaha

 

Memorial: máquina de datilografia do poeta, escultura no gramado, um dos lados da construção

 

Memorial Carlos Drummond de Andrade

 

O Memorial está localizado em um ponto privilegiado da cidade, na encosta leste do Pico do Amor, da qual se tem uma bela vista.

Estacionamos o carro no local [cheque se ainda há essa possibilidade] e seguimos por uma passarela até o portão de entrada para o Pico. A partir do portão, seguimos por outra passarela até a pequena construção, que parece singela, mas é elegante, inventiva e tem projeto do ilustre arquiteto Niemeyer, amigo de Drummond.

Outra possibilidade é, a partir do portão, pegar a trilha com calçamento que segue serpenteando até o mirante do Pico. De qualquer modo, os caminhos são possíveis para cadeirantes, inclusive o que leva à Concha Acústica, que fica mais abaixo.

Uma face do Memorial recebeu parede de vidro, o que proporciona uma bela vista da cidade enquanto se visita a exposição. Você terá acesso a um grande acervo, incluindo a primeira máquina de datilografia do poeta, uma coleção de cartas, prêmios literários e obras de artes produzidas em sua homenagem.

Atrás da construção, à direita, está outra bela escultura do artista Genim, representando Drummond. O nome é Fazendeiro do Ar.

Lourdes, eu e Sônia em frente a uma das placas, com o mirante ao fundo. Sônia “conversa” com o poeta. Face do prédio com vista para a cidade.

 

O espaço tinha alguma acessibilidade para cadeirantes, mas o banheiro não era acessível à época. Inacreditavelmente, não havia funcionários para nos guiar, mas apenas um vigia. Portanto, nada de informações para visitantes, nem guias, nem folders, nem nada. Tomara que isso tenha mudado, já que o local oferece tanta riqueza cultural.

Não deixe de subir até o mirante do pico, nem de ler os poemas inscritos nas placas pelas quais passar!

 

Como é a cidade?

 

A topografia de Itabira não favorece a vida dos cadeirantes, pois são muitas ladeiras. Outras dificuldades para acessar as placas dos Caminhos são o trânsito difícil, a falta de áreas de estacionamento e as calçadas estreitas na parte histórica.

Minha dica para você é a seguinte: planeje fazer o passeio num domingo. Assim, você será um dos poucos no centro histórico e poderá circular à vontade de carro ou “a pé”. Mas não se esqueça de checar se os pontos turísticos estarão abertos, porque, você sabe, essas coisas mudam…

 

Hotel onde me hospedei

 

O Premium Executive Hotel era, à época, o único com condições de receber cadeirantes.

O hotel tem rampa, porém não me recordo se a inclinação era a recomendada. A vaga destinada à pessoa com deficiência fica na porta, mas há também um estacionamento coberto ao lado, que estava incluído na diária.

Havia dois quartos com adaptações para cadeirantes, segundo me informaram. O tamanho era razoável para um hotel padrão 3 estrelas. Já o banheiro era bem amplo, plano, e a área de banho tinha fechamento em acrílico que se abria o suficiente para a passagem da cadeira de rodas.

Não havia barras de segurança, nem cadeira de banho, e a pia era alta. Conversei com um dos donos do hotel, que me garantiu que iria instalá-las em breve. Os funcionários eram muito gentis e prestativos.

O farto e variado café da manhã era servido na padaria ao lado e estava incluído na diária. Sua ligação com o hotel se dá pelo lado externo, mas não era preciso descer a rampa para alcançá-la. Havia banheiro com adaptações.

 

Minha avaliação do passeio

 

Sem dúvida, os Caminhos Drummondianos fizeram com que Drummond crescesse em minha memória, ganhando vivacidade. Graças ao contato com o acervo e com os lugares por onde ele passou, hoje ele é uma presença cada vez mais afetiva e poética.

o Horizonte e região, mas também caso venha passar uma temporada maior na capital mineira. E, caso possa permanecer o fim de semana na cidade, tanto melhor, porque assim terá tempo para conhecer tudo sem correria.

Abaixo, mais fotos, indicação de links e alguns vídeos com interpretação de poemas.

Feliz Dia “D” pra você!

 

Casa colonial no centro histórico de Itabira

 

Para saber mais:

 

Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade

Projeto Memória | Carlos Drummond de Andrade

Drummond no site do Instituto Moreira Salles

Dia Drummond 2020 | Comemoração e cursos on-line

Os poemas registrados nas placas

 

 

 

About Laura Martins

Laura Martins criou o blog Cadeira Voadora em 2011 para compartilhar suas experiências de viagem em cadeira de rodas. Para ela, viajar desenvolve inúmeras habilidades, nos faz menos intolerantes por conviver com as diferenças e ajuda a construir inclusão, porque as cidades vão ficando mais preparadas à medida que as pessoas vão se fazendo visíveis. Entre em contato pelo e-mail contato@lauramartins.net.

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