Helen Keller é bastante conhecida como exemplo de superação, mas este texto não é sobre isso. Aqui, não vou romantizar a desafiadora vida desta escritora, conferencista e ativista norte-americana que ficou surdocega* aos 2 anos. Na verdade, o que desejo é lembrar seu precioso legado, importante ao ponto de sua data de aniversário ter se transformado no Dia Internacional da Pessoa Surdocega. Vem comigo, porque a vida não é só isso que se vê!
*Segundo Salvatore Lagati, “Surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. O termo hifenizado indica uma condição que somaria as dificuldades da surdez e da cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma diferença, uma condição única e o impacto da perda dupla é multiplicativo e não aditivo.”
Helen Keller: autotransformação radical
Helen Keller nasceu em 1888, no dia 27 de junho. A data é tão distante da atual, que certamente fica difícil imaginar como era o mundo da pessoa com deficiência à época. O que dizer, então, da vida de uma garotinha que não enxergava, nem ouvia, e por isso não tinha aprendido a falar?
No entanto, aos 88 anos, quando deixou este planeta, Keller tinha uma coleção de bons momentos vividos, os quais relata nos livros que escreveu. Neles, ficamos conhecendo sua sensibilidade notável, assim como sua perspicácia.
Ela proferiu palestras em mais de 35 países, incluindo o Brasil (confira abaixo, no link para a Wikipédia). Foi ativista pelos direitos das pessoas com deficiência e também pelo voto feminino. Creio que posso afirmar que Keller foi uma das pessoas responsáveis por mudar a forma como as pessoas com deficiência eram vistas.
Um nome importante: Anne Sullivan
Sem dúvida, não podemos falar de Helen Keller sem mencionar sua professora Anne Sullivan.
Esta, com apenas 20 anos, assumiu a responsabilidade de educar a menina que não ouvia, não falava e não enxergava. E que, além disso, tinha o comportamento agressivo, certamente como resultado de não conseguir se comunicar e viver enclausurada em seu próprio mundo.
Sullivan, que também tinha deficiência visual, criou um método para se comunicar com a menina, e este foi o estopim para décadas de trabalho produtivo.
Foi com fascinação que li pela primeira vez este trecho, no livro “She: A Celebration of 100 Renegade Women”:
Quando a água fria jorrou da bomba para a mão direita de Helen Keller, Anne Sullivan desenhou as letras W-A-T-E-R na mão esquerda de Keller. Usando esse método, ela aprendeu mais de 30 palavras no final do dia.
Exemplo de vida?
Para começo de conversa, nada de falar de exemplo de superação nem de inspiração para a vida.
No meu entendimento, assim como no de muitas pessoas, essa atitude tende a romantizar situações graves, suavizar problemas sociais e tirar o foco do que é, de fato, relevante.
Por outro lado, realmente Keller foi uma pessoa fora da curva, e, sem dúvida, temos muito a aprender com ela, assim como com sua professora. Mas, afinal, todos temos a aprender uns com os outros, não?
Sua vida, seu desenvolvimento como pessoa, assim como seu ativismo demostram que as coisas podem não ser o que parecem, e que muito se pode fazer quando aparentemente não se pode fazer nada.
Aparências que enganam
Keller, ela própria, é a demonstração de que as aparências enganam. Ou seja, para além de qualquer discurso, sua vida comprovou essa tese.
Comprovou que não há casos perdidos, que muito pode ser feito quando se tem fé nos potenciais humanos, criatividade e empenho amoroso.
Por isso, a meu ver, ela é importantíssima quando estamos falando de preconceito contra as pessoas com deficiência, como se estas fossem in-capacitadas ou d-eficientes…
Você, provavelmente, já sabe que o nome disso é “capacitismo”, não é mesmo?
Não se pode fazer nada?
Keller tinha apenas 19 meses quando contraiu a febre que a deixou surdocega*. Depois de tudo tentar, sem sucesso, seus pais a levaram ao Instituto Perkins para Cegos, em Boston, e foi lá conheceram Sullivan, de apenas 20 anos.
A moça penetrou na solidão da condição de Keller, ensinando-a a ler, a assinar e a falar. Finalmente, ela poderia se comunicar e interagir com o mundo.
Keller saiu do casulo e voou longe. Assim, passou a vida defendendo os direitos das pessoas com deficiência, além de defender o pacifismo, o sufrágio das mulheres, os direitos reprodutivos e os dos trabalhadores.
Também fundou a Helen Keller International, uma organização para cegos, e ajudou a fundar a União Americana das Liberdades Civis, trabalho que lhe rendeu a Medalha Presidencial da Liberdade e vários diplomas honorários.
Celebrando os potenciais
Helen Keller morreu em 1º de junho de 1968, deixando, sem dúvida, um grande legado.
Apesar disso, muita gente ainda a desconhece. Acho uma pena, pois, como vimos, é possível aprender muito com seus feitos e sua instigante visão de mundo.
Então, para finalizar, incentivo você a conhecer mais sobre ela e, quem sabe, até narrar sua história a outras pessoas. Certamente, vale a pena trazer a energia de Keller para nossas vidas e celebrar a incrível capacidade do ser humano de atingir todo o seu potencial.
Como Helen Keller aprendeu a falar
[Dica de Cinema] A Linguagem do Coração
Neste filme, você terá a oportunidade de conhecer melhor a história de Helen Keller e Anne Sullivan. Leia uma resenha aqui.
Autobiografia
A História da Minha Vida | Helen Keller
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